Capítulo 32 - Isabel

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Acho que Marcelo não desconfia de nada mesmo. Não desconfiou das roseiras, mostrou-me a foto do carro da sequestradora. Isto me assustou, mas já tomei minhas precauções e se ele chegar até a locadora de veículos, já apaguei meus rastros.

Mesmo que a investigação chegue até mim Marcelo não acreditará. Ele confia cegamente em mim. Tudo o que eu digo para ele, mesmo uma grande mentira se torna verdade. Ele não consegue ver maldade em mim, e eu realmente não sou má, apenas cuido para que nossa relação seja eterna. Eu jurei isso no altar, ele também jurou. Viveremos juntos até que a morte nos separe.

Tudo o que eu faço é pensando em nossa harmonia conjugal. Somos um casal perfeito. Ele me ama e confia plenamente em mim e eu também o amo muito.

Eu paro o carro no estacionamento e sigo em direção ao laboratório. Marcelo queria vir comigo, mas eu preferi vir sozinha mesmo. Não haverá nenhuma novidade neste resultado, mas mesmo assim sinto o meu coração acelerado. Há um suspense bobo dentro de mim, dúvidas idiotas que não fazem sentido.

Espero a minha vez e me aproximo do guichê. Digo o meu nome, a atendente abre uma gaveta. Vejo uma porção de envelopes lá dentro e de repente ela tira um e me entrega.

Confiro o nome.

― Obrigada!

Saio com o resultado do exame nas mãos e vou até o estacionamento. Entro no carro e abro o envelope.

Leio e releio a conclusão. Alguma coisa está errada. Muito errada. Há muitas vozes em minha cabeça, muito barulho. Acho que estou ficando louca.

Coloco o envelope no banco do carona e olho pra ele como se fosse um monstro, depois saio.

Lágrimas querem descer pelos meus olhos, mas eu não permito. Sentimentos idiotas querem dominar-me, mas eu os repreendo. Preciso ser indiferente e não me deixar levar por eles. É tarde demais para reverter tudo o que passei. O sol não vai brilhar em minha noite escura. A chuva não será capaz de molhar a terra seca em meu coração. Sou pedra, sou aço, mas sou flor para o meu amado Marcelo, e agora é só com ele que eu me importo.

* * *

Quando ligo meu celular vejo inúmeras ligações de Marcelo. Já é noite e eu sabia que ele estaria preocupado. Eu ligo para ele.

― Está tudo bem comigo.

― Você quer me matar? ― Ele diz. ― Onde você está? O que aconteceu? E o resultado do exame?

― Calma, meu amor, já estou indo pra casa. Tinha que resolver algo urgente, por isso desliguei o celular, pois sabia que seria demorado.

Eu desligo o celular e sigo em direção à nossa casa. A minha vida é mesmo uma reviravolta sem fim. Meu passado é tão louco que quero viver um presente bem diferente, sem mentiras... Mas agora é impossível.

Droga! Será que minha vida toda será sempre pautada por mentiras e traições? O que eu trago dentro de mim? Maldição ou bênção? Quem eu sou: anjo ou demônio?

Depois de tudo que eu vivi eu mereço ser feliz, eu preciso ser feliz, eu tenho que ser feliz, mas o que é a felicidade? O que é, droga, a felicidade?

Eu entro com o carro na garagem e sigo para dentro de casa. Percebo que tenho visita.

Marcelo me olha perplexo e vem ao meu encontro. Envolve-me em um abraço caloroso.

Dona Júlia me olha com os olhos rasos d'água e se aproxima de mim. Eu me solto de Marcelo e me esquivo dela.

Iolanda para no meio da escada ao ver a cena. Observa-nos por uns segundos e resolve voltar para seu quarto.

Mar de rosas e de espinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora