Laurelian arrumou-se da melhor forma que pode, e isso quer dizer muito. Normalmente, quando se preparava para ocasiões especiais ou até mesmo comuns, os outros se derramavam sobre ela, encarando-a como se nem o sol pudesse ser mais deslumbrante. Agora, que ela estava de fato se empenhando, possivelmente ela derrubaria os inimigos apenas com o olhar. A ideia absurda fez com que ela risse, embora uma pontada de receio tivesse se instalado em seu coração.
Lembrava-se da noite anterior, o episódio que fizera com que uma fúria imensa dominasse todo o seu ser e a obrigara a agir logo para mudar o rumo da situação. E era isso que ela iria fazer agora. Iria...
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...terminar com aquilo. Não aguentava mais. Passara o dia inteiro no quarto, em silêncio, a cada momento recebendo olhares dos outros, exceto de Aelin. O elfo moreno parecia ter se convencido que Legolas entendera o recado e os chamaria caso precisasse de ajuda. Se ainda não chamara, talvez não precisasse.
Legolas estava cada vez mais inquieto, dia após dia. Laurelian dissera que pretendia continuar em Utumno durante meses, mas ele não acreditava realmente nisso; a Regente parecia apressada demais para aquilo, e provavelmente só dissera aquilo para ver a reação de Legolas.
Apesar de sua mente constantemente lhe pregar peças, ele se obrigou a convencer-se de que Thranduil iria salvá-lo, de um jeito ou de outro. Se se deixasse levar pelo pensamento de que fora completamente abandonado, ele pensou que definharia em questão de dias. Não, ele precisava acreditar nisso. Mas também precisava de tempo. Tempo para que seu pai viesse e o resgatasse. E, para conseguir esse tempo, ele precisaria se rebelar contra Laurelian, mesmo que ele não quisesse tanto fazer isso. Ele deveria atrasá-la, mantê-la lidando com ele e possivelmente os outros prisioneiros, antes de decidir sair para executar seu verdadeiro plano. Esse era o único jeito.
Naquela mesma noite, certo do que faria, Legolas esperou que todos estivessem dormindo, inclusive Larinnon, o irmão observador de Aelin, antes de bater na porta baixinho. Um orc apareceu na mesma hora, e Legolas sussurrou que precisava falar com a Regente o mais rápido possível. O orc soltou uma risadinha debochada, mas fez o que ele pediu. Legolas presumiu que a Regente havia dado ordens para que fosse avisada quando o príncipe decidisse falar com ela.
Dez minutos depois, a porta foi aberta novamente, quase derrubando Legolas no chão, considerando que ele estivera encostado nela. Por sorte, ninguém acordou, mas o coração do príncipe já batia tão forte que foi uma surpresa nenhum deles ter ouvido.
O orc não sentiu a necessidade de prender as mãos de Legolas atrás das costas dele. Deixou que ele passasse a frente, andando com despreocupação. Legolas se sentiu tentado, por mais de uma vez, a dar um soco no orc. No entanto, ele estava nervoso demais para fazer qualquer coisa além de continuar andando.
O salão da Regente se aproximou mais e mais, e foi o próprio Legolas que abriu a porta, produzindo um ruído irritante que provavelmente acordaria muita gente no cômodo ao lado. Ele não estava ligando mais para isso, percebendo que a Regente estava de frente para a porta, esperando ele chegar. Um sorriso se alargou em seu rosto, embora seus olhos permanecessem frios e cuidadosos.
- Recebi a notícia de que você finalmente tomou uma decisão - falou Laurelian à guisa de cumprimento. Ela virou as costas e foi se sentar em seu trono, o príncipe atrás dela.
- É verdade - Legolas disse, colocando as mãos atrás das costas para que ela não visse o leve tremor. - Precisava anunciar o quanto antes.
Laurelian riu, se recostando na cadeira. Cruzou as pernas, como se aquela fosse a situação mais confortável do mundo.
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A FILHA DE VALFENDA - Contos da Terra Média (Livro 2)
FanfictionAlariën, filha de Tauriel e Elrond. Desde criança, guardava o sonho de se aventurar pela Terra Média e conhecer todos os lugares das histórias que sua mãe tanto lhe contava. Alariën está próxima de realizar o seu sonho, mas não do jeito que ela espe...