Capítulo 18 - Isabel

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Acordo bem cedo e vou para minha caminhada. O dia está lindo! Há muitos pássaros nesta manhã nas árvores frutíferas do condomínio. Gosto de ouvir o barulho deles. Lembro-me da fazenda, dos meus tempos de infância quando eu passava horas e horas no quintal observando-os construir seus ninhos. Depois eu pegava meu caderno de desenho e tentava transpor o que eu tinha visto para o papel. Na maioria das vezes dava certo.

Eu sempre admirei os pássaros. São tão bonitos e livres voam para onde querem. Não tem normas a cumprir... Eu queria ser um pássaro quando criança, mas tinha medo de alguém me dar uma pedrada. Tinha medo de ser aprisionada em uma gaiola. É tão irônico isso, pois hoje me sinto tão engaiolada como um pássaro...

Quando volto pra casa, Marcelo está terminando de tomar o seu café. Ele me olha sorridente.

Eu me aproximo e limpo o suor da minha testa com uma toalha de rosto. Beijo-lhe suavemente os lábios.

― Reponha bem suas energias, meu amor, porque esta noite você deve ter perdido muitas.

Marcelo me olha com cara de bobo e sorri encabulado.

― Bom trabalho.

Antes que ele diga alguma coisa eu saio e falo rumo ao meu quarto:

― Vou tomar um banho. Amo você!

* * *

Uma criança chora sem parar e não consigo me concentrar no meu trabalho. Coloco o pincel na mesa ao lado da tela que estou pintando, tiro o avental e vou até Roberta.

― Essa criança chora demais. Está me incomodando.

Roberta desliga a torneira e se vira para mim.

― É da nova vizinha. Deve estar doente. A semana passada eu a ouvi chorar umas duas vezes. E muito.

Eu olho para Roberta e depois vou até a janela. Olho para a casa ao lado mas não vejo nada.

― Eu vou até lá. Talvez ela precise de ajuda.

Roberta me olha encabulada. Imagino que deve pensar que não tenho jeito com criança, pois até hoje não arrumei filhos.

Quando chego à rua um garoto passa correndo por mim atrás de sua bola.

― Cuidado! ― Grito com ele e vejo a sua mãe logo atrás com um bebê no colo. Ela me sorri e eu aceno a mão. É a inquilina da casa número um. É uma das primeiras moradoras do condomínio.

Chego diante da casa da nova vizinha e entro pelo portão ao ver uma mulher varrendo a varanda da frente. Ela se assusta ao me ver.

O choro da criança está mais alto agora.

― Bom dia!

― O que você quer? A dona da casa não está...

Eu caminho em direção a ela.

― A criança está passando mal? Talvez eu possa ajudar...

Ela para em minha frente com a vassoura na mão. Seu olhar é ameaçador.

― Pirraça. Ela é uma menina muito pirracenta.

Eu passo por ela e sigo em direção à porta.

― Você não pode entrar aí!

― Por que não? ― Pergunto encarando-a.

― Você não foi convidada a entrar. Quem você pensa que é?

Mar de rosas e de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora