Capítulo 9 - Isabel

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O mundo caiu em cima de mim e um trator passou por cima. É assim que me sinto desde o dia em que minha... mãe disse que não é minha mãe. É uma história confusa e sem sentido, mas acreditei nela.

Acreditei porque ela sempre foi hostil comigo. Sempre me tratou com muita severidade, principalmente quando meu pai não estava por perto. Então de certa forma faz sentido. Mas eu preferia acreditar que ela me tratava daquele jeito para me educar e não para me castigar. Não era eu quem merecia ser castigada. Eu era apenas uma criança e não tinha culpa dos atos do meu pai e sua amante.

Roberta se aproxima de mim e diz que o almoço está pronto. Digo que vou esperar Marcelo. Olho as horas e sei que ele chegará daqui a pouco. Ela se afasta cantarolando. Ela está sempre feliz e cantante. Às vezes me irrita, mas hoje a sua cantiga me serve de alento e até consigo sorrir.

Naquele dia quando cheguei em casa, Marcelo foi tão solícito, tão homem, tão acolhedor que faria qualquer mulher se apaixonar por ele. Apenas abriu os braços e me envolveu em um abraço reconfortante. Não me fez uma pergunta, mas secou minhas lágrimas e acalmou meu coração.

― Não importa o que aconteceu. Seremos felizes porque amo você.

Ele me disse esta frase repetidas vezes até eu me sentir mais calma e segura. Eu não consegui falar nada pra ele naquele momento. O que eu fiz foi chorar, chorar e chorar. E ele foi paciente e não se desgrudou de mim e nem especulou nada. Olhava-me com ternura e dedicação. Eu via preocupação e amor em seus olhos.

Só no outro dia consegui falar com ele toda a história. Estávamos sentados ao redor da piscina. Pedi que pegasse uma garrafa de vinho. Eu precisava beber alguma coisa.

Então ele me serviu uma taça e depois uma pra ele.

― Eu vou contar pra você a conversa que tive com minha mãe.

― Se não quiser...

― Eu preciso.

Eu bebi um pouco do vinho e comecei a contar.

Minha mãe disse que meu pai se envolveu com uma moça da fazenda. A filha de um dos vaqueiros. Ela tinha apenas 17 anos e ficou grávida dele.

Quando o pai da moça ficou sabendo da gravidez ele ameaçou colocá-la para fora de casa, ela então procurou meu pai e disse que iria contar ao seu pai quem era o pai da criança que ela trazia no ventre. Ela disse ainda que ele daria o filho dela para adoção. Não criaria filho bastardo.

Meu pai procurou o pai dela e contornou a situação. Disse que assim que o bebê nascesse ele o adotaria e que Júlia teria o maior prazer em cuidar da criança. Disse também que arcaria com todas as despesas referentes a gravidez da filha, mas que pelo amor de Deus não a colocasse para fora de casa.

Minha mãe, quer dizer, Júlia acredita que ele tenha dado uma boa grana para o vaqueiro também, mas isso é apenas suposição dela, pois ele concordou muito facilmente. Porém, até então Júlia não sabia de nada, mas havia rumores de que o meu pai que tinha engravidado a moça. Apenas rumores.

Só que minha mãe, a Júlia também estava grávida. Mas acho que omiti um detalhe muito importante pra você compreender essa história. Quando meu pai engravidou a moça ele ainda era solteiro, quer dizer, noivo, faltava dois meses para o seu casamento. Só quando a barriga da moça cresceu é que a notícia da gravidez dela se espalhou e meu pai a esta altura já estava casado há três meses.

― Espera aí, Isabel. Deixa eu ver se estou entendendo. Quando seu pai descobriu que tinha engravidado a moça ele já estava casado com dona Júlia e dona Júlia também estava grávida? É isso?

Mar de rosas e de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora