Pétalas

Capítulo cinco

Era bem cedo quando Tyler e eu acordamos. Muito mais cedo do que esperávamos. Foi engraçado quando demos de cara um com o outro do corredor, pois parecíamos ter visto um fantasma. Eu ri um pouco, e Tyler apenas lembrou de sua pequena responsabilidade de me levar em segurança até a escola, e ele não parecia nada feliz com isso. Na verdade, sua cara era de puro tédio e de alguém rabugento que sempre reclamava da vida. Sim, Tyler era esse tipo de pessoa, e eu não precisei repará-lo tanto para perceber, pois ele fazia isso direto.

Ele tinha umas manias bem engraçadas, o que me fazia olhar para ele sempre que fazia algo. Às vezes ele olhava para mim sem entender o que diabos estava fazendo, mas era sim para levantar meu humor naquela manhã. Tirando o fato de eu não conseguir ter dormido - mesmo que em uma cama deveras boa - eu estava bem, e nunca tivera uma manhã tão engraçada e... animada, digamos assim. 

Não demorei muito para me arrumar, e ainda tínhamos tempo sobrando. Pelo que eu havia percebido com meus incríveis poderes de percepção aguçada, Tyler gostava de cozinhar. Era engraçado porque nem eu sabia cozinhar, e estava perdendo... para um garoto! Ele soltava risadinhas quando via que eu estava babando pelo seu incrível café da manhã. Talvez ele gostasse de ter alguém ali para dividir seu banquete, alimentar o ego de que sua comida era boa demais para paladares humanos. 

— Tyler — eu chamei sua atenção assim que colocava um pedaço enorme de panqueca na boca. — Você deveria fazer um currículo e mandar para minha mãe, sabe. Ela é dona de um restaurante e talvez adoraria um mais novo e habilidoso na cozinha. — Ele riu por fim.

— É muita gentileza sua, mas cozinhar é apenas um de meus hobbies. — Tyler realmente parecia agradecido. 

Curiosa para saber quais eram seus outros hobbies? Com certeza eu estava.

Enquanto comíamos, pude perceber coisas que não tinha notado antes. Ou talvez tinha. Um: Tyler era um ser que adorava ser bajulado, isso aumentava seu ego. Dois: muita das vezes ele era vago, e nunca tirava seus fones. Eu o entendo, até porque evitar pessoas é um dom, e ele realmente tinha esse dom quando parecia querer me ignorar. Três: aquela casa era bem grande. Eu não tinha prestado atenção no quanto, mas estava maravilhada com uma porção de detalhes. Quatro: ele era muito convencido. Basta falar alguma coisa a seu respeito, que ele respondi com um breve "Eu sei". Cinco: Tyler tinha um gosto bom pra tudo. Era admirável.

Levantamos da mesa e eu o ajudei a arrumar tudo. Embora não fizesse nada disso em casa, eu ajudei... quebrando um copo. Eu sou um desastre ambulante, não dava para evitar. Bem, se Tyler me odiava, imagina agora que tinha acabado de quebrar uma de suas canecas. Aprenda com Lizzie a como perder amizades, ela é a melhor nisso. Um dia eu o recompensaria... um dia. A manhã estava bem cinzenta quando olhei da janela ao acordar, mas agora, tudo estava bem caloroso e aconchegante. 

Peguei minhas coisas pronta para sair. Celular, mochila, fones de ouvido e agora, um guarda-chuva. Tyler disse que podia deixar minhas roupas aqui para lavar e secar, pois ainda estavam úmidas. Não questionei, pois ele era um garoto bem... Cuidadoso com tudo, digamos assim. Perguntei-me por alguns minutos como iríamos para a escola. Não o vi pegando dinheiro para ônibus nem mesmo carteirinha. 

— Vamos a pé — Disse ele.

— Indignada! — Reclamei. Cruzei os braços e fiz uma cara emburrada.

— Você sempre faz essa cara, é fofa. — Apertou minhas bochechas, que coraram fortemente depois. — Vamos embora logo antes que fiquemos atrasados por sua causa.

Pegamos nossas coisas e partimos em direção ao desconhecido... as ruas daquele bairro. Tudo bem, era desconhecido para mim, mas para Tyler, parecia que ele tinha um mapa em mente. Eu andava de carro para todo lado, mapear as ruas próximas da escola não era meu forte. Não quando eu apenas ficava de cabeça baixa ouvindo música, mas a paisagem não era interessante para mim de qualquer jeito. Eu caminhava bem próxima a ele. Mesmo de manhã, as ruas ainda era desertas, e ainda passava um carro ou outro.