Quando eu estava nos primeiros anos do ensino médio, no Alasca, minha turma foi incumbida de fazer a resenha de um livro. Tínhamos de escolher um livro de que gostássemos. Percorrendo as estantes, me deparei com Os homens de rosto verde, de Gene Wentz, um ex-Seal.* O romance falava de missões no delta do rio Mekong, no Vietnã. Cheio de emboscadas e tiroteios, tinha como núcleo a caça de um perigoso coronel norte-vietnamita.
Desde a primeira página, eu soube que queria ser um Seal. Quanto mais lia, mais vontade tinha de me pôr à prova.
Durante o treinamento, nas águas do oceano Pacífico, conheci outros homens como eu: homens avessos ao fracasso, motivados pela ânsia de serem os melhores. Tive o privilégio de servir todos os dias com esses homens, aos quais queria me igualar. Trabalhar junto deles me fez uma pessoa melhor.
Depois de treze grandes missões de combate consecutivas, minha guerra acabou. Este livro é a conclusão dessa parte da minha vida. Antes de me retirar, eu quis tentar explicar o que nos leva a escolher o brutal curso de treinamento dos Seal, além de uma década de mobilização constante.
Não somos super-heróis, nossa união vem do fato de nos dedicarmos a um objetivo maior que nós mesmos. A fraternidade nos mantém unidos, e é esse vínculo que nos dá disposição para enfrentar juntos o perigo.
Esta é a história de um grupo de homens extraordinários ao qual tive a felicidade de pertencer, como Seal, de 1998 a 2012. Mudei os nomes de todos os personagens, inclusive o meu próprio, para proteger a nossa identidade, e não incluí no livro detalhes de missões em andamento.
Tive o máximo cuidado em proteger detalhes de táticas, técnicas e procedimentos usados na batalha diária travada contra terroristas e rebeldes no mundo inteiro. Se você estiver procurando por segredos, este não é o livro certo.
Embora eu tenha me esforçado para narrar acontecimentos da vida real exatamente da forma como ocorreram, foi imprescindível para mim que nenhuma informação sigilosa fosse revelada. Com a ajuda de meu editor, contratei um advogado com experiência na área de Operações Especiais para ler o original e garantir que não houvesse referência a assuntos proibidos e que o livro não servisse a inimigos como fonte de informação confidencial que pudesse comprometer ou prejudicar os Estados Unidos. Tenho certeza de que a equipe que trabalhou comigo neste livro também promoveu e preservou os interesses da segurança do país.
Quando me refiro a organizações, atividades ou departamentos militares ou do governo, faço-o em interesse da continuidade, e na maioria das vezes apenas quando outra publicação ou documento oficial não sigiloso já tenha mencionado a participação dessa organização na missão que estou relatando.
Em alguns casos, fiz referência aos nomes verdadeiros de alguns altos líderes militares conhecidos publicamente, mas só quando era certo que não havia questões de segurança operacional envolvidas. Em todos os outros casos, despersonalizei os relatos para manter o anonimato das pessoas envolvidas. Não detalhei nenhuma tecnologia que pudesse comprometer a segurança dos Estados Unidos.
Todo o material contido neste livro provém de fontes e publicações não sigilosas; nada do que se escreveu aqui pretende confirmar ou negar, oficialmente ou não, os acontecimentos relatados ou as atividades de qualquer pessoa, governo ou órgão oficial. Para proteger a natureza de operações específicas, às vezes generalizei datas, épocas e a ordem dos acontecimentos. Mas nenhum desses "rodeios" afeta a exatidão de minhas lembranças ou a narrativa de como se desenrolaram os fatos. As operações discutidas neste livro já foram relatadas em numerosas publicações civis e governamentais, e todas essas fontes estão à disposição do público. As que eu consultei estão discriminadas em "Fontes consultadas", no final do livro.
Os fatos narrados em Não há dia fácil baseiam-se em minha própria memória. As conversas foram reconstituídas a partir de minhas lembranças. A guerra é sempre caótica, mas fiz o possível para garantir que os relatos deste livro fossem exatos. Se neles houver imprecisões, a responsabilidade é minha. Este livro foi escrito a partir do meu ponto de vista, e não representa o posicionamento da Marinha dos Estados Unidos, do Departamento de Defesa ou de quem quer que seja.
Apesar das medidas que tomei para proteger a segurança nacional dos Estados Unidos e a segurança operacional dos homens e mulheres que continuam lutando no mundo todo, acredito que Não há dia fácil é um retrato fiel dos acontecimentos que narra, um retrato da vida nas equipes do Seal e da fraternidade que existe entre nós. Ainda que escritas em primeira pessoa, minhas experiências são universais, e não sou melhor nem pior que qualquer homem com quem tenha servido. A decisão de escrever este livro foi difícil e demorada, e alguns integrantes da comunidade certamente vão me censurar por isso.
No entanto, chegou a hora de registrar por escrito uma das mais importantes missões da história militar dos Estados Unidos. A explicação de por que e como ela teve sucesso se perdeu na cobertura jornalística da operação. Finalmente, este livro dá o devido crédito àqueles que o merecem. A missão foi um esforço coletivo que incluiu os analistas de inteligência que encontraram Osama bin Laden, os pilotos de helicóptero que nos transportaram a Abbottabad e os homens que tomaram de assalto o complexo onde ele se encontrava. Nenhum homem ou mulher foi mais importante que outro.
Não há dia fácil conta a história dos "rapazes", o preço humano que pagamos e os sacrifícios que fazemos para executar esse serviço sujo. Este livro trata também de um grupo, uma fraternidade, que existia muito antes de eu me tornar um membro e que continuará existindo por muito tempo depois de minha saída.
Espero que, um dia, um jovem nos primeiros anos do ensino médio leia este livro e se torne um Seal, ou pelo menos viva uma vida maior do que ele próprio. Se isso acontecer, este livro terá valido a pena.
Mark Owen Virginia Beach, Virgínia, 22 de junho de 2012
* Como são chamados os membros da principal força de operações especiais da Marinha dos Estados Unidos. A sigla Seal refere-se ao fato de seus integrantes serem treinados para operar em mar (sea), ar (air) e terra (land). (N. E.)

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NÃO HÁ DIA FÁCIL
Non-FictionO único dia fácil foi ontem. Filosofia dos Seal Viva a fraternidade