Capítulo 5 - Rumo a cidade que nunca dorme (Logan)

476 53 2
                                    

" Uma verdade verdadeira é que acho que todos morremos um pouco com a morte de quem amamos."
_______________________________

Foi a exatamente dezessete anos.

Eu conheci o Jorge pouco tempo depois de eu chegar no Texas, nasci na Califórnia mas acabei vindo pra cá afim de estar mais próximo de minha mãe ao qual tinha acabado de perder um filho. Eramos só eu, mamãe e Eduardo meu irmão.
Ele acabou falecendo por causa de um incêndio no restaurante ao qual trabalhava. Foi horrível.

Então justamente nessa época eu conheci Jorge e Sam, logo ao chegar aqui fui atrás de um emprego e em meio a isso Jorge me contratou. Nos tornamos amigos e acabou nascendo uma irmandade entre nós, é claro que a saudade por meu irmão permaneceu e permanece forte mas Jorge me ajudou, por isso o vejo como um irmão.

E no mês ao qual nasceu Brian o primeiro filho de Jorge, minha mãe veio a falecer. Pela morte do meu irmão ela entrou em depressão profunda e acabou morrendo de infarto.
Outra perda abrupta e mais uma vez meus amigos estavam ali para me ajudar. E Brian foi como uma pequena fonte de alegria que surgiu. Ele me fez ter forças, aquele garoto é muito especial pra mim, assim como todos os meus sobrinhos.
Com o tempo as crianças acabaram me vendo como um tio e eu neles vejo meus sobrinhos.

E agora que eu os vejo tão jovens e já órfãos eu percebo o quanto tive sorte. Eu tive sorte de ter tido a minha mãe até uma idade considerável o que não é o caso de meus anjinhos que com apenas cinco anos já perderam os pais.

Mas eu vou fazer de tudo para ajudá-los, Sam e Jorge fizeram muito por mim, me acolheram como se eu fosse da família.
Não foi difícil decidir os adotar quando o amor que sinto por eles é exatamente assim, como de um pai.

— Tio Logan, porque as pessoas tem que morrer?

Nina sempre foi muito curiosa, me dói tanto saber que ela não tem mais os pais.
Eu a pego no colo.

— É o ciclo da vida. Nascer, crescer, reproduzir e morrer.

— Então só basta eu crescer e ter filhos pra morrer?

Sorrio para ela.

— Alguns vão mais cedo. Mas afinal a morte chega pra todos...

Nina me lança um olhar sério. Como eu nunca vi antes.

— Eu odeio a morte por ter me separado dos meus pais! — Não soube o que falar. Porque eu também pensava da mesma forma, a morte já me separou de pessoas demais. — Tio Logan será que a morte vai me separar de você?

Eu a abraço forte.

— Nunca mais fale isso. Ninguém vai nos separar docinho.

— Jura?

— Juro!

E então eu começo a fazer cócegas nela, sua gargalhada é contagiante...

Então eu a solto e ela sai correndo.

A casa White está um tanto quanto morta.
Acho que todos morremos um pouco com a morte de quem amamos.

A casa White é dividida em muitos quartos para que todas as crianças tenham privacidade.
É um longo corredor, um lado é o das meninas e o outro é o dos meninos.

Hoje eu falarei com eles sobre a  ida para a casa da tia. Mas quero falar primeiro com os mais velhos que são Brian e Angel.

Chamo a cada um e me assusto ao ver Angel descendo as escadas acompanhada do irmão. Angel não está parecendo em nada com ela. Digo.

Angel gostava de se vestir de cor-de-rosa e sempre foi muito vaidosa mas aqui vejo outra pessoa.
Os fios castanhos estão amarrados num coque cheio de fios fora do lugar. Os olhos estão tomados de enormes olheiras e os lábios ressecados e ela está pálida.
Ainda está vestida de preto, aliás desde o dia do enterro ela não vestiu outra cor. Ainda de vestido preto. E as unhas sem esmalte, ainda são longas unhas mas sem esmalte, ela nunca deixava as unhas assim. Nunca.

Mas afinal não posso julga-la, foram perdas horríveis as que ela sofreu.

Já Brian está como antes, de roupas antiquadas e cabelos bem penteado ao qual carinhosamente eu digo estar "lambido" e os óculos de sempre. A armação grossa é tão antiquada quanto as roupas.

— Porquê nos chamou tio Logan? — É a pergunta de Angel.

Eu respiro fundo. Todos nós nos sentamos.

— Vocês sabem da existência de Lilith White?

Os dois fazem uma expressão ao qual deduzo que procurem por esse nome na cabeça.

— Se é White é nossa parente, presumo. — Diz Angel.

— É a irmã do papai. Nossa tia não é! — Brian fala, como sempre o garoto tem uma memória fotográfica. Sorrio para o mesmo, esse garoto me orgulha.

Eu assinto a tudo.

— Sim ela é parente de vocês, sim ela é irmã de seu pai e sim ela é sua tia.

— Tá legal, mas o que isso tem haver com nossa conversa? Foi pra isso que me chamou, pra falar de uma parente que eu nunca nem vi? — Foi a primeira vez que Angelina falou comigo assim...

— Sim, foi pra isso que os chamei. Vocês sabem da existência de um outro parente próximo de vocês além dessa tia?

Os dois pensam por um instante mas acabam por chegar a conclusão ao qual eu já imaginava.

— Não! — Disseram ao mesmo tempo.

— Então, vocês são todos menores de idade. E só tem essa parente viva...

— Onde você quer chegar tio Logan?

Respiro fundo pronto para ouvir as reclamações.

— Bom Angel, você e seus irmãos terão de ir morar com essa tia...

— O quê? Morar com uma mulher que eu nunca nem vi, uma tia que nunca quis nos conhecer? — Ela levanta-se irritada.

— Se acalme Angelina. — Brian diz firme, Brian tem um poder muito grande sobre Angel os dois são muitos apegados, desde a infância.

Então dessa vez foi a vez dela de respirar fundo.

Ela senta novamente.

— Porquê não podemos ficar com você tio?

— Vocês vão ficar comigo, mas apenas daqui um ano, eu vou adota-los, mas o processo de adoção é um tanto quanto lento, ainda mais com sete crianças, entende. Só quero que tenham paciência, um ano eu vos pesso. É isso ou orfanato...

Eu falo do orfanato apenas por falar já que eu jamais permitiria que minhas crianças fossem separadas e que morassem num orfanato.

— Orfanato? — Angelina diz preocupada. — Eu não vou permitir que me separem de meus irmãos, nunca!

Eu sorrio, Angel é muito apegada aos irmãos e ela tem um senso de proteção por eles que me fascina.

—  Eu também não querida, por isso quero que fiquem com essa tia. — Suspiro. — Um ano, apenas um ano.

Após convencer os mais velhos tivemos de fazer isso com os mais novos, foi um tanto quanto complicado.

— Ela deve ser uma tia velha horrível!

Alguns disseram e eu sorri, Lilith não tem nada de velha.

Eles não queriam mas pouco a pouco consegui os convencer e as coisas melhoraram depois que eu disse que também iria morar em Nova York.
Agora é só arrumar as coisas rumo a cidade que nunca dorme...

Mãe por acaso. Onde histórias criam vida. Descubra agora