"A sinestesia é uma condição neurológica do cérebro que interpreta de diferentes formas os sinais percebidos pelo nosso sistema sensorial. É uma confusão neurológica que provoca a percepção de vários sentidos de uma só vez. Essa condição não é considerada uma doença mental, e sim uma forma diferente que o cérebro tem de interpretar os sinais. Uma em cada duas mil pessoas têm sinestesia, e essas pessoas podem ver sons, sentir cores ou o paladar das formas."
Keith distraiu-se enquanto traçavas as delicadas escamas azuis do tritão que imaginava. Depois pensou em fazer algumas guelras na região da mandíbula e talvez seus olhos combinassem com as escamas. Gostava da cor azul, principalmente de seu tom anil, que era como uma coberta fofinha. Olhou para o desenho e decidiu pintar a pele de seu tritão com a mesma cor dos olhos de sua amiga Pidge – amendoados, como o barulho de uma catarata – e procurou pelo lápis em seu estojo, deixando sem querer com que sua borracha caísse no chão.
Quando abaixou-se para pegá-la, uma mão já se esticava em sua direção com a borracha em sua palma. O coreano pegou o objeto e quando ergueu os olhos para agradecer sentiu o coração pular uma batida. Keith poderia afirmar que aquela era a pessoa mais bonita que já vira na vida: com a pele acobreada como o cheiro de tangerina, um sorriso gentil estampado no rosto que fazia as bochechas de Keith esquentarem, as discretas sardas nas maçãs do rosto e na ponta do nariz e os olhos mais azuis que já tivera o prazer de ver.
Aquele garoto parecia reconfortante como uma noite de filmes embaixo dos cobertores fofinhos no frio. De repente notou que ainda estava um pouco inclinado de quando fora pegar a borracha, e por isso ficava mais perto do que deveria do garoto, e céus como aquele cheiro macio impregnava nas narinas de Keith, fazendo com que seu cérebro se embaralhasse.
"Você cheira a azul." deixou escapar, débil. Quando o outro o encarou com uma expressão de diversão e confusão, teve a certeza de que estava com o rosto escarlate. "O-obrigado, foi isso que eu quis dizer."
O garoto deu uma risadinha que pareceu a Keith como roxa-amarelada.
"Jeito estranho de agradecer" comentou, olhando para o menor com curiosidade. O coreano abaixou os olhos, envergonhado "Eu gostei."
Keith o encarou, surpreso, e o viu puxar uma cadeira e sentar-se ao seu lado.
"O que é isso?" indagou, apontando para o desenho em cima da mesa. O garoto apressou-se em virá-lo, sentindo as bochechas ficarem vermelhas outra vez. Ele deve achar que sou um camaleão.
"É só um desenho."
"Posso ver?" timidamente, Keith deu o esboço de tritão para o garoto reconfortante. Apesar de achar que o desenho não era um de seus melhores, por algum motivo estava ansioso para saber o que o menino acharia de seu tritão.
"Foi você quem fez?" o coreano apenas anuiu, e viu o outro arregalar os olhos. "Sério? Cara, que incrível! Você é muito talentoso! Eu não consigo desenhar nem uma batata!"
"Batatas são difíceis de desenhar..." respondeu, com um sorriso tímido no rosto e as bochechas rosadas. O cometário arrancou outra risada roxa-amarelada do garoto. "Ehm, qual é o seu nome?"
O maior deu um sorriso travesso e piscou para Keith:
"Meu nome é Lance, mas você pode me chamar a qualquer hora."
Aquela frase era como a textura de casca de limão: embaraçosa. E pela trigésima vez no dia, Keith corou. Ele não quer me ver na minha cor natural, não é possível. Decidiu ignorar a cantada e apresentar-se.
"Sou Keith."
"Então, Keith, será que-"
"LANCE!" o adolescente foi interrompido pelo urro do (Keith imaginava ser) cozinheiro, que não parecia muito contente com o que for que Lance tenha feito. "Pare de flertar com clientes e venha buscar estes pedidos."
"AGORA!" ele berrou novamente quando o de olhos azuis deu indício de protestar. Ao ouvir os berros de seu (provavelmente) chefe, Lance ergueu os braços em rendição.
"Já vou!" urrou de volta e voltou a encarar Keith, que estava extremamente confuso. "Agora, por que não me empresta seu celular?"
"'Pra quê? Você trabalha aqui?" indagou, mas entregou o celular para o moço.
"'Pra eu anotar meu número nele, e sim, eu trabalho aqui. Eu apenas... Me distraí um pouquinho com certos olhos violetas e o Hunk – ele é um cara legal, só está um pouco estressado por causa do trabalho hoje – aparentemente não gostou disso." explicou-se, enquanto digitava no celular do coreano, e antes que Hunk pudesse gritar com ele oura vez, ele já havia devolvido o celular para Keith, e com outra piscadinha, despediu-se: "Até mais, mullet-boy."
E antes de desaparecer dentre as portas da cozinha, Keith só teve tempo de pensar que aquele apelido parecia o gosto de um caramelo doce demais: irritante.
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sinestesia
FanfictionKeith está em uma cafeteria desenhando um tritão quando um moço que cheira azul faz a gentileza de pegar sua borracha que ele acidentalmente derrubou no chão. [klance - fluffy - universo alternativo - oneshot] copyright © cvpsgranger