Por amor ao mal

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Minha rotina costumava ser apática antes do meu novo vizinho se mudar para a casa de frente a minha. Ainda lembro-me do dia quando ele chegou no bairro, para ser mais exata, a noite que ele chegou. Nunca tinha visto alguém se mudar durante a madrugada, nesta noite eu estava estudando para minha avaliação da faculdade que seria no dia seguinte, realmente estava concentrada, foi quando o barulho dos pneus freando no asfalto bruscamente me fez perder a concentração. Sinceramente o caminhão acordaria qualquer um que estivesse dormindo.

As caixas eram transportadas sem delicadeza, jogando de qualquer jeito pela casa causando um impacto por conta do vazio do cômodo. Então resolvi espiar pela janela para conhecer o novo morador.

Haviam três homens ali, dois deles estavam fardados com o logo do caminhão estampado na camisa, o outro usava um moletom preto com calças jeans escura, ele era alto e esguio, sua pele era tão pálida como uma pessoa morta, cabelos perfeitamente penteados para trás e postura séria.

Eu o vi pagar os homens e o vi quando esperou o caminhão sumir de visão, como se quisesse despistar de alguém, eu não conseguia ver com clareza seu rosto por conta da neblina e pelo fato dele estar de costas, ele exalava um ar de mistério, talvez pelo modo como agia ou eu estava tendo alucinações pela falta de sono. Foi aí que ele virou-se para minha janela, observando-me, como se tivesse notado meus olhares impróprios sobre ele. Seus olhos eram de um azul cintilante, me prenderam de tal maneira que me deixou paralisada, era como se ele pudesse ver minha alma e se apropriar dela.

Um calafrio tomou conta de meu corpo fazendo-me arrepiar, ele não tirava os olhos de mim, me sugando, aquilo me incomodou ao ponto de eu fechar as cortinas para sentir-me  segura, esperei um tempo para abri-las novamente, espiando pela brecha, para meu alívio ele não estava mais na calçada, em parte fiquei aliviada mas a outra parte ficou intrigada.

Quem era aquele homem?

Estava tão exausta que não consegui produzir mais nada, apenas guardei os livros e dormir.

                             · °°° ·

Meu vizinho possuía atitudes peculiares, que me deixou desconfiada, ele só saía de casa a noite, não o via sair para trabalhar ou estudar durante o dia, pelo contrário, a casa ficava toda trancada, desde portas a janelas, como se não estivesse ninguém morando ali. Toda vez quando eu chegava do trabalho em casa a partir das sete horas da noite, o via sair de casa para ir ao bar, eu não me atrevia a olhar em seus olhos desde o dia que ele chegou, talvez seja a maneira como ele se porta que me deixa amedrontada, e eu tinha quase certeza de que ele sabia disso.

                              ·°°°·

Com o passar do tempo passei a acha-lo atraente, todo aquele temor que eu sentia se transformou em desejo e luxúria, ele exalava sensualidade e era um homem bastante atraente, apesar do fato do seu olhar sempre me causar calafrios quando nos esbarravamos na rua.

As batidas do meu coração passaram a bater descompensadamente quando eu o via, eu o fantasiava em meus pensamentos impróprios, imaginando em como deveria ser maravilhoso deitar com ele, queria desvendar cada parte de seu corpo e saborea-lo com minha língua. Sempre quando eu o via trazer as garotas que ele conhecia no bar para sua casa, me causava inveja, imaginava-me sendo tocada por ele, me entregar completamente ao mesmo modo como elas se entregavam ao ponto de gritar por súplica, mordi os lábios me deixando levar por minha mente.

                               ·°°°·

Certa vez para chamar sua atenção e despertar atração em mim, resolvi sair no mesmo horário que ele para uma caminhada, que costumava ser a onze da noite quando ele não saía para se divertir, não que eu estivesse seguindo seus passos, longe de mim, eu apenas sabia o momento quando ele estava livre. Me vesti devidamente como se fosse fazer uma caminhada normalmente, corri como se fosse esse meu hábito, visto que qualquer um notaria que não é o meu feitio praticar exercício uma hora daquelas a noite, aliás em nenhuma hora.

VIZINHOOnde histórias criam vida. Descubra agora