Ontem eu cheguei em casa tarde da noite. Isabel já estava dormindo ou fingindo, não sei. Mas eu estava bem chapado e talvez não me lembro das coisas direito. Não importa. Dormi bem.
Chego na imobiliária e a primeira ligação que recebo é de Amanda. Só para me lembrar de olhar se tem alguma casa disponível para alugar em uma dos nossos condomínios.
Prometo que vou verificar. Não sei o que Isabel pensa a respeito, então ligo para ela. Demora atender.
― Oi ― diz secamente. ― O que foi?
― Bom dia, meu amor! Amanda me ligou sobre a casa...
― Não precisa olhar― ela me interrompe. ― Não quero Amanda morando por aqui. O lugar dela é junto do marido dela. Não entendo sua preocupação com ela.
― Não estou preocupado com Amanda. Também não entendo por que está sendo tão hostil com ela. Sempre foram amigas...
― Ah! Marcelo! Não me venha com sermões logo pela manhã.
Ela não me dá tempo de responder e desliga o telefone. Eu fico com ele no ar por um instante. Olha a foto de Isabel se encolhendo ao final da chamada e me dá um nó na garganta.
Como ajudar Isabel se ela não quer ajuda? Não sei mais o que fazer. Tudo o que eu digo se volta contra mim. Sei que ela está sofrendo, quero encontrar um jeito de curar sua dor, mas como?
Estou perdendo a esperança e tenho medo de me perder pelo caminho da busca. Às vezes já não nos vejo mais como o casal de antes.
A verdade é que cada dia que passa Isabel se fecha mais e se torna mais amarga. Não dá espaço para ninguém entrar. Ela se esquiva de toda tentativa de carinho que tento oferecer.
Até quando suportarei tanta rejeição?
* * *
Isabel está na banheira quando entro no quarto. Tiro minhas roupas e jogo no chão ao lado da cama. Abro a porta do banheiro e ela se assusta ao me ver nu.
― Que susto!
― Desculpe! Resolvi sair mais cedo, afinal hoje é sexta-feira. Outro final de semana nos espera.
Isabel me olha de cima a baixo.
― Ah! Marcelo, não quero que você tome banho comigo hoje.
Eu paro e coloco um pé na beirada da banheira. Finjo que não escutei o que ela disse e entro com tudo. Água espalha pra todos os lados.
Isabel se levanta nervosa e se enrola em uma toalha felpuda.
― Palhaçada!
E sai do banheiro.
Dou um soco na água. Apenas pra aliviar a tensão.
― Droga! Droga!...
Tenho vontade de ir atrás dela e dizer um monte de coisas, mas logo penso que é melhor me conter. Posso piorar as coisas ainda mais.
― Isabel! ― Grito. ― Venha aqui, por favor! ― Digo em um tom suplicante, mas com muita calma. Não quero deixá-la nervosa.
Ela aparece na porta.
― O que foi?
Eu sorrio pra ela.
― Faz uma massagem nos meus ombros. Vem cá. Apenas uma massagem.
― Agora não. Preciso preparar o jantar ― diz e vira as costas rapidamente.
Termino de tomar o banho. Visto uma bermuda jeans e uma camiseta de malha vermelha.
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Mar de rosas e de espinhos
Mystery / ThrillerQuando a desconfiança entra na vida de Isabel e Marcelo, o mar de rosas em que vivem se transforma num emaranhado de espinhos e ambos podem sair feridos. Com a morte do pai dela alguns segredos do passado são revelados, e só então começam a saber q...