Bruna - Cabelo, maquiagem, figurino

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Cabelo, maquiagem, figurino. Um nervosismo enorme. Mas, dessa vez, não pensava na coreografia. Eu queria saber de Carlos Eduardo. Estava quase na hora de entrar e nada de notícias. Por mim, eu teria simplesmente fugido dali. Porém, não era o que tínhamos combinado.

Encarava o reflexo no espelho. Meus cabelos estavam presos no alto da cabeça em um penteado, mas os cachos caíam soltos pelos ombros. O vestido era vermelho, na altura do joelho, preso no pescoço. As costas completamente nuas. Eu estava deslumbrante até para os meus padrões.

O telefone toca. Atendo de imediato. Era Carlos Henrique. Kadu estava fraco, mas bem. Acabara de deixar a delegacia. Iria para casa.

Desabei na cadeira do camarim e as lágrimas escorreram. Acabou. Serginho, que já estava comigo, veio saber o que tinha acontecido.

─ Ele está bem. Está indo para casa. – Eu disse e meu parceiro sorriu. Serginho enxugou minhas lágrimas. Foi como se um milhão de quilos saísse das minhas costas.

─ Você quer desistir, Bruna? Posso avisar aos produtores. – Serginho era muito gentil.

No mesmo instante, escuto a chamada do plantão da emissora, as imagens feitas na delegacia começaram a passar na televisão do camarim. Kadu abatido abraçando a família. Respirei aliviada. Ele estava bem e nos braços daqueles que o mereciam.

Durante toda essa semana, as diferenças entre mim e Kadu ficaram mais do que evidentes. Ele era o menino de família, educado e inteligente. Eu era a borralheira da comunidade tentando vencer o próprio passado na busca do sucesso. Yin Yang. Certo e errado.

Descobri, porém, que nada nesta vida é tão dicotômico assim. Eu posso usar palavras difíceis. Aprender a me comportar. Ele pode dançar funk. E negar as vontades da mamãe dominadora e ir morar sozinho. Então, existe um meio termo. E é lá que a gente vai viver.

Pensando nisso, lembrei-me de como tudo começou. Um acaso do destino e um compromisso. E determinação o suficiente para mantê-lo acima de qualquer adversidade. Ou quase. Agora que ele estava bem, a mente desanuviou e eu percebi que estava prestes a desistir daquilo que nos uniu: a Dança das Celebridades.

Eu não desistiria de nada que estivesse relacionado a ele. Não mais. Respirei fundo. Kadu dedicara boa parte desse ano a promover o trabalho da sua academia, dos seus amigos. Eu iria manter a sua palavra.

─ Não, Serginho. Eu não vou desistir. – Sorri para ele. – Eu vou apenas precisar de uma maquiadora para retocar isso aqui. – Mostrei o rosto molhado de lágrimas.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora