Amor a última vista

A consulta

Quer saber como você faz para entender que encontrou o amor verdadeiro? Esqueça aquelas fórmulas dos filmes românticos e melodramáticos de Hoolywood. Você não vai encontrar um príncipe ou uma princesa, vamos esbarrar na humanidade de cada um, se apaixonar por essa humanidade, amar a finitude plena dessa criatura. Então vou compartilhar com você o que me fez entender que a amava para sempre, daí você pode observar esses sinais, talvez eles estejam acontecendo agora e nem se deu conta, levando-o a crer que não é o amor da sua vida. Por experiência própria, aconselho a atentar para o que vou lhe repassar, porque, perceber tarde demais é algo que eu não desejo para ninguém. Então vamos lá, primeiro passo é identificar se você sempre gosta de comer a comida do prato dela, até quando vocês pedem a mesma coisa no restaurante, mesmo que a irrite, isso é uma forte evidência, outra evidência, seria o fato de achar ela linda quando está irritada, ver beleza num rosto em que as expressões faciais estão tranquilas e bem postas é muito fácil, principalmente quando não se ama, agora, amar verdadeiramente é enxergar a beleza mesmo quando o outro mostra sua face mais irritante possível. Continuando com a lista, se você é motociclista, como fui durante muito tempo, quero destacar dois pontos importantes: Se vocês cantam juntos enquanto você pilota a moto, atente para isso, só o amor mais puro fará tal proeza, porque é necessária muita sintonia para cuidar no transito, cantar e sorrir juntos e se vocês tomaram muitos banhos juntos enquanto andavam de motocicleta, essa experiência é sublime, pois a chuva é como um selo sobrenatural que confirma o amor verdadeiro, lhe garanto que, se estiver andando de motocicleta com ela e chover, pode crer que que o céu decidiu abençoa-los e a chuva foi a confirmação de tal benção. Se você fica em paz, apenas pelo fato de ela estar no mesmo lugar em que você está, se ela não precisa falar nada e mesmo assim diz tudo que te deixa em paz com o seu olhar, e por último, se os dias em que ela não está, são todos como uma segunda-feira, não importa se é sexta, mas se ela não está você sente como uma segunda, então não tenha dúvidas, não titubei.

Deitado aqui nesse leito, cheio de aparelhos e quase que totalmente sedado, talvez eu não possa falar essas coisas para ela, mas algo me reconforta: se eu tive a chance de perceber tudo isso, é porque tudo isso aconteceu, eu comi várias vezes do seu prato, a irritei em incontáveis momentos, tomei os melhores banhos de chuva em sua companhia, fiz os mais belos duetos com ela, dignos de plateia composta por milhares de expetadores e por último, as tardes mais tranquilas da minha vida, foram as que estive ao lado dela, lendo na praia, deitado na cama e vendo bobagem no celular ou fazendo amor. Talvez eu possa morrer em paz agora, morrer com a paz das nossas tardes juntas.

- Bom dia dr. Alfredo, como vai a família?

- Bem Gabriel. Obrigado por perguntar, vindo de você eu seu que é sincero, afinal só você para gostar das travessuras da Laura (risos).

- Ela é uma criança, essa energia toda tem que fluir.

- O problema Gabriel é fluir quando eu estou exausto, depois de um dia interminável de consultas.

Não quis dar continuidade ao assunto, filhos era um tema que mexia comigo.

- Mas doutor, e falando sobre os resultados dos exames que o senhor solicitou e passou uma semana para analisar? Pensei que não me chamaria nunca, depois que lhe entreguei os resultados.

- Gabriel, meu paciente e amigo. Desde quando nos conhecemos mesmo?

- Acho que desde dois mil e quinze quando o senhor abriu minha cabeça, faz exatamente três anos.

- Nossa como o tempo voa. Trancado aqui nesse consultório ou na sala de cirurgia, eu nem sei quando é dia ou noite.

Dr. Alfredo deu uma pausa, pegou os papéis dos exames que estavam sobre sua mesa. Inspirou e não soltou ar, soltou a seguinte frase: