Sento-me
Com a mesma tranquilidade
Procuro alguma seriedade
De algum modo conquistada
Pela lentidão encontrada
Em comprimidos emprestados
Outrora simplesmente dados
Perco-me em factos
Dou por mim sem capacidade
Sem habilidade
Para formular uma conclusão
À espera de uma solução
Enquanto procuro na solidão
Algum tipo de sensação
Deixo-me levar pelo apoio da cadeira
Porque entre palavras nunca quis que a primeira
Fosse sento-me
Mas aconteceu
Aconteceu e acontecendo
Durante processos de consumismo
Não deixei que o tão próximo abismo
Fosse uma realidade tão próxima
E presente como é na realidade
E a falta da tal habilidade
Poderia-me lá levar
Mas entre contextos e apenas falar
Gosto de desabafar
E por momentos deixar
Que a felicidade fale mais alto
E o sorriso me ilumine e eu salto
Para a dimensão invadida
Por algo que não é certo tomar por garantida
Já que a noção do salto pode não ser sentida
Deste modo, conheço sorrisos
Sei como deixá-los mantidos
Através da fome presente de mais
Emoções e sentimentos tais
Talvez demasiado banais
Para que a sensação perdure
Recorro a pensamentos
Que aparecem uma e outra vez
Uma e outra vez
Uma
E outra vez
Engano-me em correções
De propósito são até ilusões
De uma dimensão da realidade
Que confundo com a tal habilidade
De encontrar, encontrando
Entretanto
222 palavras e a palavra 222
Foi a palavra 223
Até porque o mundo só é a sério se for outra vez
E os momentos de loucura
Têm uma decência pura
De quem só sabe viver
À procura do que não é procurado
De quem só sabe dizer
Palavras sem o verso cantado
De quem não se importa de não saber
O que é realmente assegurado
E eu sento-me
Acho eu
Neste momento já não acho nada
Com certeza alguma
Apanho restos de sonhos de cara nenhuma
Sonhos deixados em nuvens de espuma
Demasiado fortes para atingir
Demasiado livres para desistir
Então agarro-me a experiências
Que me dão equivalências
Deixo de lado as dependências
E a partir do momento abro as asas
E o voo começa sem inocências
Deixo de me sentar
Acredito que a expressão é levantar
E levanto-me pelo que acredito
Folhas sujas com algo não escrito
Até porque o sonho vai
Para lá do que transmito
E o silêncio sai
Rompe portões e cai
Na dor de quem magoa a audição
Acabando por ter noção
De que o silêncio passou por canção
E, num último gesto
Eu falo e digo em excesso
Coisas que me emocionam
Deixo passar qualquer sensação
Porque em toda a reflexão
Consegui ser parte da ação
.
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Capítulos de silêncio
PoetryVersos que definem estados de espírito, emoções e experiências. Acho que é poesia. Espero que gostem!