Você já ouviu falar em conto de fadas? Eu sempre acreditei que eles fossem reais, mas ali parada em meio a tantos bichos eu só podia pensar que seria a princesa Tiana e que meu Príncipe era um sapo qualquer.
Aos vinte e cinco anos era considerada um verdadeiro fracasso por minha família. Não tinha me formado. Não tinha namorado. Meu único álibi era meu emprego em uma pet shop da cidade. Nada muito glamuroso, longe disso.
O salário era tão bom quanto limpar o cocô dos bichos. Uma verdadeira lástima. Eu sempre fui fã das princesas da Disney, mas percebi que já tinha passado da idade e não receberia uma coroa verdadeira. Na verdade eu até tinha uma, mas não era muito "nobre". O chapéu com duas patinhas na frente e o slogan do pet shop não conseguia ser o mais estiloso do mundo.
A porta foi aberta e uma sineta tocou, vários cachorros latiram enquanto outros uivavam. Eu continuei fixa em meu jogo de palavras cruzadas, o que era verde, com cinco letras e fazia parte de estádios de futebol?. Eu não conseguia pensar em nada por isso comecei a morder o bocal da caneta. Uma mania antiga.
- Senhorita, eu queria deixar meu gato para passar a tarde com serviço completo - disse uma voz me distraindo completamente da importante tarefa de completar a edição 52 das palavras cruzadas.
Levantei o olhar com o bocal ainda entre os dentes. Se fosse um filme, uma novela e até mesmo um livro seria descrito como sexy, mas eu sinto informar que eu parecia mais uma mongolóide do que qualquer coisa.
- Ok, já possui cadastro no sistema? - questionei clicando alguns botões do computador que ganhou vida. Alguns campos precisavam ser preenchidos.
- Não, eu sou novo aqui no bairro. Me mudei ontem e estou atrasado para o trabalho, posso fazer depois? - ele parecia querer se desculpar de alguma forma. Era bonitinho, não galã de cinema. Apenas um cara normal que queria proteger seu bichinho de estimação.
- Claro, qual é o nome do nosso coleguinha aqui? - perguntei pegando a casinha do gatinho de cima do balcão. Era totalmente preto e parecia dormir naquele momento.
- Petit Gateo - respondeu e não pude deixar escapar uma risadinha. Precisava admitir que ele era engraçado. Mesmo assim me mantive um tanto séria com minha cara de entediada.
- Alguma última recomendação? - perguntei ensaiando meu texto pronto que já repetia a longos 5 anos. Já era íntima da maioria dos animais que ficavam no pet shop. Foram anos de cão, literalmente.
- Ele gosta de dormir com esse ursinho de pelúcia e detesta carinho na barriga. Se ele quiser dormir faça um cafuné na orelha que ele ama. Acho que só. Adeus petit. E muito obrigada moça - ele parecia com pena de se afastar do gatinho. Eu sorri. Os donos tratavam os animais como verdadeiros filhos, a maior parte era muito mimada.
Peguei a casinha do bichano e o ursinho dele que era um leão em miniatura muito fofinho (até eu dormiria agarrada aquele negócio) e levei para o local indicado. Nossos cuidadores estavam dando banho em um cachorrinho.
Deixei o gato com Miguel, ele trabalhava lá a mais tempo do que eu. Era um verdadeiro guerreiro apaixonado por bichos. Segundo me contou um tempo atrás, queria fazer faculdade e ser veterinário. Mas estava mofando ao meu lado naquele lugar. Quem não tem cão caça com gato, uma frase que se encaixava bem aquela situação.
O dia passou de forma lenta mesmo jogando as palavras cruzadas. Consegui completar metade do quadro em apenas umas tarde, estava aprimorando aquela habilidade em breve poderia ser acrescentada em meu currículo.
Os donos dos animais foram chegando e logo poucos permaneciam lá. A maioria os donos tinham viajado então já esperava por isso. Foi então que o sino tocou me desconcentrando da importante tarefa que poderia mudar meu futuro: as palavras cruzadas.
Era o rapaz do gatinho preto. Nem esperei ele falar nada e fui pegar o bichano que parecia bem preguiçoso agarrado ao leão de pelúcia que eu cogitei seriamente roubar para mim.
- São, salvo - comentei e recebi o dinheiro guardando no caixa em seguida - E cheiroso - completei.
- Obrigada, estou usando o novo do Celso Portiolli, o do vidro escuro, se quiser posso te indicar minha consultora da Jequiti - agradeceu o rapaz animado.
Eu sorri de maneira contida, ou pelo menos o mais contida que conseguia ser. Era engraçado a forma como ele se achava, mas não o culpava afinal, amor próprio é tudo.
- Estava falando do gato - comentei e ele pareceu envergonhado com toda aquela situação - Mas obrigada, vou querer o número da consultora. Quem sabe não fico rica com a palavra misteriosa ou algum quadro do SBT - sugeri incrédula como uma pessoa que há muitos anos tentava ganhar na Mega-Sena e continuava mais por tradição do que por acreditar na sorte.
- É quem sabe - disse e um silêncio se instalou, ele não sabia o que dizer e eu tinha preguiça de pensar em algo para responder. Ele pegou a casinha com o gatinho dentro, agradeceu de forma um tanto desconcertada saiu pela porta fazendo a sineta tocar novamente.
Fiz uma nota mental de retirar aquele treco da porta ou ficaria louca de tanto ouvir aquele barulho irritante e arrumei as coisas para ir para casa. Finalmente o expediente havia acabado e poderia ter um encontro super romântico com minha cama.
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Oi meia amores! Espero que tenham gostado! Não esqueçam de fazer uma escritora feliz com seu comentário e votinho lindo demais ❤❤ obrigada por lerem até aqui e esse é só o começo ❤❤