↳ capítulo único ˎˊ-

129 26 358
                                    

Eu amo tocar piano. É meu instrumento favorito. Não. Ele não é  um instrumento. É meu melhor amigo.

Ele estava comigo em todos os momentos da minha vida. Quando eu estava feliz, quando eu estava triste. Era sempre ele que me escutava e entendia meus sentimentos. 

O seu som me acalmava e suas cores me consolavam. Sim. Cores.

O meu piano não era como outro qualquer. Ele emitia cores quando alguma nota era tocada. Não era coisa da minha cabeça, pois todos viam.

Meus amigos e minha família sempre me pediam para tocar e se admiravam com aquela mistura de cores e sons, flutuando e dançando pelo ambiente.

Era uma coisa linda de se ver. Por isso eu amava tocar.

Cada nota musical tinha sua cor específica de acordo com sua frequência e comprimento da onda. Minha nota preferida era o Sol. Principalmente pela cor que a caracterizava. Era um violeta suave que de longe me encantava.

O Dó, tinha uma cor verde, semelhante a grama de um campo em um dia ensolarado. Bem forte e brilhante. O Ré, já era parecido com o sol. Tinha a cor amarela e aquecia todos que ouviam ele ao ser tocado. O Mi, por sua vez, tinha a cor da minha fruta preferida. Laranja. Ao vê-la dançando pelo ar, quase consigo sentir o sabor da fruta. O Fá, era como as maçãs penduradas em uma macieira. Vermelhas e despertava uma vontade de pular para pegá-las. A cor do Lá me atraia bastante, azul marinho. Me lembrava uma noite com o céu azul bem escuro, quase preto, e nele mergulhado várias estrelinhas brilhantes. Já a cor do Si era oposta à do Lá. Era azul claro e era como o mar. Grande e misterioso. Dava desejo de mergulhar bem fundo e descobrir todos os seus segredos.

Quando eu tocava todas essas notas ao mesmo tempo, parecia que tinha baguçado uma paleta de tintas. Todas as cores se uniam, se tornando uma só. Branca. Uma cor linda, forte e vibrante.

Muitas pessoas achavam essa cor sem graça por "não ter cor". Mas é nesse argumento que eles erram. O branco é a mistura de todas as cores do espectro de cores. É definida como "a cor da luz" em cores-pigmento. É a cor que reflete todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e por isso aparecendo como clareza máxima. 

As cores são um assunto tão incrível, cada uma tem sua característica que a define de uma forma impressionante. Se encaixa totalmente com a música. A mesma é dividida em milhares de estilos completamente diferentes mas que no fundo são iguais.

Os idiomas ou os estilos não interferem na mensagem que a música passa aos ouvintes. É uma língua universal que supera os idiomas, países e as raças.

Eu costumava tocar apenas para mim mesmo ou para conhecidos, mas nos últimos dias tenho tocado para pessoas desconhecidas. Foi assim que conheci Haseul.

Existe um museu de música na minha cidade e o gerente de lá me convidou para levar meu piano para o mesmo por ser um instrumento raro. Não é sempre que vemos instrumentos soltarem cores ao ser tocados, não é mesmo?

Meu piano ficava em uma sala reservada apenas para ele. Eu ficava tocando durante quase o dia todo mas tinha um momento em que eu me retirava e as pessoas que visitavam o museu e me assistiam, tinham a oportunidade de tocá-lo também. Era cobrado um valor bem baixo para eles poderem faze-lo.

Eu ficava encantado ao ver aquelas pessoas tocarem o meu piano. O olhar delas ao encostar nas teclas e ver as cores era magnífico, podia-se notar de longe a felicidade delas. O brilho em seus olhos também era bem nítido, como quando o céu a noite está muito escuro mas pode-se ver um única e reluzente estrela. E isso me deixava feliz.

Em um desses dias em que eu tocava no museu, uma jovem de longos e lisos cabelos acastanhados e uma franjinha, rosto fino e delicado como porcelana e quase se camuflava como uma obra de arte daquele museu, me observava de longe - eu podia vê-la pelo canto do olho. Assim que nossos olhares se cruzaram pude sentir uma mistura de emoções dentro de mim, como se todas as notas e cores que eu tinha tocado estivesse dentro do meu corpo.

Eu nunca fui de acreditar em amor à primeira vista, sempre achei que era loucura, mas a partir daquele momento passei a acreditar.

Achei que ela fosse tocar o piano mas não a vi no meio da multidão de pessoas que faziam fila atrás da faixa amarela perto do grande instrumento. Ela estava no mesmo lugar, encostada da parede branca e gelada da sala. Não desviava seu olhar de mim.

Assim que me sentei novamente no banco acolchoado de couro preto, para continuar a tocar, senti um corpo se aproximar do meu. Olhei para o lado e a jovem tinha se sentado ao meu lado. A mesma abriu um pequeno sorriso e se aproximou do meu ouvido.

- Você toca muito bem. - Ela sussurrou.

No mesmo instante em que sua voz suave invadiu meus ouvidos, como mel derramado da colmeia, pude sentir meu corpo inteiro se arrepiar.

A garota não percebeu o quanto tinha me afetado. Apenas se acomodou no banco e levou seus finos dedos às teclas do piano, logo começando a tocar.

As partículas de cores que saiam do instrumento me atingiam completamente. Por um instante, pensei que estivesse em meio a uma partida de paintball. As cores se misturavam com meus sentimentos e saiam voando como borboletas. Parecia que, a qualquer momento, eu mesmo iria sair voando pela sala.

Afastei tudo isso de perto de mim, lembrando de voltar a tocar. Coloquei meus dedos sobre as teclas e uni a minha melodia com a daquela garota. No mesmo segundo, a mesma se virou rapidamente para mim mostrando o largo sorriso que habitava em seu rosto escultural.

Juntos, encantamos todos que estavam presentes ali.

Por causa da minha paixão, que era tocar piano, conheci a pessoa que hoje chamo de mulher da minha vida. A única pessoa que - além das notas coloridas - tinha colorido todas as partes em branco da minha pintura que chamo de vida.

[]

musical colorsOnde histórias criam vida. Descubra agora