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Estava sempre no mesmo lugar, parado, esperando que algo extraordinário e novo pudesse acontecer. Pensamentos incabíveis e ilusões eram tudo do que eu era composto, falsa esperança era o meu alimento.

Nunca presenciara outra luz que não fosse a lua, pois o sol era algo distante e intocável para mim. Em meio a escuridão, estava acompanhado por outros pontos brancos, porém eles vivem mas não respiram. Milhões de anos vivendo, horas nunca existiram para mim. No mesmo local, apenas observando o mundo mudar, olhando vidas se construirem e tendo o seu fim, unicamente emprestando meu brilho para os humanos.

Iluminava o céu na negritude, mas a verdadeira escuridão encontrava-se dentro de mim. Realizamos desejos puros, mas não podemos desejar. Um ser definido, no entanto, não sabia quem verdadeiramente era. Uma estrela, mas mesmo assim diferente das outras, pois governo sobre as demais. Eu sou o príncipe das estrelas.

Todas as noites sempre eram a mesma coisa, porém, em uma delas, algo estava diferente, já não era mais eu. Não possuía sentimentos, então como era possível sentir tais sensações? Afinal, estrelas apenas existem. Estava ciente de que fora por causa dela que os sentimentos estranhos começaram. Desde que ouvi sua melodiosa voz. Desde que a ouvi cantar para as estrelas. Eu a olhava do alto, observava cada sorriso seu, cada palavra que saía de seus lábios.

Queria ter um coração, com batimentos para lhe compor uma canção com meus sentimentos, para demonstrar que meu mundo só passou a existir quando sua existência apareceu para mim. Necessitava expressar com palavras essas chamas que me queimavam e me aqueciam na solidão, queria lhe tocar os lábios e proclamar que cada célula minha lhe pertencia, queria gritar a todo ser existente que ela era meu fôlego.

Admirando sua beleza do alto, seu rosto simetricamente perfeito banhando pela luz do luar era o que tinha dado origem a palavra perfeição. Era um pecado alguém viver sem ver aquele rosto. Eu já não precisava mais ver o sol, pois o observava todas as noites. Ela havia me escolhido em meio a tantas outras, tinha me intitulado como sua estrela. Naquele momento, era impossível calcular o quanto tal ação havia me afetado. O que era isso que sentia? Que sentimento era aquele? Estrelas não sonham. Havia quebrado essa regra inúmeras vezes, pois sonhava com ela a cada segundo, minutos e horas.

E então, aconteceu em um dia. Estávamos em um campo verdejante, o sol nos tocava e ele era aconchegante. Dançávamos abaixo dele. Seus cabelos voavam conforme o vento soprava, seus lábios sedosos eram um convite para os meus. Ela estava em meus braços, podia sentir sua respiração e seus batimentos, nossos olhares estavam fixos um no outro, e ali era um novo universo onde não havia uma distância entre nós, onde não tinham regras para os sentimentos. Conseguia tocar sua pele com a minha, sentir o perfume de seu cabelo e gravar permanentemente em minha memória, podia pegar sua mão e entregar minha alma.

Mas o sonho tinha terminado e a realidade me veio a tona. Jamais poderia acontecer o que imaginei, a distância dos nossos mundos era infinita, então matinha comigo um simples desejo, o de apenas por uma noite, não, por um segundo, queria a ter em meus braços.

O tempo passou-se, eu continuava a observá-la do alto, à distância. A vi chorar, mas não pude consolá-la, a vi em perigo, porém não pude lhe proteger, ela precisou de alguém, mas eu não era ninguém. Mudei a cor do céu de negro para vermelho, das nuvens fiz água cair, cada gota era uma lágrima e um desejo que jamais se concretizaria.

A tristeza tornou-se meu coração, olhar para ela doía. Cada vez que suas lágrimas tocavam o chão, me auto culpava por não ser capaz de estar ao seu lado. Um gesto tão simples como tocar a sua mão não podia ser realizado por mim. Quanto mais eu precisava sofrer com minhas ilusões? Por que tinha que ter nascido estrela e não humano?

Em uma noite, ela conversou comigo e sorriu, foi quando eu descobri o que era aquele sentimento extraordinário. Era o que chamavam de amor. Sim, eu a amava, e daria qualquer coisa para lhe dizer pessoalmente, para expressar tudo o que sentia. Tinha inveja das folhas das árvores que caíam em seus cabelos, do vento que tocava seu rosto, dos pássaros que eram livres e podiam ficar ao seu lado.

Em uma noite, sonhei novamente, e era o mais belos dos sonhos. Ela havia feito um pedido a mim, que eu me tornasse humano para ficar ao seu lado para sempre. Lhe concedi o desejo. Apareci em sua frente, não haviam palavras o suficiente para declarar o quanto ela estava linda. Peguei lentamente em sua mão e levei até minha bochecha, a sensação era quente e suave. Nossas almas estavam conectadas e enquanto nossos lábios permaneciam mudos, elas se falavam entre si.

A puxei para mais perto, a ponto de nossas testas ficarem coladas. Seus batimentos misturavam-se ao do meu coração e juntos formavam uma canção. Aos poucos, encostei minha boca na sua, nossos lábios se moviam lentamente, aproveitando o momento tão esperado, quebrando qualquer distância e qualquer solidão. Eu estava ao seu lado e nada mais importava, sentia sua respiração em meu rosto, conseguia segurar sua mão e isso era tudo pra mim. Ela tinha dormindo em meus braços, lágrimas caíam dos meus olhos.

Os segundos, os minutos e as horas se passaram, até que o dia clareou e o sol queimou minha pele, revelando-me que meu sonho tinha se tornado realidade.

O Príncipe das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora