Capítulo 7

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Natasha não conseguia parar de pensar no que aconteceu na lanchonete, não conseguia tirar da cabeça os olhos flamejantes de Janelle, o que a levou a pensar que talvez tivesse exagerado no sorvete a ponto de achar que estava vendo coisas. E tinha mais, talvez a coisa mais preocupante, que ela não conseguia tirar da cabeça, aquela estranha sensação que surgia toda vez que chegava perto de Jhonny.

Ela estava deitada, até que ouviu batidas na porta, que estava trancada, e deu um salto de sua cama, como se descansar fosse um luxo que ela não podia ter.

Caminhou até a porta, destrancando-a e a abrindo logo em seguida. Era Natalia, sorriu ao ver a irmã, estava precisando de alguém para conversar.

— Oi, o que aconteceu? Por que ficou no quarto esse tempo todo? — Natalia perguntou.

— Eu estava apenas pensando em algumas coisas estranhas que aconteceram.

— Coisas estranhas? Você sabe que são meu tipo favorito de coisas — disse a mais velha, empolgada.

— Eu sei, por isso estou te falando isso, é sobre meus novos colegas.

— Conte-me mais sobre eles — pediu a ruiva, sentando-se na cama da irmã e colocando um travesseiro no colo, como se estivesse disposta a ouvir uma longa história.

— Bom, primeiro tem o Jhonny. — Natasha começou, e a irmã soltou um gritinho histérico. — Sem empolgação, ele tem namorada. — O rosto radiante de Natalia murchou.

— Não é justo! Sofro com a minha vida de shipper.

— Recapitulando. Jhonny é muito legal, mas essa semana, toda vez que em que cheguei perto dele, tive uma sensação estranha.

— Deve ser a namorada dele jogando energia negativa pra cima de você.

— Natalia, é sério, foram como pontadas na cabeça, como algo me dizendo que não é seguro ficar perto dele.

— Pontadas na cabeça? Isso é bem diferente de borboletas na barriga, que jeito estranho de se apaixonar.

— Eu. Não. Estou. Apaixonada. — falou Natasha, pontuando cada palavra para ver se sua irmã entendia.

— A tão famosa "fase da negação", já ouvi falar.

Natasha revirou os olhos para as palavras da irmã, deu um longo suspiro e continuou.

— Bom, também tem a namorada dele, Janelle, muito bonita aliás.

— Como ela é? — quis saber Natalia.

— Ela tem pele escura, cabelos castanhos e cacheados, e o mais impressionante de tudo... olhos dourados.

— Como os nossos?

— Exatamente como os nossos.

— Hmm... continua.

— Bom, eu tenho certeza de que eu vi esses mesmos olhos dourados se tornarem chamas na lanchonete. Você vai achar que eu estou louca, talvez eu tenha tomado muito sorvete.

— Ela também tomou sorvete?

— Eu acabei de dizer que vi os olhos dela em chamas e você se atentou apenas a esse detalhe bobo? E não, como você e a mamãe, ela não parece gostar de sorvete, não sei qual é o problema de vocês.

— Queria não saber qual é o seu problema — cochichou Natalia.

— O que você disse? — perguntou a mais nova.

— Besteira.

— Como sempre.

Natalia revirou os olhos e disse:

— Mais algum detalhe importante? Apenas Jhonny e Janelle, mais nenhum amigo bizarro?

— Tem a Melyssa e a Esther. A Mel parece ser bem legal, não me parece estranha, mas a amiga dela sim. Esther é antissocial, quando nos cumprimentamos eu senti algo e eu acho que ela também sentiu, pois teve uma reação muito estranha, ou talvez só não goste de contato humano, como ela mesma disse.

— Que tipo de sensação?

— Foi como se meu sangue congelasse, foi bom e ao mesmo tempo medonho.

Natalia fez uma expressão incompreensível, ela sabia do que se tratava, mas ainda não estava preparada para lidar com isso. Ela apenas assentiu e disse:

— Eu realmente nunca ouvi falar sobre algo assim, mas farei minhas pesquisas.

— Você não acha que eu estou ficando louca?

Natalia deu um longo suspiro e então falou:

— Natasha, daqui pra frente podem acontecer coisas que podem te assustar, mas eu quero que você me conte tudo, tudo mesmo. Eu sei que você não vai entender agora, mas algo vai acontecer, e quando acontecer, jamais duvide da sua sanidade, por mais difícil que isso possa parecer. Apenas me procure, tá bom?

— Natalia, do que você está falando?

— Um dia você vai entender — disse a mais velha enquanto caminhava para fora do quarto. — Me empresta seu carregador? — Natasha apenas assentiu e a irmã saiu carregando o objeto.

A adolescente havia ficado ainda mais confusa, algo lhe dizia que a explicação viria em breve, mas não de forma simples e agradável.

Quando a porta se fechou, Natalia desceu as escadas e encontrou Mary na sala de estar. Parecia entretida em algum programa de televisão.

— Mary — chamou.

— Oi, Natalia.

— Bom, vou direto ao ponto, ela está cada vez mais perto da verdade e, se for preciso, eu contarei, não fui eu quem decidiu isso, foi você. Não posso arriscar que ela me odeie para sempre por uma escolha que você fez. Considere-se avisada.

— Naty? — Parou por alguns segundos e depois virou-se para encarar Mary, fazia anos que não era chamada assim. — Só me prometa que fará isso apenas em último caso.

— Não sei se ainda sou capaz de te prometer algo, mas não se preocupe, não vou contar agora, vou te dar algum tempo para fazer aquilo que deveria ter feito há muitos anos. Meu objetivo não é fazer com que ela te odeie, e sim que ela saiba a verdade — dizendo isso, saiu pela porta da sala, deixando Mary não muito contente com o que ouviu.

Mary-Anne não sabia, mas Natalia saiu de lá com um destino em mente, não sabia exatamente onde, mas sabia quem iria procurar, precisava de respostas, e uma coisa que ela adorava, era bancar a detetive.

***

Melyssa andava sempre com um sorriso estampado no rosto, era como se nada abalasse sua alegria, principalmente quando tinha doce envolvido. Ela estava saboreando seu chocolate preferido até que sentiu algo esfriar dentro de si, algo tão frio que chegava a queimar. Seu chocolate caiu, era como se uma parte sua estivesse sendo arrancada, então ela caiu de joelhos contra o chão, mas não se importava, o que estava acontecendo era muito pior, drasticamente pior. A sensação era tão terrível que a obrigou a fechar os olhos.

Finalmente conseguindo se recompor, ela abriu os olhos e viu, o que fez o impacto de tudo aquilo ser ainda maior. Tudo estava morrendo a sua volta, toda a flora da cidade, aquela que ela lutava tanto para preservar.

Hope Path, a cidade onde a esperança era o principal, onde o verde era tão vivo que parecia que o nome havia sido dado devido ao tom vibrante de sua vegetação, uma cidade que sempre teve um brilho próprio e uma alegria contagiante.

Naquele momento, a esperança parecia esvair-se daquelas terras, daquele povo, a vegetação estava morrendo, o verde intenso tornou-se um bege pálido e sem vida, o brilho da cidade estava aos poucos se apagando e a alegria estava sendo sugada de todos aqueles que realmente se importavam com ela e com sua, antes majestosa, vegetação, como Melyssa.

Mas ela sabia que isso não poderia durar muito tempo, estava decidida a impedir que isso acontecesse. Ela já imaginava quem havia feito aquilo, agora tudo o que precisava era de um exército.

Primavera | As 4 Estações [Livro I]Onde histórias criam vida. Descubra agora