Capítulo 21 - Marcelo

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Eu paro ao lado da rodoviária e Iolanda entra no carro. Ela beija delicadamente o meu rosto.

― Vamos pra ilha. Tenho um imóvel para alugar lá.

― Claro.

― Você não pode ficar me ligando o tempo todo, Iolanda! Eu tenho uma vida diferente agora. Entende?

Ela faz que sim com a cabeça e continua muda até chegarmos à casa.

Eu demoro encontrar a chave do portão. É uma casa branca com um pequeno jardim na frente, mas ele não está bem cuidado. Faz um mês e pouco que ela está desocupada.

Logo que eu entro com Iolanda ouço passos vindo em nossa direção.

Fico alerta e não acredito quando vejo Isabel e Laura chegando.

― Oi, meu amor! ― ela me diz sorridente e me envolve em um abraço caloroso.

Iolanda abaixa a cabeça e eu fico sem saber o que fazer, mas ela não dá tempo e continua dizendo:

― A moça aí vai alugar a casa?

Iolanda me olha e antes que ela diga alguma coisa eu falo:

― Está olhando, mas acho que está fora do padrão dela, pelo que me disse.

Vejo Isabel olhando-a de cima a baixo.

― Dê um desconto pra ela.

Eu olho para Laura que parece confusa com a situação e depois fito Iolanda.

― Isabel é minha esposa. Eu esqueci de apresentar.

Ela estende a mão e Isabel hesita um pouco, mas acaba apertando a mão de Iolanda.

― Muito prazer! ― Iolanda diz.

― E esta é nossa vizinha, a Laura.

As duas se cumprimentam e o silêncio paira no meio de nós. Ninguém se move, ouço apenas o som da nossa respiração.

Iolanda caminha em direção à porta.

― Marcelo, muito obrigada. Vou olhar outra casa.

― Eu te dou uma carona ― diz Isabel. Eu fico apreensivo e temo que Iolanda aceite.

― Eu insisto ― diz Isabel. ― Se quiser pode se juntar a nós para tomarmos um açaí. Você gosta?

Percebo que Iolanda fica sem resposta. Isabel passa uma mão pela sua cintura e praticamente a arrasta de perto de mim.

― Não seja boba! Vamos com a gente. Marcelo não poderá pois tem que voltar para imobiliária. Alguém tem que trabalhar, não é mesmo?

Laura sorri e Iolanda olha para mim, como se pedisse minha permissão. Eu aceno que sim com a cabeça, mas fico muito tenso. Não sei o que Isabel está pensando. Ela está expansiva e eufórica.

Vejo as três saindo no carro, tranco a casa e saio depois. Se Isabel pressionar Iolanda ela acabará abrindo o jogo e aí estará tudo perdido pra mim.

Flashes vem em minha cabeça. Meu passado me assombra.

Policiais. Algemas. Sangue. Prisão.

Dizem que nada fica escondido nesta terra. Mas há segredos que nunca poderão ser revelados. Há segredos que são como tornados, por onde passam destroem tudo.

Eu sei que todo relacionamento esconde segredos e mentiras, e cada um deve cuidar para que não sejam reveladas as mentiras e nem deixar que os segredos venham à tona. Se isso acontecer pode por fim a qualquer relacionamento, até mesmo àqueles que são tidos como os mais sólidos. E isso tudo é muito estranho, porque às vezes os segredos não dizem nada do presente, é só um passado feio que você não faz questão de dividir com a pessoa que ama.

Mar de rosas e de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora