O que seria de nós sem os lembretes virtuais?
Que se tornam tão banais
E fazem-se necessários
Mesmo existindo calendário
Na doce atualidade
Tudo é muito impalpável
E tudo que era tangível se esvai
As relações liquefazem-se
E as distâncias expandem-se
As emoções
Transfiguradas em emoticons
As palavras
Encurtadas, abreviadas, apressadas, reduzidas
Perdem seu lirismo
O abrigo do poeta incompreendido
A verdade cada vez mais inconcebível
Inviável e até mesmo impossível
As redes ateiam, amarram, engancham e estreitam
Anulam os verdadeiros laços
Pois nada se compara a um abraço
E um ''Eu te amo'' com o olhar
Porém compreendo
A propensão para utilizar
Uma meio de comunicação que insiste em mascarar
A verdadeira face do ser humano
A agilidade que tudo acontece
Seduz, envolve, deslumbra
Atrai, cativa e incita
Não adianta sonegar
Devemos assumir que tiramos um peso
Diante da facilidade em se desconectar
Tudo fica tão sucinto e limitado
Não se gasta meia palavra
Apesar do inconviniente
De ter apertado sutilmente
A opção ''desfazer amizade''
E então pronto
Já não sou amiga de João
Por um mísero segundo fico triste
Não me lembrarei de seu aniversário
Não o marcarei em nenhuma publicação
Esqueço que éramos como irmãos
A partir do momento em que recebo uma nova solicitação
E volto a ter o mesmo número de amizades
Tendo a sensação de que nada falta
Mesmo que no fundo saiba
Que aquela mensagem foi copiada
Do acervo virtual
Onde não foi dado relevância
Na discrepância das rimas que não condiziam
Com o que ambos sentiam
Diante da situação
Por isso cuida-te menina
O calo nos dedos por escrever com lápis é admirável
E sem embargo apaixonante
O abraço apertado é inestimável
As palavras ditas escolhidas, são de encanto
As emoções requerem sentimentos
Que não fazem morada
Na banalidade da tecnologia
Onde cria-se uma utopia
Escolhendo, selecionando qualidades
Mascarando a realidade
Sem moderação
Com pressa
Que não sejam lacônicas as lembranças
Extensas e intensas é a combinação
Para que então
Solidifiquemos novamente a geração
Que se dissolveu com a modernidade