Capítulo 14 - Marcelo

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Nada é tão angustiante quanto o silêncio entre duas pessoas que se amam. Mas desta vez eu não vou dar o meu braço a torcer. Isabel precisa aprender a dar o primeiro passo. Ela precisa aprender a se humilhar e reconhecer seus erros. Não vou mais alimentar seu ego.

Hoje faz quatro dias que estamos brigados. Tenho feito um esforço supremo para não tomá-la em meus braços e dizer que eu a amo. O amor exige sacrifícios e eu preciso me manter firme até o final. Isabel precisa amadurecer.

Estaciono o carro diante de casa e vejo a nova vizinha saindo com sua filhinha. Ela sorri e acena pra mim.

― Oi ― digo. ― Levando a princesa pra passear?

― Vou levá-la para ver a praça.

― Ela vai amar.

Ela sorri e sai.

Eu viro para trás e grito:

― Cuidado com o lago.

As duas saem de mãos dadas. A pequena deve ter uns dois anos. Vez ou outra abaixa para pegar alguma coisa no chão.

Por uns segundos me vejo sendo pai. Brinco com meus filhos à beira da piscina depois pulo com eles na água.

Volto ao meu mundo e entro em casa.

Está silêncio.

Subo até o quarto. Isabel não está.

Vou até o atelier. Ouço risos.

Vejo Isabel em pé terminando de embalar o quadro. Ao seu lado está Laura. Esta, ao me ver, se atira em meus braços e me beija a face.

― Obrigada Marcelo. Dona Isabel é mesmo espetacular. Adorei o quadro. Meu pai vai ficar fascinado, tenho certeza.

Eu fico sem jeito diante do olhar de Isabel. Laura me solta e continua a falar das qualidades de Isabel como pintora e acho que nem percebe o constrangimento entre nós.

― Ficou lindo mesmo ― eu digo depois que ela para de falar. ― Isabel é uma grande artista.

Ela se vira para Isabel e agradece. Por fim diz:

― Qualquer dia desses vamos a um restaurante ou cinema, que tal? Foi tão maravilhoso o churrasco lá em casa. Gosto de vocês.

Eu fico meio sem palavras.

― Quem sabe? ― diz Isabel com um sorriso enigmático. Depois ela me olha furtivamente e tenho a sensação que é pra ver minha reação.

― Eu acompanho você até a porta Laura ― digo e pego o quadro embalado das mãos de Isabel.

― Deixa que eu mesma acompanho, meu amor ― diz Isabel segurando o quadro com força. ― Você deve estar cansado. Pode entrar e tomar seu banho. Daqui a pouco vou lá te ajudar...

Laura sorri e sai.

* * *

Quando acordo Isabel já saiu para sua caminhada matinal. Vou até a cozinha e Roberta me se serve o café.

― Seu pai está bem?

― Está sim. Já está em casa. Depois tenho que ver com dona Isabel como vou pagar a ela.

― Pagar o que?

― As despesas do meu pai com o hospital. Ela que acertou tudo lá pra mim.

Eu fico meio perplexo, bebo um pouco de café.

― Não se preocupe com isso. O importante é que ele está bem e que não foi nada grave.

Mar de rosas e de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora