Se todas as coisas pudessem ser descritas aqui, todas as coisas belas do mundo, aquelas mais delicadas, mais específicas, a mais brilhantes e chamativas, ou as mais preciosas. De certo, nada chegaria aos pés da Bailarina.
A delicadeza em seus passos era simplesmente encantador. Ela conseguia fazer com que todos os olhares se virassem para o seu leve corpo em movimento. E assim como todos aqueles olhares atentos, um único, lhe encarava incansavelmente. Mas como ela iria notar em meio a todas aquelas pessoas te admirando? Como iria perceber que no meio de todos, existia apenas um, querendo algo além de um simples autógrafo?
E então em meio a todos os passos, toda a sua incrível leveza e delicadeza, a bailarina foi marcada, pela sua beleza, e pureza.
Assim que a apresentação teve um fim. A bela moça, voltou para o seu camarim e quando abriu a porta. Se deparou com algo que não havia deixado em sua mesa quando saiu. Olhou para todo o local, enquanto tirava a tiara de penas que tinha na cabeça. Mas a única coisa que viu, foi o seu reflexo no espelho.
Se aproximou lentamente e pegou o envelope vermelho que ali se encontrava. Mas antes de abrir, escutou rápidas batidas na porta. E em seguida a entrada de sua maquiadora.
- Tudo bem Nath? - Ela entra e então se aproxima. Mas não viu o papel, pois ele já estava guardado dentro da bolsa daquela que havia entrado primeiro. E em uma fração de segundos, Nathaly não sentiu. Não sentiu aquela coisa que todos sentem quando estão prestes a passar por momentos ruins. Ela não sentiu, porque já estava passando por momentos ruins. E algo pior do que aquilo, apenas sua morte, algo que ela não temia pois sabia que não se pode matar algo que ja está morto.
Assim que toda a maquiagem foi tirada. Nathaly agradeceu a sua maquiadora, tirou toda a roupa, pegou suas coisas e foi para o seu apartamento.
Sua cabeça estava tão cheia, repleta de coisas que iam e viam em sua mente. Que a bela bailarina não notou a presença de um carro que a seguia. E assim que chegou no prédio, estacionou e subiu, ainda não tinha notado a presença daquele carro.
E o mesmo que se encontrava ali dentro, sabia que ela havia colocado o envelope dentro da bolsa. Talvez, o seu pior erro, o erro que levasse a algo que Nathaly não esperava.
Assim que tomou o seu banho, Nath pegou uma taça, e serviu-se de um vinho tinto que havia ganhado da sua mãe, assim que se mudou para aquele apartamento. Prometeu a si mesmo que assim que chegasse iria descansar, mas ela sabia melhor do que todos que não dormia a dias, e sabia muito bem os motivos por sentir aquela insônia infernal. Talvez algo quisesse que ela ficasse acordada, para pensar nas coisas. Sejam elas boas, ou ruins. E então as noites se mantinham mais longas, mais encuras, e sozinhas para a nossa bela bailarina. Que se afogava no vinho, e em suas próprias lágrimas.
Olhou então para sua bolsa, em cima do sofá. E em sua mente veio o envelope vermelho. Caminhou então até o sofá, abriu lentamente a bolsa, ainda com a taça de vinho em uma das mãos, tirou o envelope, e se sentou, o abrindo com cuidado.
Colocou a taça em cima do descanso de braço, e assim que tirou o papel de dentro, viu algo que lhe causou um certo otimismo. No papel estava desenhado algo que lhe fez soltar um sorriso sincero, algo que já não fazia a muito tempo. Estava desenhado nada mais do que a própria bailarina. Seu rosto muito bem expressado, cada detalhe, cada traço. Mas nenhuma assinatura, nenhuma declaração. E então Nath se pegou avaliando todo o envelope, mas nada ali se encontrara.
Talvez um fã. Mas como teria entrado em seu camarim? Por mais confuso que parecesse, aquela linda bailarina ficou feliz. E então guardou o envolope com o desenho em uma das gavetas de sua escrivaninha.
No dia seguinte, Nathaly foi para o estúdio, onde ensaiou incansavelmente, até sentir o suor que lhe escorria por todo o corpo. E depois de uma ducha fria, ela caminhou até o seu armário. E lá encontrou mais um envelope vermelho. Olhou por todo o local, mas ninguém ali avistou. Guardou o mesmo, e se trocou. Em seguida foi para o café, onde costumava ir todos os dias. E foi lá que abriu o segundo envelope.
O desenho que se encontrava ali, era ainda mais intrigante que o outro. Mostrava o seu rosto, como se estivesse adormecido. Nathaly tinha o dom de se perder nas coisas. Quando dançava, se perdia nas letras e notas da música, se perdia em seu paços sobre a sapatilha. Talvez por isso fosse uma das melhores. Naquela manhã se perdeu nos traços, assim não notou o mesmo carro que havia a seguido na noite anterior, parar na cafeteria, como também não notou aquele que entrava pela porta e caminhava em direção a mesa ao seu lado.
De tudo aquilo que ela já havia ganhado. Aqueles desenhos, eram os que lhe fascinavam mais. Guardou então o segundo envelope e pagou o café, pegando o seu carro e indo para o seu apartamento. Mas assim que abriu a porta. Viu o que não queria ver naquele manhã ensolarada de Maio. Para ser mais específico, viu aquele que não queria ver naquela manhã.
- O que está fazendo aqui John? - O homem se levantou e caminhou até a bailarina que segurava firme as Chaves na mão.
- Sua mãe pediu para eu vim deixar algumas coisas, e me deu a chave. - Ela respirou fundo e então caminhou até a cozinha, avistando a sacola de compras que ali estavam. John colocou as mãos dentro dos bolsos, e então suspirou. - Bom, só queria ver você, mas já estou indo. - Ela o encarou sair pela porta. Mas o seu passado não foi junto com aquele homem assim que ele saiu. Pelo contrário, ele se mantinha ali, como uma sombra ruim. Como uma nuvem que cobria as luzes do sol, ou o frio que tirava de todo o seu corpo o calor. E Nathaly se pegava mais uma vez se mutilando por dentro, como se o fato de tudo ter acontecido tenha sido apenas unicamente sua culpa, e de mais ninguém. E então em mais uma noite de sua vida, se enfiou em sua banheira e chorou. Chorou ate não poder mais contar a lagrimas derramadas, ou os pensamentos suicidas que mantinha na cabeça. Chorou até os olhos ficarem completamente vermelhos. E se pudesse encheria toda a banheira e o apartamento com sua dor. Mas ela não podia. Então se continha. Até porque ela era jovem demais, jovem demais para para-lo, jovem demais para poder entender do que se tratava, naquela época
Uma semana se passou. E Nathaly treinou como nunca para sua apresentação final em Londres. Com todo o treinamento, ela tinha conseguido esquecer um pouco de tudo, dos envelopes, dos desenhos, de John. Se concentrava apenas naquilo que te fazia bem, a dança.
Naquela manhã, passou o dia no estúdio, assim como os outros dançarinos. Estava um pouco cansada, porém, mantinha sempre o foco. Foi naquela mesma manhã que a nossa bailarina encontrou o terceiro envelope. Sua animação assim que abriu o mesmo logo que se perdeu, então ela soltou rapidamente o desenho que caiu sobre o chão. E foi naquele momento que Nathaly sentiu. Ela sentiu aquilo que sentimos quando algo de ruim vai nos acontecer. E mesmo que não acreditasse, aquele desenho lhe dizia mais do que os outros que havia recebido. Mesmo assim se vestiu, se maquiou, respirou fundo e foi para o palco.
Assim que entrou, as luzes se ascenderam. E então todos a viram. A linda bailarina. Na primeira fileira sua mãe e John se encontravam de mãos dadas, e em meio aquela linda apresentação. Nathaly chorou. Chorou como todas as noites deitada em sua banheira.
Mas no fim daquela noite, assim que saiu do estúdio. Ela não foi recebida pela sua mãe, ou por John, nem se quer tirou a roupa de sua apresentação, apenas pegou suas chaves e seguiu direto para o sue apartamento. Mas o seu carro foi parado no meio do caminho. E como se já soubesse a nossa delicada bailarina, se entregou aos braços daquele que havia lhe mandado todos os três desenhos.
Ela não gritou, não suplicou para que parasse, apenas se entregou a aquilo. De certa forma, a sua alma já tinha partido a muito tempo, e a única coisa que persistia em ficar, era o seu corpo, mas naquela noite ele então pode finalmente descansar. E nos braços de seu assassino, seu corpo dormiu profundamente, frágil, frio e pálido.
Se todas as coisas pudessem ser descritas aqui. Todas as coisas belas do mundo, aquelas mais delicadas, mais específicas, as mais brilhantes e chamativas, ou até as mais preciosas. De certo, nada chegaria aos pés da Bailarina.
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Serial Sinner
Mystery / ThrillerO que se passa na cabeça de um assassino, ou até mesmo de sua vítima antes de ser morta. Cada detalhe, de acordo com a mente daquele que está descrevendo.