Acordo bem cedo e vou para minha caminhada. O dia está lindo! Há muitos pássaros nesta manhã nas árvores frutíferas do condomínio. Gosto de ouvir o barulho deles. Lembro-me da fazenda, dos meus tempos de infância quando eu passava horas e horas no quintal observando-os construir seus ninhos. Depois eu pegava meu caderno de desenho e tentava transpor o que eu tinha visto para o papel. Na maioria das vezes dava certo.
Eu sempre admirei os pássaros. São tão bonitos e livres voam para onde querem. Não tem normas a cumprir... Eu queria ser um pássaro quando criança, mas tinha medo de alguém me dar uma pedrada. Tinha medo de ser aprisionada em uma gaiola. É tão irônico isso, pois hoje me sinto tão engaiolada como um pássaro...
Quando volto pra casa, Marcelo está terminando de tomar o seu café. Ele me olha sorridente.
Eu me aproximo e limpo o suor da minha testa com uma toalha de rosto. Beijo-lhe suavemente os lábios.
― Reponha bem suas energias, meu amor, porque esta noite você deve ter perdido muitas.
Marcelo me olha com cara de bobo e sorri encabulado.
― Bom trabalho.
Antes que ele diga alguma coisa eu saio e falo rumo ao meu quarto:
― Vou tomar um banho. Amo você!
* * *
Uma criança chora sem parar e não consigo me concentrar no meu trabalho. Coloco o pincel na mesa ao lado da tela que estou pintando, tiro o avental e vou até Roberta.
― Essa criança chora demais. Está me incomodando.
Roberta desliga a torneira e se vira para mim.
― É da nova vizinha. Deve estar doente. A semana passada eu a ouvi chorar umas duas vezes. E muito.
Eu olho para Roberta e depois vou até a janela. Olho para a casa ao lado mas não vejo nada.
― Eu vou até lá. Talvez ela precise de ajuda.
Roberta me olha encabulada. Imagino que deve pensar que não tenho jeito com criança, pois até hoje não arrumei filhos.
Quando chego à rua um garoto passa correndo por mim atrás de sua bola.
― Cuidado! ― Grito com ele e vejo a sua mãe logo atrás com um bebê no colo. Ela me sorri e eu aceno a mão. É a inquilina da casa número um. É uma das primeiras moradoras do condomínio.
Chego diante da casa da nova vizinha e entro pelo portão ao ver uma mulher varrendo a varanda da frente. Ela se assusta ao me ver.
O choro da criança está mais alto agora.
― Bom dia!
― O que você quer? A dona da casa não está...
Eu caminho em direção a ela.
― A criança está passando mal? Talvez eu possa ajudar...
Ela para em minha frente com a vassoura na mão. Seu olhar é ameaçador.
― Pirraça. Ela é uma menina muito pirracenta.
Eu passo por ela e sigo em direção à porta.
― Você não pode entrar aí!
― Por que não? ― Pergunto encarando-a.
― Você não foi convidada a entrar. Quem você pensa que é?
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Mar de rosas e de espinhos
Mystery / ThrillerQuando a desconfiança entra na vida de Isabel e Marcelo, o mar de rosas em que vivem se transforma num emaranhado de espinhos e ambos podem sair feridos. Com a morte do pai dela alguns segredos do passado são revelados, e só então começam a saber q...