-Falta muito para chegar? - Rique indagou enquanto arrastava os pés pelo asfalto, Paula o repreendeu por isso tantas vezes nos últimos minutos que Isabela já havia acionado o modo seletor em sua cabeça.
-Apenas mais alguns minutos. - Paula murmurou ainda mantendo o sorriso em seu rosto, Isabela revirou os olhos diante daquilo, ninguém conseguia ficar feliz naquele momento. - Logo estaremos na casa de sua avó comendo seus biscoitinhos de polvilho e sorrindo das histórias do vovô.
-Ou poderíamos estar em casa assistindo tv e comendo besteira. - sussurrou chutando as pedrinhas no caminho com a ponta do seu tênis. Eles haviam passado o natal em casa, a ceia havia sido quatro pizzas de sabores diferentes e dois litros de refrigerante, para sobremesa sorvete caseiro feito por Paula. Esses eram os momentos que Isabela mais gostava, era quando eles estavam em família, porque por muitas vezes ela desconsiderava aqueles outros parentes de sangue que encontrava uma vez por ano. - Você ligou para vovó dizendo que vamos nos atrasar? - indagou, Paula ficou em silêncio e Isabela entendeu aquilo como um não. Embora adorasse sua avó, dona Irma era aquele tipo de pessoa que você agradecia por ver apenas uma vez por ano, sua total falta de tato com as outras pessoas fazia Isabela por muitas vezes querer arrancar a língua dela e jogar fora, isso para não dizer coisa pior. Ela não sabia muito bem como sua mãe, que era tão positiva e solidária, havia sido criada pela bruxa má da Cinderela. - Você sabe que ela vai enlouquecer se chegarmos atrasados para o almoço.
-Eu faço isso quando voltarmos para o carro. - Paula disse e então apontou para frente. - Olha, eu disse que tinha uma por aqui.
Isabela seguiu o olhar da mãe até uma pequena casa. Eles caminharam um pouco mais até o local, então, enquanto sua mãe ia na frente para ver se tinha alguém em casa, Isabela se sentou em um dos inúmeros pneus que havia do lado de fora da borracharia. Henrique ao seu lado tirou os croques que usava e os jogou no chão.
-É melhor colocar de volta ou a mamãe vai brigar. - alertou.
-Meus dedos doem.
-Os meus também, mas logo estaremos na casa da vovó.
-Isa, eu não quero ir pra casa da vovó. - Henrique falou com a voz manhosa.
-Por que não? Você amava ir pra lá.
-Eu sei, mas Pietro disse que dá próxima vez que eu fosse ele me prenderia no topo do forte.
Isabela piscou atordoada com a confissão do irmão. Pietro não era uma flor que se cheire, ele era o capeta na terra, ela já havia enfrentado a fúria dele tantas vezes que havia perdido a conta. Mas uma coisa era lhe enfrentar e outra bem diferente era ameaçar seu irmão.
-Não seu preocupe pequeno, deixa que eu cuido disso. - assegurou já começando a pensar no que fazer contra o primo. Seu celular vibrou no bolso, o tirou rapidamente e desbloqueou a tela.
Quantos minutos até sair do inferno? - Mari
Riu com a mensagem da amiga, Marina sabia que Isabela não tinha a minima vontade de passar o ano novo com sua família e também sabia que aquilo se devia a sua mãe, Paula.
Se nem no inferno eu ainda cheguei. respondeu, porém antes de apertar em enviar a tela de seu celular piscou e ficou preta. Se levantou em um pulo e ficou olhando para o aparelho em sua mão. Havia deixado-o carregar à noite toda, aquilo era impossível. Henrique olhou para a irmã confuso, Isabela respirou fundo e apertou o celular entre as mãos, tinha total controle de si, total controle de suas emoções, mas aquilo era pedir demais, seu celular não era novo e definitivamente já precisava ser trocado, entretanto Isabela havia torcido muito para que ele durasse pelo menos até o dia do seu aniversário.
-Foda-se! - gritou e jogou o aparelho o mais longe que conseguia.
-Isabela! - ouviu sua mãe brandar de algum lugar, aquela mulher só podia ter um ouvido biônico.
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100 batimentos por minuto
Short Story"Vamo lá, e seja o que eu quiser E o futuro só pertence a mim"