Afrodite.

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Querido diário,

Vim do futuro para lhe dizer que essa pode ser a situação mais tensa pela qual já devo ter passado em minha vida. Não se trata de uma situação de vida ou morte, claro que não. Mas é a situação pela qual estava mais ansiosa que acontecesse assim que descobri ter descendência divina de origem grega em meu sangue- o momento pelo qual achei que estaria por cima, encararia da forma mais desafiadora possível, e cheguei a achar até que intimidaria o divino ser contribuiu com minha existência para que ele dissesse "porque" e se envergonhasse do que fez. Mas não é o que vai acontecer pelo que estou vendo.
E nesse exato momento, aqui estou eu, imaginando estar escrevendo para você, quando na verdade, estou de frente para minha mãe deusa, com a boca entreaberta e o coração quase saindo pela boca. Não sei por onde posso começar. Na hora em que ela mencionou minha mãe mortal foi como se eu estivesse sido atingida por um balde de água gelada. Cuspi algumas perguntas de forma aleatória quase sem me dar conta do que estava fazendo. Não sei porque fiz isso. Acho que a frieza de Afrodite foi a vilã que causou isso. Ela falou de uma forma sorridente e até convidativa. Mas de certo modo, não havia emoção em suas maneiras. Nada que pelo menos eu tenha identificado. Ela sorria e falava de forma amável. Porém acho que isso se equivale a natureza dela e não a sentimentos propriamente ditos.
Preciso reunir toda coragem que tenho e colocar na mesa todas as cartas que estiverem ao meu alcance antes que essa mulher desapareça.

– Então, você quer saber como duas mulheres conseguiram ter um bebê? - perguntou Afrodite parecendo surpresa com a minha curiosidade.
– Pode não ser importante. Mas sim! - decidi quebrar esse tabu psicológico e me preparar para a verdade. Eu precisava disso!

Afrodite ficou em silêncio por um segundo, aparentemente avaliando suas opções. Ela estava sentada de frente para mim com as pernas cruzadas e de vez em quando ela se olhava no espelho para retocar a maquiagem perfeita que estava em seu rosto.

– Então querida, quando conheci sua mãe, quando a vi pela primeira vez cantando em um bar que era bem atraente na época, me apaixonei no mesmo instante. A beleza dela, a forma como ela cantava e jogava charme com sua beleza, mesmo que de forma inocente logo despertou um desejo para lá de convidativo. E eu precisava tê -la. Precisava dela.

Ok! Imaginei que fosse algo assim!

– Então foi amor a primeira vista! - falei sendo a mestre da obviedade, como sempre.

Afrodite assentiu.

– Não é difícil eu amar já que sou a autora do amor. Mas sim, foi amor a primeira vista. E então Eva começou a me observar com uma expressão desejosa também e nos aproximamos muito. Ela sempre se abria comigo de um jeito que dizia que não se abria com ninguém, e dizia que eu despertava nela coisas que ela não sabia que podia sentir, sabe... Por uma outra mulher.

Ela deu uma breve pausa e me ofereceu uma xícara de café. Aceitei e esperei em silêncio ela prosseguir.

– Quando começamos a namorar, o nosso amor floresceu, a cada dia que passava eu queria estar com aquela mulher. Não precisava de trono no olimpo, nem me importava de que eu ficasse para sempre com uma mortal, eu só queria ela. Uma noite de amor nunca era suficiente. Eu sempre precisava de mais, precisava dela e ela precisava de mim.

Meu coração estava acelerado com as palavras de Afrodite. Ela amou minha mãe com toda intensidade. Seu olhar estava distante e cada palavra emitida soava como canção para os meus ouvidos.

Como pode duas pessoas incondicionalmente apaixonadas uma pela outra se separarem? Não é justo!

E como se lesse meus pensamentos, como se entendesse as perguntas que eu não estava sendo capaz de cuspir, Afrodite respondeu :

Diário de uma SemideusaOnde histórias criam vida. Descubra agora