6 - Enfrente seus medos

34 2 2
                                    

Andei por todo canto atrás da Vitória, já era noite e eu ainda não tinha encontrado aquela garota! Eu já estava cansada e com fome, e aos poucos fui vencida pelo cansaço. Resolvi ir pra casa, e deixar isso pra lá, conheço garotas como ela já sabia que não seria nada fácil encontrá-la.

Vim caminhando pela rua do meu prédio, e quando olhei para o alto pude ver a luz do meu quarto acesa. Eu não me lembrava de ter deixado acesa, quando saí de casa ainda estava claro... Só o que me faltava era alguém ter invadido meu apartamento! Senti raiva do porteiro incompetente, nem pra fazer a segurança do prédio ele serve! - Preciso me lembrar de nunca mais sair, e deixar a porta aberta! -  Andei mais rápido, apesar de minhas pernas estarem doendo por ter revirado todas as ruas de cima a baixo atrás daquela menina. Chamei o porteiro que como sempre, demorou a me atender...

- Alguém está no meu apartamento? Alguém subiu lá?

- Senhorita, um rapaz veio aqui e...

- Você deixou um desconhecido subir no meu apartamento??? - senti tanta raiva, que poderia voar com minhas unhas na cara dele.

- Senhorita...me...me desculpe, ele disse que a conhecia, e que era seu aniversário... Falou algo sobre fazer uma surpresa pra senhorita...ele insistiu muito e...

- Já chega! Não quero ouvir mais nada! Não tem aniversário nenhum seu imbecil! Ele ainda está lá?

- Me desculpe senhori...

- ELE AINDA ESTÁ LÁ???

- Está...

- Não tô acreditando nisso...só pode ser brincadeira! Você ao menos viu se tinha uma garotinha com esse cara? E como ele era?

- Não vi garotinha nenhuma senhorita, e me desculpe, mas não lembro direito a aparência dele...

- Para de me chamar de senhorita! E para de pedir desculpas! Liga pra polícia anda! Eu vou lá...

- Senhorita! Senhori... Moça! Não vai, pode ser perigoso!

- CALA A BOCA! - Gritei já no meio do caminho, correndo em direção às escadas.

Cheguei no meu andar, e pude ver que a porta estava aberta e a luz acesa... Senti medo, lembrei do meu pesadelo. Respirei fundo... Caminhei lentamente pelo corredor procurando não fazer barulho algum, tentando escutar qualquer ruído, mas estava um silêncio perturbador. Cheguei próximo a porta e paralizei de medo. Ouvi o som de alguém subindo as escadas...

- Senhorita! - o porteiro me chamou.

- Shhhh... Silêncio! - cochichei.

- Desculpe... - gesticulou com os lábios.

Tomei coragem para entrar no apartamento, por incrível que pareça, a presença do porteiro idiota fez com que me sentisse mais segura. Respirei fundo mais uma vez e dei mais alguns passos, quando fiquei de frente com a porta, não pude acreditar...

- Você mente muito mal, sabia?!

Era o Gabriel... E a Vitória! O que ele estava fazendo aqui? Como...como ele descobriu? Não consegui me mexer e nem falar e com certeza meus olhos estavam quase saltando pra fora e meu queixo praticamente encostando no chão!

- O que... Como você...? - minha voz quase não saía, é minha garganta estava seca como se eu nunca tivesse provado água na vida.

Eles começaram a rir, e eu quis sumir! O porteiro ficou olhando pra mim esperando alguma reação sem entender nada. Olhei pra ele e mandei que dispensasse os policiais e dissesse que foi só em engano. Gabriel me ajudou a entrar em casa sem dizer uma palavra, e eu também não sabia o que dizer, eu estava muito desconfortável com toda aquela situação, em que eu mesma me meti. Percebi que Vitória vestindo as roupas que achava que ela tinha roubado, estavam enormes nela, era até engraçado de ver. Como fui tonta!

- E então dona Gisele, o que tem a me dizer sobre tudo isso? - dava pra ver que o Gabriel falava se segurando para não rir.

- Olha, eu não menti por mal... Eu nem sei direito por que menti pra você... Olha pra isso aqui, fala sério?! As coisas que eu inventava eram muito mais interessantes do que: "sou a garota sofrida, que mora sozinha num apartamento velho"... Desculpa por ter mentido.

- Seu apartamento não é velho, eu acho bem legal - Vitória disse olhando em volta.

- Vitória! Não pense que eu esqueci de você! Isso tudo é culpa sua, onde você estava? - segurei firme nos ombros dela e ela me olhou assustada.

- Eu só fui dar uma volta... Eu nem saí do prédio. É que você demorou e...

- Não era pra ter saído daqui, eu escrevi no bilhete! E por que pegou minhas roupas?

- Eu precisava de roupas mais curtas pra conseguir andar ou me mexer, as roupas que você me deu ontem eram muito compridas...

- Nunca mais faça isso! Entendeu?

- Deixa a menina Gisele - Gabriel tentou acalmar a situação - Ela só foi dar uma volta, foi você quem surtou... E você ainda me deve explicações... Quem é a menina?

- Eu não te devo nada. E eu acho melhor você ir embora...

- Está me expulsando?

- Não exatamente, é que meu dia foi cheio, eu preciso descansar... E amanhã a primeira coisa que vou fazer é uma reclamação sobre esse porteiro incompetente, e se fosse um ladrão, ou um assassino que tivesse entrado aqui! Ele é maluco?!

- Calma Gisele...Digamos que eu sei convencer muito bem as pessoas, e eu não tenho cara de ladrão e muito menos assassino, meu rostinho lindo entrega minha inocência...

- Ah claro... - falei com ironia.

Apesar de ver toda minha mentira se desfazendo diante dos meus olhos, consegui rir da situação, claro que fiquei constrangida, mas era bom não ter mais que mentir. Me despedi do Gabriel depois de conversarmos um pouco, mas ainda tinha muita coisa que ele não sabia sobre mim, e era melhor continuar assim.

- Ele é seu namorado? - Vitoria perguntou desconfiada.

- Ele é meu amigo, e você é uma menina muito intrometida!

- Mas ele disse pra mim que era seu namorado... Bem que eu achei estranho, vocês não parecem namorados...

- Ele o quê? - por que raios o Gabriel disse isso!? - Isso não é verdade! Depois eu é que sou a mentirosa... Olha, eu já tô cheia desse assunto, acho melhor irmos dormir logo.

- Mas ainda é cedo, eu não estou com sono... Eu estou com fome, não comi nada o dia inteiro...

- Eu também tô morrendo de fome... - lembrei que só tinha miojo no meu armário, eu já estava enjoada de miojo - Olha eu vou fazer uma coisa, mas não vai se acostumando não hein.

Peguei o cartão da conta em que foi depositado meu acerto, meu celular e liguei pra pizzaria. E então me dei conta de que talvez eu estaria fazendo aquilo mais pela Vitória do que por mim, recordei de como fiquei preocupada enquanto a procurava por toda parte, como eu fiquei aliviada quando a encontrei, eu tinha que admitir pra mim mesma... Estava me apegando a ela, mas no fundo eu sabia que não podia deixar isso acontecer, eu não estava pronta pra receber alguém em minha vida, e os fantasmas do passado faziam questão de me lembrar disso em todos os momentos.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 07, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Refém Onde histórias criam vida. Descubra agora