In my Arms

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Beatriz penteava os cabelos em frente ao espelho da penteadeira de sua casa. Respirou fundo e prendeu os fios loiros em um coque bem arrumado, para só depois terminar a maquiagem que encobriria os resquícios da noite de choro.

Passou a base com cuidado, pintou as pálpebras com cuidado, piscou várias vezes os olhos azuis antes de abrir seu rímel. Não iria borrar sua maquiagem por Kagaho... Não de novo. Suspirou e abriu seu batom cor-de-rosa, passando-o sobre seus lábios pequenos antes de se encarar novamente.

Era só uma casca, sua alma tinha sido estraçalhada quando ele tomou seus filhos. Ikki e Shun eram a única coisa boa que aconteceu naquele relacionamento e, depois de tantas brigas na justiça, o homem conseguira tirá-los de sua guarda antes de assinarem os papéis de divórcio.

Passara meses em casa, sozinha, apenas chorando. Emagreceu quase dez quilos, uma vez que não conseguia se alimentar direito, e, por mais que El Cid, seu advogado e amigo, dissesse estar tentando revogar a ordem, ela sabia que Kagaho conseguiria os meninos. Ele tinha muito mais dinheiro do que ela jamais conseguiria desembolsar, e devia ter comprado o juiz para lhe dar a guarda.

Quando o dinheiro acabou, ela ligou para El Cid, disse que iria desistir daquilo, que seus filhos já estavam perdidos e ela acabaria com sua vida naquele momento. Desesperado, o advogado dirigiu mais do que depressa para a casa da mulher, e a encontrou jogada no chão, com os braços cortados.

Pela primeira vez, ele implorou aos céus para que não a levassem, e, com pressa, carregou-a para o carro, e a levou com urgência para o hospital mais próximo. Enquanto ela era atendida, El Cid praticamente acionou toda sua rede de advogados, e ligou para os advogados de Kagaho, marcando uma reunião de emergência.

Além dos cortes, Beatriz ingerira uma quantidade grande de remédios para dormir, o que dificultou ainda mais o trabalho dos médicos, levando-a à UTI por coma induzido, de forma a amenizar os efeitos colaterais que a quantidade exorbitante de soníferos e as várias reanimações por adrenalina e desfibrilador teriam.

Dois dias de uma guerra no tribunal se seguiu, El Cid, ou Amamiya Kazuhiko, abrira um processo contra Hattori Kagaho, acusando-o de colocar a cliente, Beatriz Zocoler Hattori, em perigo ao retirar dela as crianças e, várias vezes depois disso, chantageá-la dizendo que só devolveria os meninos de ela voltasse para casa.

Os advogados de Kagaho alegavam que mulher, além de ser mãe solteira, não tinha condições mentais de criar as crianças, uma vez que tentara o suicídio.

Na casa da família Hattori, Ikki encontrara um esconderijo para ele e Shun fugirem dos avós. No quarto de chá, ao leste, havia um fundo falso no assoalho, e lá eles ficavam escondidos durante as brigas do pai com a amante, Shizuka, que os odiava mais do que tudo.

Lá, Ikki e Shun fugiam da vara de bambu do avô, rígido e rigoroso com os estudos, sempre pronto para lhes bater com a varinha quando erravam algo "importante". Shun chorava perguntava por que a mãe não estava com eles e, muitas vezes, dormia entre soluços, ele tinha apenas sete anos, ainda não entendia as coisas.

Ikki já era diferente, com seus onze anos, já compreendia perfeitamente o que acontecia. Chorou quando os advogados o arrancaram dos braços da mãe, aos oito anos, e desesperou-se quando a mãe correu atrás do carro preto onde foram colocados, gritando o nome dos filhos enquanto chorava.

Bateu as mãos no vidro de trás ao vê-la parar e cair de joelhos, enterrando as mãos no rosto e gritando. Lembrava-se da mãe chorando e depois as imagens da mulher sorridente a amorosa lhe voltavam à mente, e tudo aquilo o fazia sentir apenas mais raiva do pai.

Deixando Shun sozinho no esconderijo, Ikki esgueirou-se pela casa, foi até o quarto da avó e de lá roubou um celular. Escondendo-se no armário, ele discou o número de El Cid, o "amigo bonzinho da mamãe", e esperou que ele atendesse.

Mother's LamentWhere stories live. Discover now