AFETO

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Em uma noite inesquecível dizia a protagonista de um fascinante musical -em uma das apresentações deste- que a força, a união e a magia da arte daquele grupo de artistas se dava única e exclusivamente pelo afeto existente entre os seus integrantes...

Mas, e se ela soubesse, ou mesmo se pudesse classificar, os desejos, as fantasias e a satisfação que permeiam os sentidos de uma moça da plateia por seu acompanhante chamado Eber? Essa protagonista não encontraria termo mais adequado e diria também àquele casal: "- Queridos da plateia, ei vocês dois, escutem: quando a amizade se completa na cama, ah! isso também é afeto!"

No entanto, nem a protagonista e nem o restante da plateia, ou qualquer outra pessoa jamais poderá definir o sentir e o prazer daquela moça... Porque ela não procura por definições, não expõe, não publica e não fala sobre o seu deleite, nem mesmo para ele. Mas ele não precisa ouvir, pois há momentos em que o olhar fala e corpo grita, e isso basta.

São anos de amizade, há carinho e muita atenção entre esses dois. Uma noite cheia de prazer entre eles poderia não ter acontecido... Falaríamos então, da segurança que a mão dele transmite ao estar dada com a mão dela, os dedos dele se movimentam de maneira que o polegar a acarícia o tempo todo, enquanto riem de bobagens, é uma doce mania que ele tem e nem percebe. Falaríamos do modo dele de ouvir e olhar. Ele ouve com atenção, olha nos olhos formulando a compreensão, terminada a fala dela ele com calma desvia o olhar para baixo, concluí seu raciocínio e ao levantar a cabeça se expressa com um falar inteligente e coerente. Discordar dele é uma delicia, e ela, às vezes, faz só pra provocar, pois em segundos ele começa a advogar em causa própria, e se defende como que em um tribunal...Falaríamos horas dele, dessa companhia tão agradável que faz bolos, tem grandes sonhos e assiste luta livre; e nem precisaria de vinho e nem precisaria de cama...

Mas, ocasionalmente, o destino faz questão de ser perfeito, havia vinho e eles beberam, havia uma cama macia e eles a usaram...

Em segundos todas as qualidades desse homem estavam ao dispor dela, de um modo diferente, muito embora sempre seja diferente às vezes que fazem amor, dessa vez, foi a melhor!

Parece clichê começar por beijos? Mas quem se importaria?

Pois foi assim que ela começou a degustar de seu amigo, amante e cúmplice; com delicadeza a boca dela encontrou a nuca dele, o paladar da pele que começava a esquentar era saboroso, tinha o cheiro de um bom perfume. Percorrendo o pescoço a textura da barba à fazer se apresentava como relva a ser desbravada por beijos curtos até encontrar a sua boca, para ela um prêmio! Úmida e quente que já esteve outrora em seu corpo inteiro, agora lhe serve de banquete. Dentes brancos como o mármore em contraste com a pele morena, lábios macios e grossos já a fizeram mulher em um orgasmo e agora eles pedem que a boca dela faça o mesmo com ele... (e sim, ela faz). A boca dele é assim completa, beirando a perfeição;profana quando pede coisas próximas do sadismo e linda quando geme de prazer por ela proporcionado.

O beijo lento dos dois antecipam desejos que nunca se ausentaram de seus corpos, desejos esses que aos poucos são revelados e realizados com sinceridade. É um prazer perfeito, como perfeito é o encaixe de seus corpos, ele alto e com musculatura definida a detém toda pequena, sua força a domina e a leva para as posições desejadas. A força da mão dele, que a impulsionou para a cama, lhe tirou a roupa e lhe deu tapas contidos, agora nesse encaixe perfeito dele às costas e dentro dela, percorre-lhe o corpo pela frente e encontra seu ventre, a firmeza daquelas mãos é substituída pela delicadeza de um lorde, a doce carícia de um lento toque proporcionam a ela um prazer ainda maior, continuo e crescente que a deixam sem sentidos,se somam com o sexo de movimentos rápidos que acontece ao mesmo tempo.

E por falar em tempo, foi como se esse tivesse parado no mundo por uma hora, foi como se a órbita dos planetas e os hormônios estivem alinhados única e exclusivamente para aquela cama em uma explosão de prazer, que a enlouqueceu, o suor dele lhe caia ao rosto, e ela bebia, ela lhe mordia a carne, ele trincava os dentes, lhe aranhava inteiro e lhe tirava as forças, ela o fez escravo e o possuía.

E os dois sorriam felizes depois de acabado, satisfeitos voltaram a respirar. A noite caminhou assim e adormeceram juntos após darem um ao outro o que de me melhor e mais intenso possuíam.

E o destino nisso tudo?! Tão traiçoeiro quanto aproveitador... Se providenciou o vinho e a cama agora impõe a distância e o afastamento. Mas sem saber o porquê esses amigos não perdem o contato e se encontram vez por outra na primavera com uma certeza ventilada de poesia: sem planos ou compromisso tudo é mais natural e gostoso, o que gera encontros quentes e inesquecíveis.

E a ninguém é permitido insinuar que se trata de transas eventuais entre desconhecidos, seria uma ofensa!

Eles possuem almas infantes, que brincam livres e se completam, valsam na cama como valsa uma criança que entra na roda quando a noite está no fim.

A isso tudo eu chamo afeto, um sentimento puro que une amigos mais chegados que irmãos. O afeto chega onde os outros sentimentos não chegam por que é leve, duradouro, construído com o tempo; ele permite o prazer e o respeito, de tão simples e completo ele poderia ser chamado amor ou felicidade, mas esses termos o complicaria demais... Por ora apenas afeto, e nada mais.

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-Então Lilian, por que você me procurou?

-LiriHá é que eu tenho um amigo muito legal chamado Eber, tipo ogro cheios de defeitos sabe? Gostoso pra caralho! Risos... A gente apronta, já batemos o carro, já fomos à praia de nudismo, sempre nos divertimos, nos vemos uma vez por ano... E bhá! Isso já faz cinco anos! Gostaria de o presentear com um conto erótico seu, acho que ele vai curtir, sei lá rola um certo afeto entre a gente que vale um presente criativo. V0cê pode fazer? Por favor.

-Sim querida, é claro que eu posso e é claro que ele vai gostar...

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