A porta do armário foi aberta vagarosamente, e eu retirava a única xícara que me restava. A porcelana branca estava desgastada, mas ainda era utilizável.
Eu fechei a porta do pequeno armário e respirei me lembrando novamente do quão bom era não ter preocupações, hoje elas que eram envolvidas a qualquer assunto.
Não eram somente destinadas a você, mas a mim mesma. Afinal, este foi o motivo do término.
Eu estava cansada, e eu não podia mais continuar com aquilo, mesmo que você fizesse meus sorrisos, eu não me sentia o suficiente para corresponder-te. E então eu terminei.
Porém esse não é o problema aqui. Você só é mais uma gota se juntando a poça de problemas.
Tudo começou no meu ensino médio. Era o primeiro ano e eu tinha somente treze anos, bem mais nova que qualquer um. E eu não tinha nenhuma malícia, eu não tinha nem mesmo uma boa base do antigo colégio.
Mas eles queriam que eu me esforçasse, e eu tentei. Eu tentei muito. Nenhuma vez, eles perceberam isso. Nenhuma vez eles me perguntaram se eu me sentia bem, ou se eu precisava de ajuda.
Eles disseram apenas que era culpa do meu esforço sobre tudo, que era zero.
E isso não era verdade, eu juro que tentei.
Eles disseram que o meu reforço estava certo sobre eu não me esforçar em nada, e que estavam pagando-o atoa.
Mas isso não era verdade. Eram deveres de casa para fazer, provas complicadas, psicólogico afetado. Nenhum desses motivos eles enxergaram, e nenhum desses motivos eram suficientes para as minhas fugas da realidade.
Eu me afoguei no que não devia, e eles me culparam por isso também.
Eles disseram você brincou o ano inteiro.
Realmente, eu brinquei. Como eu poderia estudar mais de oito horas por dia como os meus amigos? Como eu conseguiria fazer isso, eu não fui capaz de acompanha-los, eu sinto muito.
Vocês não me perguntavam se eu tinha algum problema com as provas, com os professores ou com os meus colegas de classe.
Vocês nunca me perguntaram:
" Você está bem? Você precisa de ajuda? "
Vocês apenas diziam que eu estava fugindo. E eu realmente estava, eu queria ir para muito mais longe, mas isso não era possível.
Vocês disseram que eu me fazia de coitadinha, e que eu não conseguia fazer isso e isso era culpa minha.
Eu sinto muito por isso, eu não soube lidar com isso, eu sinto muito. Vocês disseram que não estava tudo bem em não saber lidar com isso, e que eu deveria aprender. Mas eu só tinha 13 anos. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo e eu estava tentando.
Eu sinto muito por achar que seja minha diferença de idade comparada aos outros. Mas eu sempre fui mais lenta com tudo, eu não seria madura mais rápido também.
Eu não consegui ser perfeita como algum dos meus primos formados nas melhores faculdades.
Então chegou o segundo ano.
Eu estava a ponto de desistir de tudo. Eu queria respirar um pouco e eu pensei que se pudesse pular ou cortar a maldita rede de proteção eu poderia ser livre.
Então eu peguei a tesoura, mas eu não fui capaz. Eu pensei, que tudo daria certo algum dia, e que minha dor não era tão profunda comparada a das outras pessoas.
Mas ainda estava doendo. E eu continuei andando com isso.
E então o terceiro chegou.
Eu pensei que nada daria certo e realmente, nada deu certo.
Tudo o que eu fiz foi jogado no lixo, tanto por vocês quanto por mim.
Vocês disseram que nenhuma das minhas tardes gastas estudando, ou que nenhuma das minhas notas eram o suficiente.
Eu consegui boas médias nas piores matérias. E mesmo quando erraram, vocês não acreditaram em mim. Vocês me olharam com desprezo e disseram que eu não fazia nada novamente, e que estavam desperdiçando dinheiro.
Eu sinto muito por isso.
Como se já não bastasse, das minhas menos uma falha, você ligou para o que importava para você novamente.
Minha faculdade e não minha saúde.
Acho que se esquecerá a ultima vez que eu fui ao hospital checar a minha saúde. Porque estava ocupado demais ligando para o trabalho.
Eu não os culpo por quererem me dar uma vida, educação. Mas eu não sou igual aos outros, que chegam ao sucesso, seja estudando muito e passando por situações difíceis ou de forma fácil.
Eu não consigo suportar isso sozinha, e por mais que eu tenha amigos ao meu lado, e por mais que digam que me apoiam eu não consigo porque é muita pressão em uma pessoa só.
E eu não tenho psicológico para lidar com isso. Eu estou com medo, eu estou assustada e nenhum de vocês me perguntam se eu estou bem.
Quando finalmente explodi e vocês viram que eu precisava de ajuda, vocês perceberam o quão mal eu estava, talvez não tenham percebido ainda. Mas eu não estou bem, e eu sinto muito por isso.
E em meio as lágrimas misturadas com o café amargo. Eu estou me preparando pro que vem a seguir, porque eu não quero desistir ainda, eu não desisti ainda.