Últimos capítulos...
William
....Pelas pernas que se arranhavam roçando contra o chão .
A essa hora meu terno era em maioria um entulho de suor , terra e farrapos .
Eu inteiro era somente medo .
Mais que antes porque alguém dependia de mim para viver e nada de qualquer habilidade me servia para ajudar .
Só uma força que não sabia que tinha .
- Eu seguro - Falei colocando um braço por cima do outro e tentando puxar Ivan .
Eu o odiava mas meu dever como humano era tentar segura - lo ao máximo mesmo que a cada segundo que insistia sentia minhas pernas perdendo firmamento e ia sendo arrastado pelo peso dos meus braços .
- Wiamm - Ouvi a voz da doce Malu suplicando . Com um pavor tão grande que quase o soltei .
Seus olhos pediam pois mesmo pequena entendia que aos poucos eu ia perdendo as forças e a vida daquele outro ser humano passava pelas minhas mãos .
Então aos poucos ela se aproxima e mesmo em risco coloca as mãos sobre a minha me ajudando a puxar , mesmo que pouco e sendo humana mas mesmo assim sabíamos que não podíamos tanto .
- Eu prefiro morrer do que viver sabendo que você me salvou - Ivan disse e cravou as unhas com toda força em minhas mãos caindo pelo penhasco com um rosto indecifrável .
Ele nunca pediu perdão mas não era eu que precisava dele .
Eu tinha o suficiente vendo paralisado o seu corpo indo em direção ao chão enquanto perto da descida ele fechava os olhos e abria os braços .
Resignado até o último segundo que os abriu somente ao sentir suas vértebras chocarem com o chão a toda velocidade as destruindo de um jeito tão ...
Não pude olhar .
Me levantei .
Ele sabia que as vinganças acabam em mortes , só não sabia que seria a dele mas mesmo assim preferiu aceitar pois eu mesmo não sabia se era capaz de solta - lo .
Com tanto ódio que senti por ele por ter matado minha primeira noiva e ter azucrinado a mulher da minha vida seria coerente pisar até em sua mão para que caísse mais rápido e não tentar até os nós dos dedos ficarem brancos que ele voltasse .
Mas longe do rancor eu sou quem salva vidas e jamais quem as tira menos por puro prazer e satisfação da vingança .
Ela cobra um alto preço .
- Vamos embora filha - Falei a Malu a pegando no colo e seu rosto se escondeu na curva do meu pescoço o cheirando como eu aos seus cabelos , viva e sã como eu decidi .
Talvez um pouco sujinha no seu vestido rosinha de dama mais ainda sim na minha concepção , bem como deveria estar porque em meu pescoço sentia o compasso de sua respiração enquanto saíamos dali com o sol caindo por nossas costas .
Eu tinha pego minha filha .
Agora faltava minha mulher ...Maite
Tantas coisas passaram por mim ainda naqueles passos que dei em direção a Belinda .
Ou que não dei .
Pois eu quis relutar e não ir à ela por várias vezes então antes que falasse mais alguma coisa aquela mesma "Tela" voltou a se abrir .
Ela não diria mais nada , suponho .
Pela primeira vez o que vi ali não era um compilado de lembranças e sim do tempo presente .
Eu conhecia as paredes , era o Memorial Montenegro .
E mais que a estrutura eu reconhecia quem as pressas adentrava as salas mas parava atravessada no corredor .
- Parada cardíaca - Gritou um doutor que parava a maca de uma vez ali .
- Droga menina , resista ! Você é jovem demais ! - Disse para mim ou uma massa de mim pois a via tão pálida diante de toda cor do vestido que insisti em ser claro como uma tela que ganhou contornos em tons vivos de vermelho que acabaram por levar minha vida .
- Um desfribilador , urgente ! - Gritou e logo um outro igualmente vestido de branco entregou - lhe uma máquina .
Que eu reconhecia bem por estar tempo demais entre aquelas paredes .
Era uma que se usava quando o coração parava .
Ele a friccionava e logo a colocava sobre meu peito .
Senti na alma mas meu corpo nem sequer cedeu .
Comecei a chorar .
- Não quero mais ver . Já entendi que não posso mais estar lá . Só não acho que era necessário que me
mostrasse - E mesmo que eu tivesse dado os ombros ainda ecoava o barulho de um corredor inteiro na sala vazia .
Cedi ao chão e coloquei as mãos nos ouvidos .
- Chega doutor ! Ela não vai mais voltar - O médico chorava copiosamente , sua própria paciente nem sequer havia chegado a sala de cirurgia .
Jazia inerte num corredor branco como sua própria anatomia .
Ele não me conhecia mas chorava como um menino , não tinha como não fazê - lo e não era porque se tratava de mim mas se você parar para analisar bem , fazer o que fizeram comigo no dia do próprio casamento era de fazer dos mais fortes chorar .
- Não quero mais ! - Gritava e olhava para Belinda , o anjo que se aproximava aos poucos .
Que grande anjo !
- Quando estive aqui foi a única forma de entender mas não aceitar . Ainda não aceito ter sido tirada da vida do homem que amo mas eu entendi - Supus errado , pois ela disse tocando meu ombro suavemente .
Em seu toque a ironia , que nada mais foi que produto da tristeza se abrandou .
Assim , quando o barulho na sala cessou a minha revolta também cessara.
- Entender o que ? - Perguntei num fio de voz .
- Que como eu você morreu ...
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Maktub - O escrito pelo destino jamais será apagado ...
AcakOs árabes costumam dizer que quando duas almas estão predestinadas a se encontrarem não há o que se interponha pois cada ser humano que habita nessa terra já tem algo sobre si , o que está escrito . William Montenegro, cirurgião geral de 29 anos pe...