Luzia não acreditava no que tinha acontecido! Um ser inferior havia lhe beijado!
Nunca havia beijado ninguém antes e o primeiro beijo que teve foi justamente com um homem! Argh! Sentia nojo de si mesma. Sentia que estava suja, que havia se rebaixado e que agora era quase como um ser inferior também.
E como Gustavo teve a ousadia? Como ele pôde!?
Voltou chorando para o seu apartamento e a primeira coisa que fez ao chegar foi escovar os dentes, usar um enxaguante bucal e tomar um demorado banho. Queria se livrar de qualquer vestígio dele. Qualquer vestígio de que um homem havia lhe tocado.
Bem que diziam que eram perigosos e que as mulheres não deviam se aproximar deles. Ela devia ter escutado! Havia sido inocente demais! Gustavo quis beijá-la desde o princípio. Tudo que fez foi para chegar àquele momento. Lhe mostrou sua sociedade e quis ver a dela apenas para ganhar sua confiança.
Após chorar bastante, Luzia enfim adormeceu e na manhã seguinte não se sentia nem um pouco melhor. Ainda lembrava das cenas terríveis do dia anterior: as policiais batendo em Gustavo e ele lhe beijando. O dia que começou bem, com a experiência única de acompanhar o ser inferior por sua cidade, se transformou em um terrível pesadelo.
Mas e agora? Não havia como voltar atrás. Seu primeiro beijo havia sido com ele e isso ela não poderia mudar. Nunca pensou nisso antes, mas talvez tivesse que ter se preocupado e beijado uma mulher. Já tinha seus vinte e dois anos e era a única que conhecia que nunca namorou. E por quê? Por quê nunca pensou em ter essa experiência? Gostava tanto de coisas novas... Então por que não sentiu vontade de beijar alguém e saber como era?
Se bem que agora que sabia, via que não era nada demais. Sempre ouviu falar tantas coisas sobre beijo, sobre como era bom, como causava tantas sensações e ela simplesmente não sentiu nada. Nada até entender que tinha um ser inferior tocando seus lábios e começar a ficar enojada.
Preocupada com aquilo procurou Minerva.
— Podemos conversar um pouco? — perguntou ela, chegando no quarto da outra.
A porta estava aberta e Minerva sentada em frente ao notebook digitando alguma coisa ouviu a voz da amiga e se virou para ela com um sorriso no rosto:
— Oi Luzia! Claro. A Val foi ajudar no hospital hoje. Podemos conversar à vontade — ela apontou a cama em sua frente, para que Luzia se sentasse. — Qual o problema?
— Nenhum — não podia contar de jeito nenhum que foi beijada por um homem. Isso faria com que fosse vista como diferente, como impura. Precisava guardar aquilo somente para si. — Eu só queria saber como é sentir atração por alguém?
— Como assim?
— Atração. Tipo... sentir vontade de beijar alguém, de ficar com alguém...
— Ah! Por que você quer saber isso?
— Curiosidade.
— Você vê a pessoa e sente... bem, sente uma atração por ela — Minerva riu. — Eu não sei explicar. Mas é como se alguma coisa te puxasse pra ela. Sabe?
— Não. Acho que nunca senti isso por ninguém.
— Não? Você nunca viu alguém na rua e pensou "ela é tão linda que tenho vontade de beijá-la"?
— Não. E eu nunca tive vontade de beijar alguém ou de me envolver com alguém além de uma amizade. Eu queria ser como vocês... Por que sou tão diferente?
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A Liberdade que Limita
Science Fiction"A sociedade não está pronta para aceitar toda forma de liberdade" Em um mundo dividido em duas classes, as mulheres são seres superiores e os homens inferiores. Cada um habita uma sociedade, que funciona de maneiras distintas, eles trabalhando e...