Triângulo Infernal

Traição

   Era uma tarde de domingo cinzenta quando Julieta e Jésus bateram na porta da casa de Gabe. Anita abriu a porta e recebeu os meninos com um sorriso no rosto.

Eles subiram as escadas e bateram na porta de Gabe, aflitos.

- Já vou, mãe - ela pulou da cama.

- Somos nós, Gabe - Jésus lançou um olhar para Julieta, que inspirou forte e apertou os olhos.

Apesar de ser quase tarde, Gabe ainda não tinha saído do quarto e estava com roupa de dormir.

- Desculpem. Não tive tempo de mudar a roupa - ela estava com um shortinho e uma blusa de seda - Entrem.

- Nós viemos trazer más notícias - o tom de Jésus era tenso.

Ele lançou outro olhar para Julieta e Gabe ficou inexpressiva. O coração dela martelou, a garganta ficou seca, e ela sentou-se na cama, como se tivesse prestes a ouvir uma desgraça.

- Vocês estão me deixando assustada. Aconteceu alguma coisa com o Kaic? - ela abraçou as pernas e baixou a cabeça.

Jésus sentou no tapete escuro ao pé da cama e fitou a parede rosa do quarto.

- Você foi traída, Gabe. Kaic beijou Elza.

As palavras dele feriram como bisturi. Ela levantou o rosto e olhou para a parede do quarto por algum tempo, como se estivesse tentando entender o que o amigo falara. Com daquela afirmação, tudo o que era sólido no quarto desapareceu diante da sua vista e a garota perdeu o chão. Se estivesse de pé, os joelhos teriam falhado e ela teria caído. Ela ficou tão pasma e imóvel que poderia ouvir o barulho violento do próprio coração batendo.

- Gabe... - Julieta disse enquanto a amiga permanecia inexpressiva - Está tudo bem?

Gabe levantou e andou até o espelho em silêncio. Jésus se pôs de pé e olhou para Julieta e os dois olharam para a amiga que, neste momento, fechou o punho e socou o espelho com toda força. O espelho rachou-se em vários pedaços, formando várias dela. Depois, Gabe caiu sobre os joelhos em choro.

Os amigos correram para ajudá-la.

- Não fique assim, foi apenas um beijo - disse Julieta.

- Kaic é louco por você, Gabe.

Jésus levantou a amiga e a levou até a cama.

Gabe chorava como se Kaic tivesse morrido. Além de dor, muita dor, havia algo a mais naquele choro. Raiva.

- Eu não vou perdoá-lo. Nunca!

- Assim, você estará deixando o caminho livre para ela - Jésus deixou escapar enquanto ajeitava os óculos.

Gabe enxugou as lágrimas com as costas das mãos e olhou para ele.

- Do que você está falando?

- Eu não posso acreditar que isso está acontecendo – Kaic se queixava para Elza, que o olhava encantada.

Elza e Kaic estavam sentados na praça próximo à casa de Elza.

- Eu não posso acreditar que você consegue ser tão lindo desse jeito – Elza disse e ele riu.

- Qual é, garota. Estou falando sério – o tom de voz dele era risonho.

- Eu não acho que Gabi não vá perdoá-lo. Foi apenas um beijo.

- Eles pensam assim. Mas nós sabemos o que está acontecendo.