Capítulo XI - Sob o Gotejar

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[Gabriel]

As primeiras semanas já haviam passado, aos poucos os novatos se habituavam às suas novas rotinas, suas novas vidas. Seus olhares mantinham-se vagos, mas aos poucos o brilho sutil voltava às suas respectivas íris. Era a esperança de que dias melhores viriam, afinal, tudo aquilo era passageiro.

Era sábado, a chuva forte batia na janela do quarto de Gabriel — e Tyler —, emitindo um som agudo ecoado, seus olhos mantinham-se fechados mas sua mente já trabalhava. De bruços na cama, fazia círculos com a ponta dos dedos no chão, ato este que o remeteu a seu amigo Jake. Saudades. Não haviam palavras senão esta singela para descrever como sentia-se referente a tudo, mas tão logo tais pensamentos invadiram-lhe a mente, seu mantra iniciou-se, ressoando palavras de força. Estava por si só agora, não podia fraquejar.

Seus olhos se abriram ao sentir o movimento na cama de cima, logo duas pernas estavam em seu campo de visão, pendidas à sua frente, em seguida, Tyler desceu. Gabriel desviou o olhar para a parede, conferindo as horas, e após um bocejo profundo ele levantou-se, tendo seus pelos arrepiados, contraiu os braços, o dia estava gelado, e o chão mais ainda.

— Bom dia... — cumprimentou a Tyler, que estava de costas, procurando uma roupa quente para vestir no armário.

— Bom dia — bocejou após o cumprimento.

— Tudo certo?

— Na medida do possível, e tu? — encontrou o agasalho que tanto procurava, afastando-se do armário.

— Preferia continuar na cama, mas né... — sorriu levemente, acompanhando o outro no bocejo. Ouvindo Tyler soltar uma risada nasalada.

Gabriel aproximou-se do roupeiro, buscando um agasalho para si, seu peito desnudo o fazia sentir mais ainda o frio que aquele dia exalava, todo aquele tempo cinzento e fatídico o deixava com ainda mais sono. Após ambos estarem prontos, ouviram o sinal soar, indicando ser a hora que todos deveriam seguir ao refeitório, e assim fizeram.

Não havia nenhum ponto azulado no céu, era tudo cinza, tudo tão ameno, tudo tão sem cor, assim como seus desenhos na areia. Suspirou. A chuva os impediria de fazer qualquer atividade a céu aberto, sejam as obrigatórias ou as de lazer. Tyler, que seguia ao seu lado, parecia não fazer parte de onde a mente de Gabriel vagava, esta, seguia gotejar adentro, confundindo lágrimas de mesmice aos pingos da chuva. Aquele dia seria extenso. Teve tal constatação ao sentar-se à mesa, com seu colega de quarto à sua direita e Sabrina à sua frente, as duas únicas pessoas que Gabriel poderia considerar mais que simples conhecidos naquele local de confinamento.

— O que temos pra hoje? — questionou ele, desanimado, para quem quer que quisesse responder.

— Logo mais descolo um programinha — respondeu Sabrina, alternando o olhar de Gabriel para Tyler, notando o tédio que exalava de ambos, focando no loiro, por fim — tu tás com cara de defunto, sorria guri.

— Argh, claro, só porque você disse pra sorrir, nossa, melhorou cento e um por cento meu dia — revirou os olhos, rindo por fim.

— Me escutas aqui... — iniciou, mas teve sua fala cortada pela presença de Robert e Jen que chegaram no refeitório, ambos sem as costumeiras roupas para atividade física, estavam como todos os demais ali: agasalhados.

A impressão era a de que a chuva havia carregado consigo os ânimos do lugar; todos, inclusive os funcionários, pareciam desolados, entediados. Aos poucos os jovens foram largando seus talheres, tendo suas atenções voltadas aos dois que recém adentraram o recinto.

Robert pigarreou, atraindo a atenção dos demais, que de tão absortos, nem haviam notado sua presença até então.

— Bom dia, como sabem, hoje é sábado, dia de limparem os dormitórios — puxou ar, alternando seu olhar de mesa à mesa — o grupo que cuidará da limpeza do refeitório e cozinha de hoje será composto por vocês quatro — apontou para uma mesa onde havia quatro garotos aleatórios — e por você — apontou ao longe, em um garoto que comia na última mesa.

Delitos (Romance Gay)Where stories live. Discover now