Carlos Eduardo - Minha mãe correu para me abraçar

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Minha mãe correu para me abraçar sem ligar para os fotógrafos na delegacia. Depois de um primeiro momento de beijos e choro e lágrimas, meu e dela, papai e Caê vieram me abraçar também, mas mamãe quase não deixou, ficou avaliando meu estado físico, como se eu fosse um bebê recém-nascido e ela quisesse ver se eu tinha todos os dedinhos.

O delegado nos colocou para dentro afastando uma massa incalculável de repórteres. Então começaram as perguntas. Eu mesmo não pude esclarecer muita coisa. Não apanhei. Mas parece que o fato de os bandidos terem me mantido sem água e comida numa caixa d'água por dois dias configuraria crime de tortura.

Eu não queria nem saber o que aconteceria com aquelas pessoas, aquilo era problema do estado. Por mim, não saberia nem de quem se tratava. Alguém, acho que meu pai, acabou me avisando que tinham sido a mãe de Bruna e o namorado que arquitetaram o sequestro. Segundo o delegado, havia indícios de que os dois perceberam a oportunidade quando souberam da fortuna da família por uma revista adolescente e descobriram da minha relação de parceria com Bruna. Soube que foram presos.

Fiquei surpreso, mas lamentei apenas por ela. Por Bruna. Minha namorada. Meu amor. Ela não merecia fazer parte de nada daquilo. Seu nome nem deveria estar associado àquela sujeirada toda. Para mim, não tinham nada a ver uma com a outra. Ela era unicamente Bruna "Amor da minha vida" Drummond. E eu me dei conta de que precisava desesperadamente vê-la.

Mas não foi possível. Não tão cedo. Perguntas. Exames médicos. Reconhecimento de suspeitos. A burocracia da coisa era tão encarceradora quanto às correntes do cativeiro.

Durante os trâmites, fiquei feliz em tomar um banho e trocar de roupa. Comi mais alguma coisa. Enquanto isso, meus pais responderam a inúmeras perguntas. O delegado esclareceu outras tantas questões. Carlos Henrique se manteve ao meu lado por todo o tempo em que estivemos na delegacia. Um tempo que me pareceu sem fim.

Quando fomos liberados, entrei no carro de papai contando os segundos. Uma viatura policial nos escoltaria até em casa. Eu não iria para casa. Não, pelo menos, para a casa de meus pais. Eu iria ver Bruna.

─ Onde está minha namorada? – Perguntei.

─ Hoje é a final do Dança das Celebridades, Kadu. – Minha mãe explicou e só então me dei conta de que se passara uma semana. – Nós combinamos que ela se apresentaria para disfarçar o seu resgate.

─ Ótimo! – Respondi com firmeza. – Papai, o senhor pode me dar uma carona para emissora?

─ Meu filho, - continuou Dona Débora – não há necessidade disso. Você está fraco. Está exausto. Bruna irá assim que o programa terminar. Ela está hospedada lá em casa desde que você foi sequestrado. – Fiquei feliz em saber disso. Mas os argumentos de minha mãe não seriam suficientes. – Veja! – Mostrou o relógio. – São cinco da tarde. Em pouco tempo o programa acaba. Você chega em casa, descansa e...

─ Mãe, isso só significa que temos que ir rápido.

─ Kadu! – Sua insistência era inócua e ambos sabíamos disso.

─ Mãe, não é um pedido. É uma necessidade. – Olhei bem dentro do fundo dos olhos azuis dela e disse. – Eu preciso dizer que a amo. – E acho que minha mãe entendeu. Entendeu de uma vez por todas o que estava acontecendo.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora