Chuva de Ouro

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Era uma vez um homem que detinha tantas posses, magníficas e reluzentes eram as suas coisas feitas em ouro e prata, que mal podia dar conta do seu inventário. Severas eram a quantidade de terras, casas e carruagens que se amontoavam em sua grande casa nas extremidades da cidade. Mas, por maldição ou azar supremo, tinha a barba completamente azul. Tal era o infortúnio que as pessoas se amedrontavam, faziam tamanhas expressões de feiura que seus olhos viviam olhando para o chão, e até as moças e mulheres que amedrontadas fugiam dele.

Também era costume que as pessoas viessem das mais longínquas direções e campos, regatos e montanhas, areais e vilas, se apinhavam nas estradas de barro que davam na sua casa, afastada de praticamente tudo. Cogitavam as pessoas de onde vinha tamanha riqueza e os boatos iam se espalhando, as pessoas vinham cada vez mais, e diziam alguns que era fruto duma herança obesa; outros diziam que provinha do comércio marítimo; porém os boatos mais secretos e furtivos nos becos era que ele havia vendido sua alma para tal. Eram tão humildes que vinham a viagem toda com um fiapo de esperança; batiam na porta de metal com emblema de um leão e se prostravam pedindo alguma coisa. "Não vê senhor?! Trapos usamos e até nossas almas estão em farrapos, dai-me alguma coisa! ", e imploravam rente ao chão de porcelanato. Às vezes o bondoso se amolecia derretido feito manteiga, entregava provisões, baixelas ou tapeçarias requintadas.

Os tempos iam mudando, a fama do homem e sua barba eram notícia pelas vielas e alamedas. Era conhecido que Barba Azul havia casado tantas vezes que a culpa deveria ser de seu gosto ruim para escolher uma mulher digna. Portanto, não havia uma singular alma feminina que não desejasse se destacar ao lado do homem mais único em toda a cidade pacata. Assim sendo, fez-se um festival enorme regado em luzes, brilhando feito um caleidoscópio de cheiros as pessoas iam enfeitadas, maquiadas e com máscaras foliavam com o frescor e febre das grandes conquistas. Foi-se uma sucessão de aperitivos festivos, à noite sempre dopadas em alegria dançavam, banquetes, ceias e até caçadas eram promovidas.

Tendo acabado a semana de felicidade, nenhuma donzela parecia querer ou estar disposta para o matrimônio. "Você vai ser a rainha de todo mundo, a barba azul é só um sinal que ele está destinado a conquistar o mundo", as mães diziam e fuxicavam com as filhas diferentes versões, pensando na fortuna e nos fortúnios que a união traria. E o homem que chorava horrores, se debruçava em lágrimas, inundava a casarão, pois se achava o homem mais azarado dos mundos.

Passados alguns dias a donzela surgiu diante da porta com emblema de leão. Batia com força e seu sorriso respirava alegremente, pode até descer nos pulos e ouvir as batidas do coração – era a sua amada, prometida, certeza tinha. Não demorou e caiu nas graças

do perfeito cavalheiro azulado, tinha o desejo de verificar quem era, e se era tão horrível assim como as pessoas diziam. Foi assim que acabou se realizando o casamento; pompa e trompetes por mais uma semana.

Sua alma e coração azuis tinham um sabor cordial, de forma que pareciam almas gêmeas, feitos um para o outro em perfeita sintonia e conexão. Haveria de florescer canções com a união dos dois, que se sentiam tão felizes, duas estrelas brilhando naquele pequeno universo. No entanto, a relação era regada com a curiosidade e petulante atitude amarga da mulher que não admitia segredos de seu marido. Não sabia se traia seu coração traia ou confiava nele, e assim sendo numa temporada de grandes suplícios para outras cidades vizinhas, Barba Azul que em grande posição, garantia que os reinos continuassem prósperos.

Assim sendo recomendou que a mulher repetisse as caçadas, festivos e até convidasse todas as suas amigas, família e gentes próximas. Deu um molho de chaves, cada chave de todos os aposentos da casa, e disse: "Estas são duas chaves são dos grandes depósitos, aqui estão as baixelas de ouro e prata que não são de uso diário, estas três são dos cofres-fortes onde há mais riquezas, como esmeraldas e rubis e a chave mestra de todos os aposentos". Ficando óbvio que a última chave dourada não deveria ser usada. Ela fora alertada que podia ir a todos os lugares, sem restrição alguma, seja nos quartinhos, depósitos ou cofres.

A esposa contente, usava o mesmo sorriso que conhecera o marido, assentiu com prontidão. Barba Azul meloso, choroso em sua alma, deu um beijo de despedida, entrou na carruagem e iniciou sua saga.

Todas as pessoas invejando a fama e o prestígio que se encontrava a donzela já se auto convidavam, o boato de festa por vir já se instalava e foram ao casarão. Porém, a esposa dizia a todos que passavam que estava febril, ardia em doença que havia tingido seu coração de tal forma que parecia que ia morrer com a partida de seu marido. As pessoas se entristeceram caminhando de volta as casas, e ela curiosa, nada boba começou a explorar a casa com tremendo furor e fúria.  

Barba Azul - O Canto da Morte (Recontado)Onde histórias criam vida. Descubra agora