- É muito provável que você esteja exagerando.
Disse Hanna tentando me acalmar, mesmo não obtendo sucesso, pois eu de qualquer jeito não conseguia acreditar, não acreditava em nenhuma palavra que ele me dissesse. Isso era real? Como todas essas coisas aconteceram tão rápido?
- Porque ele me escondeu isso? Ele podia ter simplesmente dito, ele sabia que eu não iria julgar se ele só dissesse logo que... – Ia continuar a resmungar até ser interrompida por Hanna, que colocou o dedo indicador na minha boca e deu um sorriso, dizendo:
- Teve ter algum motivo do qual ele não te disse isso primeiramente. Sei que não é culpa sua, deve ser algo dele, por favor, fique tranquila, não acho que será algo realmente grave.
- Hanna ele me escondeu uma criança! Como isso não é grave? Aliás, antes de tudo, ele devia ter conversado comigo, não sei se estou preparada para ser mãe. Eu sempre quis ter um filho... mas, assim do nada?
- Não precisa se preocupar tanto com isso, sei que será uma ótima mãe, e eu sei que ele fez isso por um bom motivo.
- Hanna... eu espero muito, que você tenha razão. – disse colocando a mão no ombro dela e dando um sorriso desleixado, sem deixar de mostrar a expressão de preocupação que estava em todo meu rosto.
Eu não posso ter filhos. Não que eu não queira, é por que realmente não posso. Descobri a infertilidade faz cinco meses, e quando vejo, meu marido adota uma criança! Sem nem sequer me perguntar, ou pelo menos contar que estaria adotando uma criança. Eu acharia melhor outro tipo de surpresa, como uma viagem para um lugar que não gosto, descobrir que a sogra iria passar a morar conosco, mas, uma criança? Assim, do nada?
A cada ano ele me impressiona, lembro de quando conheci ele, ele já era assim de surpresas bem malucas. Eu fui para um bar com a minha amiga Hanna para bater um papo e se divertir, até que ele chegou e me perguntou se eu queria um drink, e que ele pagaria, eu nem fazia ideia de quem ele era, mas já estava querendo fazer questão de me pagar uma bebida. Imagine só, chegar num estranho e pagar uma bebida? As cantadas nunca mudam... Mas mesmo sendo daquele jeito, não pude evitar. Depois de quase uma hora conversando acabei me apaixonando por ele. Trocamos os números e sempre nos falávamos. Dois anos depois, nos casamos. E agora estou aqui com mais uma surpresa dele, que ao contrário da qual fez nós dois ficarmos juntos, é algo bem maior. Uma filha. Nós sempre queríamos ter filhos, eu sempre tive esse sonho de ser a mãe perfeita, e ele o pai perfeito, mas agora com vinte e sete anos não sei se estou pronta para ter uma filha de verdade. E não estou.
É por isso que hoje, fiz uma surpresa pra ele, preparei um jantar maravilhoso esperando ele chegar do trabalho, arrumei nossa filha do jeitinho que faria. Não posso, não pude. Queria, mas não quero.
A culpa não é minha se o frango estava delicioso, querido. Lembre-se de não desperdiçar nem um pedaço, já estou cheia. Me desculpe se esqueci algum osso... mas é que achei tão adorável como é por dentro. Não me pergunte o ingrediente, ele é bem secreto, você mesmo o escondeu de mim.
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Histórias da meia noite
RandomColetânea de histórias curtas feitas por mim para se ler na meia noite. Cada capítulo é uma história diferente, mas o clima parece... o mesmo?