Bastou eu pisar os pés dentro da república que comecei a ouvir os passos de Doris atrás de mim. Eu ainda não a tinha visto mas sabia que era ela. Não havia outra garota naquela casa que tivesse os passos tão rápidos como os dela. Era sempre assim quando ela queria exercer seu papel de coordenadora.
- Pode parar aí, Analu - a voz dela entrou de forma gritante pelos meus ouvidos.
Xinguei mentalmente por não ser tão rápida como o Flash e parei no quarto degrau da escada. Girei lentamente nos calcanhares.
Doris estava se aproximando com uma folha de papel em mãos, balançando seu cabelo avermelhado pelo ar.
- Oi - me encostei no corrimão da escada, com um sorriso amarelo. - Não tinha visto você. Como foi seu dia? Sabia que você está linda hoje?
- Cala a boca - ela parou na minha frente, estendendo a folha de papel na minha direção. - Aqui está sua advertência - ela botou uma caneta na minha mão. - Assina.
Olhei para Doris, segurando a caneta firmemente. A ponta estava apontada na sua direção.
- Doris... - comecei. - ... Eu sei que você é apaixonada pelo Heitor. Aquilo que aconteceu entre a gente não foi nada. Estávamos bêbados - olhei nos olhos dela. - Ele é todo seu. Não tem sentido ficarmos brigando por causa de macho, não é?
Doris respirou fundo, inflando pelas narinas. Isso não era nada bom.
- Assina logo essa porra!
Que grossa.
Peguei a folha de sua mão de um jeito abrupto, quase rasgando e a encostei na parede, assinando de má vontade no espaço indicado.
Depois me voltei para Doris, jogando a folha para ela.
- Tá assinado a sua porra. Tá satisfeita agora?
- Muito - ela ergueu o queixo. - Isso aqui não é um puteiro, Analu. Alguém precisa colocar ordem no barraco, não é?!
Ah, mas vai te catar, patricinha de merda.
Dei-lhe as costas e subi o resto dos degraus da escada antes que saísse mais bosta da boca dela.
***
Na aula do dia seguinte, professora Coralina decidiu ferrar com a vida dos seus alunos, passando um trabalho gigantesco.
- Façam par com seus colegas do lado - ela disse. - Vocês precisam interagir entre si. Conhecer o outro é essencial.
Olhei para o lado. A garota que estava me encarando na aula passada faria par comigo, já que ela sentava ao meu lado.
As pessoas começaram a arrastar as cadeiras para perto seus colegas do lado e a garota que me encarava fez o mesmo, sentando de braços cruzados e emburrada ao meu lado.
Cinco minutos se passaram.
A garota continuava calada e emburrada. Como eu iria fazer um trabalho com uma pessoa assim?
- Ei - eu a chamei. - Qual seu nome, garota?
- Melissa - ela retrucou, sem olhar para mim.
- Ficou com tanta raiva por ontem que nem quer me encarar mais? - eu sorri. - Eu me chamo Analu.
- Eu sei - disse ela, olhando para mim dessa vez.
- Ah. Fiquei famosa e não estou sabendo.
Melissa continuou me encarando e disse:
- Não sei o que você fez para o meu irmão gostar de você, mas saiba que esse relacionamento não vai durar.
Irmão? Relacionamento? Espera...
- Ah, está falando do Heitor? Então, você é irmã dele?
Ela revirou os olhos, ainda emburrada.
- Você é muito diferente do seu irmão - continuei. - É muito grossa e além de tudo, gosta de cuidar da vida dos outros.
Melissa me fuzilou com o olhar e depois voltou a olhar para frente.
- Eu deveria fazer essa merda de trabalho sozinha - disse ela, mais para si mesma.
- Os incomodados que se mudem - falei.
Melissa fechou ainda mais a cara e como se não tivesse nada para fazer, ela simplesmente se debruçou sobre a mesa, se preparando para dormir na aula.
Eu a olhei, um tanto incrédula. Então ia ser assim mesmo? Ela estava pouco se lixando para o trabalho, é isso?
Era só o que o me faltava. Eu até que gostava do meu curso e sempre fazia o possível para minhas notas irem bem. Pelo menos, dentro da média. Mas agora, por ironia do destino, eu tinha que fazer um trabalho, que ocuparia toda a minha vida social, com uma preguiçosa.
Mal hora em que fui sentar a bunda justo naquela cadeira.
Quando a aula acabou, eu recebi uma mensagem de Heitor no meu celular. Parecia até que ele sabia a hora em que eu saía da aula para ser tão pontual assim.O conteúdo de sua mensagem era um convite para eu encontrar com ele na lanchonete. E não parecia ser uma má ideia. Essa era uma oportunidade para eu economizar meu dinheiro do almoço.
Assim que cheguei no estabelecimento avistei Heitor sentado em um dos bancos no balcão. Ele acenou para mim quando me viu.
E me cumprimentou com um beijo demorado na bochecha quando sentei ao seu lado.
- E aí? - ele abriu seu sorriso torto. - O que vai querer?
- Quero um hambúrguer, batata grande e um shake de morango - respondi.
- Uau - ele abriu ainda mais o sorriso, parecendo impressionado. - Você come bem.
Claro. Eu tinha mais é que aproveitar se a comida estava sendo de graça. Para mim, pelo menos.
- Não sou de comer pouco - eu lhe lancei um sorriso casual.
Nosso lanche chegou poucos minutos depois e eu não demorei para atacar o meu.
- Por que você me chamou para vir aqui? - perguntei, depois de uma mordida no amburguer.
- Eu queria te ver - respondeu Heitor.
- Hum - tomei um gole do shake, sem tirar os olhos dele. - Me pergunto quais são as suas intenções comigo.
Heitor riu.
- Minhas intenções são as melhores quando o assunto é você.
Eu sorri.
- Legal - falei.
- Mas eu te chamei aqui porque quero te fazer um convite.
- Que convite? - perguntei, interessada.
- Vou jogar na sexta à noite - ele piscou para mim. - Aparece lá. Tenho certeza que você vai me dar sorte.
Ah, Heitor. Se eu fosse uma garota de coração mole, provavelmente já estaria apaixonada por você. Mas sim, eu iria no seu jogo. Doris não vai gostar nem um pouco se ficar sabendo que você me convidou, mas eu não estava nem aí. Azar o dela por ter me dado aquela maldita advertência.
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Anseios (PAUSADO TEMPORARIAMENTE)
Romance**A HISTÓRIA NÃO ESTÁ CONCLUÍDA E EU NÃO VOU POSTAR MAIS ATUALIZAÇÕES. PORÉM, VOU PUBLICAR NA AMAZON E SE VOCÊ QUISER ACOMPANHAR O LIVRO ME SIGA NO INSTAGRAM @reisescritora Analu gosta de aproveitar a vida ao máximo. Ela não se importa com as regra...