Parte 1

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Olhei para Alice mais uma vez enquanto entrávamos na rua onde a casa da sua avó materna estava. Ela havia dormido quase todo caminho de São Paulo até a pequena cidade do interior de Minas, mas assim que a placa da cidade apareceu, ela despertou completamente animada. Há poucos dias eu havia retornado de Londres e nós tínhamos voltado – sabe lá Deus como! A formatura tinha sido o primeiro dos muitos dias cheios.
Quando a mãe dela pediu que ela viesse para casa de sua avó, ela logo disse que me levaria junto. Apesar de tentar dizer com gestos para ela que eu não iria, ela fingiu não ver. Sabia que a mãe dela não era a maior das minhas fãs e com certeza tinha feito minha propaganda para toda família. Saber que Jonas – pai de Alice – estaria lá ajudava, mesmo que isso significasse a presença de Helena e o seu filho dentro da barriga – muito perto de nascer já.
–Não se preocupe. – Alice coloca sua mão sobre a minha – Eles vão amar você.
–Posso fazer todos me amarem, mas sua mãe sempre vai me detestar. – ri.
–Minha mãe não te odeia... Ela só não gosta muito de você.
–E isso é maravilhoso, não é? – zombo enquanto estacionava o carro – Minha sogra não gostar muito de mim.
–Ela só...
–Alice, você tá em vantagem aqui já que não tem sogra. – permaneço olhando para frente – E praticamente não tem sogro.
–Desculpa.
A mágoa em sua voz me fez sentir mal. Eu odiava magoá-la, mesmo que por alguns instantes.
–Desculpa... – aproximo-me dela – Eu só estou nervoso.
–Tudo bem. – tocou meu rosto com um sorriso nos lábios – Eu amo você demais para deixar essas pequenas coisas entrarem no caminho.
–E eu amo você, Bob Esponja. – começo um ataque de beijos em seu rosto e pescoço.
–Nicholas, para! – começa a rir – Você vai acordar a vizinhança inteira!
–Você que vai. – murmuro em seus lábios.
Ela sorriu e me puxou para um beijo. Eu retribuí agradecendo mentalmente a qualquer que fosse o motivo para estarmos juntos novamente. Alice era o amor da minha vida e disso eu não duvidava, mesmo que ela tivesse negado meu pedido...
–Nós temos que entrar. – sussurro sem me desvencilhar dela.
–Eu sei. – sorri – Quero ver o que minha vó vai dizer de você.
–Espero que ela goste de mim e encha minha barriga de pão de queijo. – brinco.
Alice riu e abriu a porta. Saí do carro sentindo o vento gelado arrepiar minha pele. O verão já havia começado, mas isso não impedia a temperatura de estar abaixo dos vinte graus ali. Alice estava com um vestido florido e andava como se estivesse no calor de Palmas. Maravilha! Minha namorada conseguia andar em ambos extremos de climas e eu mal conseguia aguenta um vento gelado!
–Tudo bem? – Alice estende a mão e eu enlaço nossos dedos.
Concordo com medo de bater o queixo se tentar falar. Ela dá um risinho baixo e caminhamos até o portão da casa – que está aberto – e vamos diretamente até a porta. A casa está extremamente silenciosa, apesar das luzes acesas. Assim que entramos somos recebidos com gritos e vivas. A família inteira de Alice está ali, desde os parentes que já conheço até alguns que nunca vi. Eu olho para ela sem entender porque toda aquela festa apenas por nossa chegada.
–Ah, querida! – uma senhora de cabelos brancos com traços italianos vem abraçar minha namorada – Estamos tão felizes!
Alice sorri e desvencilha-se do abraço.
–Vovó, pode me explicar o que está acontecendo? – pergunta confusa.
–Ah, claro! Estamos comemorando o seu noivado! – bateu palmas.
–Meu... – olhou para mim enfurecida.
–Não tenho nada a ver com isso. – levantei as mãos em minha defesa.
–Vovó, quem foi que disse que eu fiquei noiva?
–A noiva do seu primo Silas, Ana, ouviu uma de suas amigas conversando com o namorado sobre o pedido que o Nicholas fez e acabou revelando para gente assim que chegou. – explicou – Ela não fez por mal, meu amor. Só queria que nós fizéssemos algo especial para sua chegada.
–Acho que convidar todos os meus tios, primos e parentes até de quarto grau foi demais. – murmura e cruza os braços.
–E você? – a avó de Alice me surpreende com um abraço apertado – Nem preciso te conhecer para dizer que você é um ótimo rapaz!
–É ótimo conhecer a senhora. – digo com dificuldade quando ela me solta do aperto.
–Pode me chamar de vovó, querido. – aperta minhas bochechas e nos chama para cumprimentar todos.
Passamos quase meia hora cumprimentando a imensa família de Alice. Eu vi que seu sorriso estava sendo extremamente forçado. Não sabia como, mas tinha que nos tirar daquela situação. Era exatamente essa reação que ela queria evitar. Eu entendia sua posição de não aceitar. Ela foi bem clara ao dizer que não aceitaria se casar comigo, mas que isso não significava que nosso compromisso era menos importante que o de duas pessoas casadas.
–Nick! – ouvi a voz de Jonas.
Virei-me para cumprimenta-lo.
–É bom te ver. – sorriu.
–Olá, Nicholas. – Helena me cumprimentou.
Sua barriga estava... Nossa! ENORME!
–Olá! – sorri – E quando vamos ver esse bebê?
–Nos próximos dias. – Jonas sorriu e olhou para ela.
–Quero fotos dele assim que estiver nesse mundo. Só não mandem fotos do parto ou com muito sangue.
Nós rimos.
–Acho que eu terei que mandar as fotos do parto. – ouvi a voz Lúcia, mãe de Alice.
–Não faz isso, sogra. – fiz uma careta triste.
–Ok. – suspira e aponta um dedo para mim – Só porque você finalmente se acertou com minha filha.
Olhei para Alice, que estava conversando com Ana, e sorri.
–Foi a melhor coisa que fiz, sogra.

"All I want for christmas is you..." - Conto de Natal #NicileOnde histórias criam vida. Descubra agora