Nada é tão angustiante quanto o silêncio entre duas pessoas que se amam. Mas desta vez eu não vou dar o meu braço a torcer. Isabel precisa aprender a dar o primeiro passo. Ela precisa aprender a se humilhar e reconhecer seus erros. Não vou mais alimentar seu ego.
Hoje faz quatro dias que estamos brigados. Tenho feito um esforço supremo para não tomá-la em meus braços e dizer que eu a amo. O amor exige sacrifícios e eu preciso me manter firme até o final. Isabel precisa amadurecer.
Estaciono o carro diante de casa e vejo a nova vizinha saindo com sua filhinha. Ela sorri e acena pra mim.
― Oi ― digo. ― Levando a princesa pra passear?
― Vou levá-la para ver a praça.
― Ela vai amar.
Ela sorri e sai.
Eu viro para trás e grito:
― Cuidado com o lago.
As duas saem de mãos dadas. A pequena deve ter uns dois anos. Vez ou outra abaixa para pegar alguma coisa no chão.
Por uns segundos me vejo sendo pai. Brinco com meus filhos à beira da piscina depois pulo com eles na água.
Volto ao meu mundo e entro em casa.
Está silêncio.
Subo até o quarto. Isabel não está.
Vou até o atelier. Ouço risos.
Vejo Isabel em pé terminando de embalar o quadro. Ao seu lado está Laura. Esta, ao me ver, se atira em meus braços e me beija a face.
― Obrigada Marcelo. Dona Isabel é mesmo espetacular. Adorei o quadro. Meu pai vai ficar fascinado, tenho certeza.
Eu fico sem jeito diante do olhar de Isabel. Laura me solta e continua a falar das qualidades de Isabel como pintora e acho que nem percebe o constrangimento entre nós.
― Ficou lindo mesmo ― eu digo depois que ela para de falar. ― Isabel é uma grande artista.
Ela se vira para Isabel e agradece. Por fim diz:
― Qualquer dia desses vamos a um restaurante ou cinema, que tal? Foi tão maravilhoso o churrasco lá em casa. Gosto de vocês.
Eu fico meio sem palavras.
― Quem sabe? ― diz Isabel com um sorriso enigmático. Depois ela me olha furtivamente e tenho a sensação que é pra ver minha reação.
― Eu acompanho você até a porta Laura ― digo e pego o quadro embalado das mãos de Isabel.
― Deixa que eu mesma acompanho, meu amor ― diz Isabel segurando o quadro com força. ― Você deve estar cansado. Pode entrar e tomar seu banho. Daqui a pouco vou lá te ajudar...
Laura sorri e sai.
* * *
Quando acordo Isabel já saiu para sua caminhada matinal. Vou até a cozinha e Roberta me se serve o café.
― Seu pai está bem?
― Está sim. Já está em casa. Depois tenho que ver com dona Isabel como vou pagar a ela.
― Pagar o que?
― As despesas do meu pai com o hospital. Ela que acertou tudo lá pra mim.
Eu fico meio perplexo, bebo um pouco de café.
― Não se preocupe com isso. O importante é que ele está bem e que não foi nada grave.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mar de rosas e de espinhos
Mystery / ThrillerQuando a desconfiança entra na vida de Isabel e Marcelo, o mar de rosas em que vivem se transforma num emaranhado de espinhos e ambos podem sair feridos. Com a morte do pai dela alguns segredos do passado são revelados, e só então começam a saber q...