Um encontro de almas

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São Paulo, 15 de janeiro de 1998.

Rodrigo Silva olhava maravilhado para o enorme prédio que ficava na Avenida Paulista e onde estava localizado um dos diversos escritórios da empresa Alumínio Moraes SA. Era hora do almoço e o calor forte de verão o deixava sufocado dentro daquele terno que vestia. Aquele terno usado que sua mãe comprara em um brecho perto de casa, exclusivamente para que ele pudesse usar em seu novo ambiente de trabalho. Rodrigo trabalhou duramente e durante muito tempo como balconista na lanchonete do Seu Zé, juntando os trocados que ganhava para entrar na Faculdade de Administração e com a ajuda financeira de seu irmão mais velho que morava no Piauí , conseguiu realizar o seu sonho. Dentro da Universidade destacou-se pelas notas altas e atraiu a atenção de todos os professores. Um deles, admirado com o esforço do rapaz, pediu o seu currículo e enviou para a empresa Alumínio Moraes SA. A gerente geral da empresa ficou encantada com as referências do rapaz e chamou-o para uma entrevista, contratando- o como estagiário por um prazo de 12 meses com possibilidade de efetivação. Agora, o jovem Rodrigo olhava para a entrada do prédio feliz e satisfeito colocando as mãos nos bolsos da calça social e olhando para os sapatos pretos velhos, mas lustrados, vendo o vai e vem de pessoas passarem correndo por ele naquela calçada, todas apressadas, a maioria delas provavelmente voltando do almoço para o trabalho, assim como ele. Ainda não tinha dinheiro para comprar roupas novas, mas com o salário daquele estágio que estava acima da faixa de mercado poderia comprar roupas melhores, pagar o curso de Administração e ajudar a pagar as contas em casa, onde sua mãe, Neusa, trabalhava como doméstica, mas sua saúde já não andava tão bem, para que ela continuasse fazendo esforço. Rodrigo era sonhador e planejava um futuro melhor para sua família, quem sabe conseguir comprar uma casa para a sua mãe em um bairro melhor e mais tranquilo do quê a periferia onde moravam de aluguel em Itaquera ?
Rodrigo olhou para o céu azul e sorriu. Respirou profundamente e seguiu em direção ao saguão do prédio para terminar o seu sétimo dia de trabalho naquele lugar.

" Só tenho a agradecer ao professor Euclides. Sempre vou agradecê-lo por essa oportunidade. Estou trabalhando em uma empresa maravilhosa! Onde tenho um bom salário, convênio médico, vale refeição e alimentação. Me sinto nas nuvens com a possibilidade de começar uma vida nova..." pensou com satisfação.

Entrando no saguão do prédio, comprimentou o porteiro e a recepcionista e seguiu em direção do elevador. Rodrigo trabalhava no décimo andar, no setor financeiro da empresa e se familiarizara facilmente com os colegas de trabalho pela sua postura profissional e desenvoltura para conversar. Além da imensa vontade em aprender sempre mais, deixando a gerente que o contratou muito satisfeita com o desempenho que vinha mostrando em tão pouco tempo.

Apertou o botão para chamar o elevador, que não demorou muito para chegar. Entrando no elevador apertou o botão que o direcionaria ao décimo andar e após a porta fechar, ajeitou a gravata olhando-se no espelho que ficava lá dentro como decoração.

Rodrigo era um rapaz muito bonito. Alto, com a pele bronzeada, corpo atlético natural sem academia, tinha os lábios grossos e carnudos , além dos olhos negros e dos cabelos negros encaracolados que chegavam na altura dos ombros quando estava solto. Ele fazia questão de amarrar seus cabelos em um rabo de cavalo, principalmente no ambiente de trabalho, para passar uma imagem mais responsável e profissional. Apesar de belo, não era paquerador. Com seus vinte anos de idade , teve apenas uma namorada, a filha da vizinha, com quem ficou durante 3 anos e terminou o relacionamento na metade do ano passado. Desde então, chegou a beijar 2 garotas nas festinhas em que foi com os amigos da faculdade, mas não quis nada sério com nenhuma delas. Rodrigo estava centrado nos estudos e agora que tinha iniciado o estágio, estava centrado também em seu novo trabalho, não sobrando interesse para as mulheres.

O elevador parou no quarto andar e as portas abriram. Alguém tinha chamado o elevador atrasando a sua subida para o décimo andar. Rodrigo parou de se olhar no espelho e virou-se para frente. Foi quando reparou na entrada de uma moça muito bonita que o fez quase engasgar. Alguma coisa chamou a sua atenção em relação aquela garota já  à primeira vista, algo energético ligou-o a ela no primeiro instante em que a viu.

"Boa tarde." a moça cumprimentou - o por educação, logo que entrou no elevador colocando-se ao lado dele e apertando o botão do vigésimo andar, onde ficava a presidência da empresa.
"Boa tarde." cumprimentou Rodrigo engasgando e arrancando assim, um sorriso tímido da moça .

Durante aquele pequeno trajeto, ambos permaneceram calados. Estavam somente os dois dentro daquele elevador que subia lentamente. Rodrigo procurou reparar melhor naquela moça tão enigmática e bonita, mas com descrição para que ela não percebesse que estava sendo observada. O perfume francês floral que ela usava, deixou-o inebriado. Era um cheiro que ele nunca tinha sentido, algo hipnotizador e caro. As roupas que ela usava não eram exatamente sociais, muito pelo contrário. Ela estava usando uma camisa branca e uma calça jeans, além de um par de sapatilhas nos pés. Carregava uma bolsa cor de rosa no ombro direito e brincos de pérolas nas orelhas. Os cabelos lisos e com luzes loiras chegavam quase na cintura . Reparou também que ela tinha um par de lindos olhos azuis que brilhavam e a pele branca era como uma seda. Uma visão do oásis para ele, que não se lembrava de ter visto alguma mulher tão bela quanto ela ou que tivesse mexido tanto com a cabeça dele em uma única e talvez última visão.

Logo que o elevador chegou no décimo andar, ele lamentou-se por dentro não ter mais tempo ao lado daquela moça. As portas abriram e ele teve que sair. Olhou ainda uma última vez para trás quando já estava no corredor e percebeu que a moça bonita estava sorrindo sem jeito para ele enquanto a porta do elevador fechava, Rodrigo não perdeu tempo e sorriu para ela também.

Rodrigo chegou na sua sala, ainda com falta de ar. Aquela moça era bonita demais para que ele conseguisse tirá-la da cabeça assim tão facilmente. Na empresa tinham outras moças muito bonitas também, mas nada como aquela visão que ele teve no elevador minutos atrás.

"Loirinha, baixinha , com olhos azuis....parece uma bonequinha. .." ele pensou ainda sorrindo. "Espero algum dia vê -la novamente por esses elevadores da vida..."

" Rodrigo ! Você pode me ajudar com alguns balancetes? " perguntou a gerente acabando com seus pensamentos febris e chamando-o para o trabalho.

"Sim. É claro." respondeu o jovem indo em direção da mesa da gerente e procurando se concentrar no trabalho como sempre fez.

Logo após ajudar a gerente, foi até a salinha tomar um pouco de café. Colocou o copinho na máquina instantânea e apertou o botão solicitando um café mais forte. A máquina fez um pouco de barulho enquanto o café era preparado e logo um sinal apitou informando que estava tudo pronto. Logo que Rodrigo pegou o copinho na mão, escutou alguém falar nas costas dele de maneira bastante suave.

"Eu prefiro o café mais fraco..."

Rodrigo virou-se para olhar para a pessoa que lhe falava e quase deixou o copinho cair de sua mão, quando viu que era a moça do elevador que estava ali , puxando assunto.
Retomando a postura novamente, Rodrigo pegou um copinho do porta copos e colocou-o na máquina apertando o botão para um café mais fraco, enquanto a moça bonita permanecia sorrindo para ele.

"Obrigada." a moça agradeceu gentilmente quando Rodrigo entregou o copinho de café para ela.

"De nada. " Rodrigo disse sorrindo sem jeito e resolveu puxar assunto com ela enquanto ambos tomavam café. " você trabalha aqui também? "

A moça deu uma leve engasgada com o café e respondeu :

" De vez em quando. Hoje tive que vir.
E você deve ser novo por aqui..."

"Sou sim. Estou fazendo estágio na parte financeira da empresa. Entrei faz uma semana. Tudo ainda muito novo pra mim."

" Está gostando daqui ?" A moça perguntou interessada.

" Ah....Estou sim. Pra mim é um sonho realizado. "

"Esqueci de me apresentar : prazer, meu nome é Daniela. " disse a moça sorrindo e estendendo a mão pequena e delicada para cumprimentar Rodrigo.

Rodrigo automaticamente apertou a sua pequena mão ainda hipnotizado com o sorriso perfeito de Daniela cumprimentando-a também.

"Muito prazer, Daniela. Me chamo Rodrigo."

Daniela sorriu totalmente encantada com a aparência, educação e postura daquele rapaz. Da mesma maneira que ela tinha mexido com o interesse de Rodrigo, ele também mexeu com o interesse dela.

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