26º Capítulo

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- O que estás a fazer? – Grita a minha mãe com os seus olhos arregalados postos em William. No seu rosto viam-se as marcas de raiva e susto, ela estava aterrorizada ao pensar no que o seu namorado estava a tentar fazer com a sua filha.

Talvez tenha passado pela sua cabeça que isto tenha-se repetido o ano todo em que ela esteve fora, quero dizer, ela nem estava fora um ano, ela esteve meio ano.

Eu sabia e via tudo isto a passar-lhe pela mente, mas tudo o que conseguia fazer era abanar com a cabeça.

Aliás, como é que ela já estava aqui? Só a esperávamos daqui a 5 meses, ela tinha dito que ia ficar fora durante um ano. Ela nem avisou.

William levanta as mãos, lentamente, e sai de cima da cama, sempre olhando a minha mãe.

- Calma Sara, não lhe fiz nada. – Sem tempo para mais argumentos, a mão dela encontrou a bochecha dele.

Ainda um pouco atordoada, levanto-me rapidamente e afasto a minha progenitora de William que agora estava com a sua mão encostada à sua bochecha.

 – Sara… - Voltou a murmurar, quase sem reação, olhando-lhe.

- Mãe calma! – Voltei o seu corpo para o meu e agarro, com firmeza, os seus braços, de modo a faze-la olhar para mim e ver que estava tudo bem, que não tinha passado de um mero mal-entendido - Não aconteceu nada… - voltei a garantir-lhe, tal como fez William – Foi tudo um sonho e quando acordei confundi as coisas. Fui tudo, mãe.

Ela respirava pesadamente com algumas lágrimas a ameaçarem cair-lhe pelas suas bochechas cobertas de um leve blush rosa. Uma mão minha acariciou-lhe os seus fios castanhos e, logo, envolvi-lhe num abraço apertado, no qual ela retribuiu apertadamente.

Numa voz muda dizia-lhe que estava tudo bem e para ela se acalmar.

- Pensava que tinha falhado mais uma vez, mas desta vez como mãe. – Sussurrou-me ao ouvido com uma voz tremida e olho por cima do seu ombro, podendo ver William a olhar-nos de braços caídos junto ao seu corpo, enquanto olhava-nos pesadamente e mordia o canto interno do lábio numa forma pensativa.

Os meus olhos percorriam o seu corpo imóvel e senti, de certa forma, a tensão sentida pelo mesmo.

De certa maneira, estávamos os dois incomodados com a presença da minha mãe, ela apareceu no nada, sem avisar ninguém e depois chega a casa a pensar que algo de mau se tinha passado na sua ausência.

Os olhos azuis de Will reviraram-se e um pesado e mudo suspiro saio da sua boca, começando a movimentar-se, mas, desta vez, para o seu quarto.

Com o estrondo da porta a fechar-se, o corpo encostado ao meu afasta-se lentamente e o seu rosto estava inchado devido às suas lágrimas iniciais de desespero e depois de alívio.

- Mãe, não chores… - murmurei por entre dentes e limpo as suas lágrimas. O seu olhar baixou e incidiu nas suas duas mãos que estavam agora juntas.

Um forte raio de dor incide sobre o meu peito, abafa-o pesadamente. A pior coisa que podia-me acontecer era ver a minha mãe a chorar, não aguentava isto, simplesmente.

Mãe, não chores, por favor. A tua filha não aguenta ver os teus olhos invadidos por essas lágrimas. Mãe responde-me.

A demora das suas palavras começou a trazer um líquido quente e transparente aos meus olhos. A sua figura começava a ficar desfocada, não a conseguia ver claramente e a garganta começava a ficar seca e dorida.

- Filha… - disse finalmente – Não sabes o quanto doeu pensar que o William tinha tentado… ahm vi… - Esta hesitava sempre que tentava dizer a palavra que tanto lhe custava admitir – Que sei lá, vocês os dois tivessem algo, que a minha ausência o tivesse deixado mais violento… Sei lá. – Os seus dedos passaram lentamente pelos seus olhos, limpando o resto das lágrimas que ainda lá estavam – Ele é muito mais velho que tu e tem as suas necessidades, sabes Victória? Percebes-me, certo?

o nosso erro || l.tOnde histórias criam vida. Descubra agora