1 - O reencontro

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A história é uma adaptação de outra já publicada. Desfrutem!

Rio de Janeiro, 1870

Chovia. Era uma ironia que aquele momento tão decisivo se desse numa noite de chuva. Talvez houvesse motivo para a coincidência, desde muito chovia no coração e na alma da jovem. E quando se chove dentro de si, pouco importa o clima que faça lá fora. Tinha 23 anos a bela e cobiçada moça. Era tarde para que uma moça de família seguisse solteira, mas Altagracia era muito independente para se preocupar com as convenções, sempre fora e agora era mais. Apesar da pouca idade, sabia bem o que queria. Sua segurança e autonomia eram quase um escândalo naquela sociedade machista e hipócrita à que ela assomara há pouco tempo, mas que conhecia meticulosamente bem e pela qual não se intimidava.

Há alguns poucos dias havia voltado a residir no Rio de Janeiro, mas para a sociedade, era a recém-chegada neta do Visconde de Paracambi que agora frequentaria os salões da sociedade fluminense. Todos estavam curiosos por conhecê-la e se surpreendiam por sua figura. Ninguém conhecia seu passado. Acreditavam que era uma doce e ingênua moça comum do interior que chegava para debutar na corte. Mas de comum Altagracia não tinha nada desde a aparência até seu caráter firme e desconectado de seu meio. A curiosidade correu pelos salões, a notícia se espalhou, todos comentavam como seria a mulher que arrebatou-lhe o noivo à Jimena, a filha do Barão de Vasconcelos.

Desde que Saúl rompeu com a herdeira dos Vasconcelos, depois de quase um ano de compromisso e promessa de casamento, muito se falava sobre o assunto na cidade. Logo souberam que Saúl havia rompido com Jimena e se comprometido com uma riquíssima herdeira de Paracambi. A fama e curiosidade para a novidade da herdeira só não era maior que o mexerico sobre o fraco caráter do Aguirre e como se deixava levar por um bom dote.

Sabiam que, apesar do sobrenome imponente, à sua família não restava nada. Uma casa modesta, não era simples, mas tampouco exalava opulência, e uma pequena propriedade no interior de onde a duras penas alcançavam alguns rendimentos. A isto estava resumido o patrimônio da família. Saúl aos 30 anos, era o responsável por sua mãe e sua irmã que muito se esforçavam para que ele mantivesse a pose nos salões como homem de família respeitável.

Seu salário na repartição era ínfimo e pouco condizente com seu padrão de vida. Adorava os bailes, as festas, a opulência que quem não pertence à corte tem que pagar caro para manter-se apresentando sua figura nos salões. Era bonito e de aspirações políticas o que agradava ao Barão de Vasconcelos. Foi ele primeiro que acreditou que Saúl seria o marido ideal para sua filha Jimena e muito fez para enredá-lo nesse compromisso. Saúl titubeou, mas não teve problema em colocar-se como uma propriedade mais para resolver seus problemas. Aos seus olhos, o que mais chamou atenção em Jimena foi o dote de 30 contos de réis e a privilegiada posição de seu pai dentro da sociedade. Para Saúl, esse era um bom motivo para chamar de sua dona uma mulher e casar-se com ela, sobretudo, depois que perdeu a pista de Altagracia.

Entretanto o compromisso só durou até que o genioso rapaz foi procurado por Lázaro Irajá sobre um possível compromisso com uma rica herdeira de Paracambi da qual muito já se falava. Não demorou dois dias em responder à Lázaro sobre a possibilidade de comprometer-se com aquela mulher conhecida como "La Doña de Paracambi", alcunha que conseguiu por causa da herança espanhola de sua família. Ele não conhecia os dotes físicos da jovem, mas ele nunca concebera o casamento como uma ideia romântica e o dote de 100 contos de réis significava a resolução imediata de todos os seus problemas financeiros nos quais ele havia se metido. A única vez que havia visto algo de romantismo no casamento foi quando esteve com Altagracia, mas, a verdade é que nunca pretendeu de verdade casar-se com ela e agora, o dote e a posição social eram tudo o que lhe importavam. Se aquela era a música que tocava a vida, porque não valsar em seu ritmo?

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