Bruna - Parece um pesadelo

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Parece um pesadelo, mas é realidade. Sequestraram Carlos Eduardo. Fecho os olhos e ainda me lembro dos seus olhos azuis perdendo a consciência com a porrada na cabeça. O que vão fazer com ele? Meu coração dá saltos. Não consigo parar de tremer. De medo, de frio. De angústia. Mas preciso encontrar ajuda.

Os bandidos me vendaram e me colocaram no porta-malas do carro. Eu gritava, chorava e temia o que estava por vir. Pensamentos horrorosos de estupro e violência física passavam pela minha cabeça. Ao mesmo tempo, eu tinha certeza que o alvo era o menino rico. Ele fora o primeiro a ser atingido, embora eu fosse o elo mais fraco. E, pelo barulho dos pneus cantando, tinha sido levado para outro canto. Um cativeiro.

Kadu valia seu peso em ouro.

Eu não valia mais do que um estupro.

Passei tempo suficiente da minha vida na periferia para saber que o estupro é um crime de ocasião. Mulheres indefesas. Locais obtusos. Nunca a frente de uma escola de bairro, mesmo num domingo à tarde. Não. O que nós vivemos requer planejamento. O sequestro de Kadu fora arquitetado em detalhes.

Como era possível supor que um dos filhos mais ricos da sociedade estaria fazendo um prova numa escola pública no centro, sem seu carro blindado. Eles sabiam. Eles esperaram por esse momento.

E eu precisava contar isso à polícia. Urgentemente. Mas rodei por sei lá quantas horas dentro do carro, cheguei a desmaiar de desespero. Não faço ideia de quanto tempo se passou. Até que fui jogada amordaçada de uma ribanceira no meio de estrada.

Lutei para me soltar. O saco de pano que colocaram na minha cabeça me deixava sem fôlego, mas eu não poderia me desesperar. Meti a ponta do meu salto no nó que amarrava as minhas mãos e ele afrouxou o suficiente para que eu conseguisse soltá-lo.

Subi a ribanceira algumas vezes até encontrar um canto onde fosse possível alcançar a pista. Devo estar parecendo uma alma penada caminhando pela estrada. Passam poucos carros. Todos em alta velocidade. Estou descabelada, machucada e descalça. Além disso, agora sim estou com medo de ser estuprada.

Confio que minha cota de horror pessoal já foi paga por hoje e dou sinal para um caminhão que vem numa velocidade aceitável. Ele para. A luz da cabine acende. O caminhoneiro está com a família toda na boleia. Quatro rostos assustados olham para mim.

─ Menina, Santa Mãe de Deus, o que fizeram com você?

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora