Sabe aquela sensação que você tem quando o silêncio invade sua mente e você percebe que sua vida tomou o exato rumo que você nunca quis que tomasse? Então, eu nunca tive isso. Nem sequer uma vez. Eu sempre tive plena certeza do que queria e, por sorte ou não, tudo sempre seguiu conforme o Script.
O segredo? Simples. Não se limite. Sempre esteja pronto, disposto e empenhado pelo mais além. É óbvio que uma sequência de planos ampla e sem limitações esta sujeita a invasões inevitavelmente catastróficas. Pra lidar com elas, você apenas não permita que cresçam. Se isso acontecer, elas vão começar a se apoiar em você e, com isso, elas vão estar sempre um ou dois passos a frente de você.
Dês de sempre, eu consegui assumir e assimilar muito bem o fato de que, se você pretende subir na vida com alguém, os resultados podem ser, não só incertos de um jeito negativo, como inimaginavelmente mais sujeitos a falhas. Não é atoa que lobos solitários são considerados os mais perigosos entre os predadores.
-Pronta, nogueira?- Michel sorriu. O terno escurecido quase não combinava com ele, se não fosse a gravata azul água. Fazia contraste com os olhos que eram, sem dúvida, seu maior charme.
-MB me apressando? A que ponto chegamos?- Ergui meu corpo da cadeira, analisando uma última vez a mulher que o espelho refletia. Eu gostava dela. Os olhos maquiados mostrando atitude, tal como a confiança dos saltos finos. O vestido avermelhado escolhido a dedo, com todo o cuidado para esculpir os tamanhos certos. Apesar de gostar muito da definição, eu não a chamaria de loba solitária.
-Arrasando, como sempre.- Felipe comentou, do lado de fora da porta.
-Bem que dizem, a ocasião faz o ladrão. Ladra, no seu caso.- Completou guto, oferecendo o copo a Felipe. Brindaram a sua estranha sincronia. Eu estava particularmente feliz de tê-los ali. Os lagostins sempre serão o meu maior orgulho, nada mais justo do que uma visão especial da minha mais nova conquista.
-Já pensou em como vai ser quando finalmente estiver nas lojas?- Perguntou MB, animado com a ideia.
-Senhora, por favor, me leve ao corredor especial das maquiagens S.A.M.--Ele fez gestos engraçados com as mãos, forçando os lábios para frente quando puxava alguma das letras. Me permiti rir. Era divertido ver como Michel observava o mundo ao seu redor.
-Samantha, o evento já vai começar. Tudo pronto por aqui?-- Anderson esgueirou a cabeça entre Felipe e guto. Parecia nervoso. Era o primeiro grande evento da carreira dele como produtor e, de quebra, sua primeira vez em um evento presencial. Acho que era motivo o suficiente para o nervosismo.
-Claro!- Me virei em sua direção, dando um último tchauzinho pros meus companheiros de banda. Era a hora do show.
A casa era enorme, talvez uns cento e trinta e três metros quadrado por andar.Não que eu detestasse casas grandes, mas exageros sempre me chamavam a atenção. Caminhei até a entrada, sorridente. Era a minha hora.
Hora de iniciar um novo capítulo na minha vida. Eu suspirei, orgulhosa de mim mesma. Me posicionei em frente a porta, me preparando psicologicamente pra tudo que havia lá fora. Fãs, empresários, amigos e, com toda certeza, uma boa parte da imprensa. Televisiva ou da internet. Todos estavam ali para me prestigiar. Para prestigiar o nascimento de uma nova eu. Uma saudade momentânea arriscou crescer, mas logo a enxotei para um canto escuro e sem cor do meu peito. Aquele era um momento de felicidade, que eu conquistei sozinha. Era um lugar onde ela não tinha espaço. Ou eu achava que não.
-tudo pronto? abram a porta!- foi Anderson quem deu a ordem. A apresentação já tinha terminado e, como o nascimento do sol, a luz inundou a sala principal da minha mais nova casa. Ao longe, uma onda de gritos emanava uma energia positiva. O som se ergueu, com surto de fãs, flashes de câmeras, sorrisos amigos, outros cúmplices. Ao longe eu vi Clara, sorrindo pra mim em um belo vestido rosa bebê.
O som do meu salto era abafado pela multidão descontrolada. Me permiti acenar para eles, recebendo mais gritos como resposta.
Eu estava pronta para começar a falar. A agradecer e explicar como funcionaria o projeto, mas um som forte me interrompeu. Ao longe, uma pequena muvuca destacou um grupo desajeitado de pessoas. Usavam roupas sujas de tinta, calças moletom alargadas, e máscaras de proteção a bactérias cobrindo a boca. O aglomerado de pessoas era perseguida por uma dupla de seguranças, que perdiam em uma covarde desvantagem para as trinta ou trinta e cinco pessoas, que destruíam tudo por onde passavam. A essa altura, boa parte dos enfeites de Anderson já tinham sido destruídos. As pessoas davam espaço, horrorizadas e com medo. Eles estavam destruindo meu evento.
Antes que eu pudesse me perguntar o porque, eu pude ver um último vulto se aproximando. Era inconfundível. A alta estatura, abafada por um tênis esfarrapado e sujo de tinta. As roupas maltrapilhas, de quem acabou de pintar as paredes de um prédio da paulista. Os cabelos soltos, com uma pequena franja caindo até o meio da pequena testa. Segurava em mãos um taco de basebol. Olhava diretamente pra mim. O ódio fervente exalando das íris acastanhadas. Girou o objeto nas mãos, me provocando. Ergui minha cabeça, tentando controlar a raiva que se apossou de mim. Memórias desagradáveis complementando o caos. Era ela, não tinha como não ser.
-Heloísa Gutierrez.- Falei, em alto e bom tom. Minha raiva aumentando a cada segundo que meus olhos projetavam aquela imagem revoltante. O que quer que ela pretendesse fazer aqui, eu sabia que não terminaria bem.
Merda, será que nem aqui aquela garota vai me deixar em paz?
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FanficExiste, em um enredo narrativo, uma expressão usada para definir mudanças drásticas e inesperadas no enredo. Um Plot Twist pode vir a qualquer hora e de qualquer lugar. Pode significar pouco mas, as vezes, significa tanto pra uma história que pode m...