Brinde de Sangue

104 2 0
                                    


Inês havia recebido um inusitado convite para aguardar a chegada de um novo ano numa festa requintada. Chegaria atrasada. Depois da meia noite. Aos vinte e um já não se importava com Réveillons desde a perda dos pais.

A moça se arrumava frente ao espelho da penteadeira, tentava manter os cachos dos cabelos bem armados, como gostava.
Estava hesitante ao ver-se com aquele vestido à rigor. Pois achava que aquilo não lhe combinava. Contudo o corpo esbelto de pele negra ficara ainda mais elegante na roupa, apesar de ainda lhe faltar os acessórios e a maquiagem.
Passava o batom quando repentinamente veio a escuridão.

Tomou um pequeno susto e xingou.
A luz no quarto, única acesa na casa de dois andares, repentinamente se apagara. Como sabia estar sozinha na residência só podia ser uma queda de energia.

Levantou-se contrafeita e pensou ter de descer até a cozinha em busca de velas ou uma lanterna que a auxiliasse. Mas quando caminhou pelo quarto e levou a mão à maçaneta estranhou não conseguir abrir.


Xingou de novo, pois não se lembrava de tê-la fechado. Bufou e socou a porta, com raiva. Então mordeu o lábio estranhando, pois jurava ter fechado a janela. Ao aproximar-se da mesma, na parede oposta à porta, viu-a aberta. E xingou novamente, desta vez se assustando de verdade.

Puxou a cortina de renda até a metade da janela sem grades, quando sentiu que algo a puxava pela cintura e a jogava contra a parede com certa agressividade, e sem deixar-lhe oportunidade de reação...

Na penumbra se via ofegando, o coração disparado, enquanto sentia claramente um par de braços a impedir os movimentos de ambos os lados do corpo feminino, imobilizando-a entre a parede e um corpo masculino maior e mais robusto, contudo igualmente elegante...

Ela engolia em seco enquanto um par de olhos selvagens a encaravam, fustigando uma luminescência avermelhada no escuro... Intimidando-a... Pensou reagir, mas não conseguiu...
O olhar ferino que a fitava foi logo seguido de um sorriso que, mesmo na parca luminosidade, lhe deixava claramente à mostra o par de dentes caninos saltados na boca...

Trincou os próprios dentes e tentou levar as mãos ao peito do indivíduo para afastá-lo. Mas o corpo que se debruçava sobre o seu parecia fincado ali como rocha maciça...Prendendo-a tal qual um escorpião faria com sua presa...

-Chega! Me deixa sair! O que você tá pensando?

A moça bradou, mas ele não se moveu. Continuava respirando junto a seu ouvido, tal qual um animal prestes a abocanhar-lhe a carne. Inês logo sentiu a língua fria deslizar da orelha ao pescoço, fazendo-a arrepiar...

Em seguida os caninos pontiagudos se afundaram de leve na pele escura e macia... Que contrastava com a palidez do estranho sujeito que o fazia...
A jovem mulher então fechou os olhos e se entregou por um instante...

Respirou fundo enquanto o sangue lhe era sorvido, e não demorou a notar que o que sentia com aquilo não era exatamente dor... E sim deleite...

Suspirou sentindo o corpo relaxar e o sangue borbulhar nas veias... Ofegava cada vez mais à medida que aquela sensação parecia lhe desencadear outras...

E transporta-la para longe dali... Para décadas longínquas, séculos no passado... Logo estava tomada não somente pelas percepções intensas do presente, mas também por outras... Sensações inusitadas advindas do passado... De um pregresso e distante momento... Que até então se mantivera oculto no mais profundo de seu ser... Era... Uma existência pregressa?

Já se sentia inteira lânguida, e havia sido segurada pela cintura com ardor antes que caísse, quando o vampiro a levou-a até a cama com agilidade sobre-humana... Então parou de sorvê-la...
A moça, estava ainda ofegante e meio tonta... Já deitada na cama foi abrindo os olhos, para se deparar com o estranho homem sentado a seu lado.

Brinde de SangueWhere stories live. Discover now