Depois de muito falar

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Depois de muito falar sobre o final do sequestro de Kadu, o apresentador finalmente deu a deixa para que Bruna e Serginho se apresentassem. Os dois tomaram suas posições. Os acordes iniciais de Por um minuto de Bruno e Marrone tomaram conta do auditório. Bruna respirou fundo. Estava na hora.

Todos os amantes já adormeceram/ E todas as palavras já se calaram. Abriu os olhos e deu o primeiro giro da coreografia. Viu Carlos Eduardo a observando dos bastidores, exatamente no mesmo lugar em que estivera na última apresentação. Foi emoção demais para ela. Caiu de joelhos no chão, chorando muito.

Já não vive o mundo em que se perderam/ Nem as madrugadas em que se amaram. Serginho correu para acudi-la, enquanto a plateia surpresa calava-se de pena. Não podiam saber que Kadu caminhava na direção dela.

Quero sentir, quero ouvir/ Seus passos de volta à minha porta/ Pra dizer que me amava quando estava longe. Quando foi possível vê-lo. A gritaria começou. As pessoas aplaudiam e choravam. E deixar que amanhã, juntos nos encontre/ E que passe a ser vida o que hoje é só sonho. Serginho se afastou com um sorriso. Kadu veio andando devagar e se ajoelhou em frente a Bruna e tomou as mãos dela nas suas, beijando-as ardentemente. Aproximou sua cabeça da dela. Disse:

─ Antes que o mundo acabe. Antes que você seja levada por alienígenas. Antes que eu tenha um surto psicótico. – Ele tinha lágrimas nos olhos. Não parecia se dar conta dos flashes e da plateia alvoroçada. Percebia apenas ela. – Eu vim aqui te dizer que eu te amo, Bruna "melhor coisa que já aconteceu comigo" Drummond. – Ambos sorriram.

E que se acabem os segredos/ E que se aumente os desejos. Ele a beijou no meio do palco. Um beijo de amor. Amor construído na diferença e na convivência. Amor desses que duram uma vida inteira. E os dois sabiam muito bem disso.

─ Faz parte? – Bruna disse enquanto o ajudava a se levantar. Kadu ainda estava fraco. Mas sorria.

─ Faz parte. – Ele, já de pé, beijou-a novamente, enlaçando as mãos de Bruna em seu pescoço num gesto ao mesmo tempo sensual e carinhoso. A plateia foi ao delírio. Eles começaram a dançar.

E assim, enquanto eu te beijo/ Que mude o destino, por um minuto/ Que meu corpo encontre o seu corpo/ Num prazer absoluto/ E assim, enquanto eu te abraço/ Me aperte em seus braços, por um minuto/ De um jeito que só você sabe/ De um jeito que só eu sei.

Giraram pelo salão. Bruna totalmente entregue aos comandos de Kadu. Em verdade, era como se fossem um só. Pensavam como um só.

Já não há razão pra não ser pra sempre/ Dessa vez há de ser, tem que ser diferente/ Não me deixe sozinho, nem mesmo um pouco/ Que esse pouco me deixa cada vez mais louco.

─ Você está bem? – Ela perguntou no ouvido dele.

─ Agora sim. – Ele a apertou mais em seus braços. – Agora sim. – Kadu a conduziu num cambret. Quando ela subiu, os corpos colados. Outro beijo. Esse de tirar o fôlego.

E que se acabem os segredos/ E que se aumente os desejos. E assim, enquanto eu te beijo/ Que mude o destino, por um minuto/ Que meu corpo encontre o seu corpo/ Num prazer absoluto.

─ Faz um favor para mim? – Bruna disse quase sem conseguir respirar. – Nunca mais some da minha vida desse jeito?

─ Isso é uma ordem? – Ele provocou.

─ É sim. – Bruna o abraçou com força. Kadu a ergueu no ar. Encontrou forças para isso. Continuou dançando com Bruna nos braços.

E assim, enquanto eu te abraço/ Me aperte em seus braços, por um minuto/ De um jeito que só você sabe/ De um jeito que só eu sei.

─ Você sabe que sou apenas um servo das suas vontades, não sabe? – Kadu a desceu devagar, bem junto de si. Ouviam o coração um do outro.

A música acabou e os dois continuaram num beijo longo. Totalmente sem disposição para se largarem. Por muito. Muito tempo.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora