Tchau Tsukki

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   Eu não saberia descrever qual foi a sensação que me dominou no dia em que te conheci mesmo que eu fosse formado em letras.
   Você parecia tão seguro na terceira série, quando me salvou daqueles três garotos, que desde o primário faziam da minha vida um inferno com uma única palavra. "Patético" foi o que você disse. Sua presença forte foi o suficiente para assusta-los. Claro, sua altura exagerada para alguém da sua idade pode ter ajudado.
   Naquele momento, você estava tão distante do que eu era. Um moleque fraco e idiota, incapaz de se proteger sozinho. Queria poder ser mais como você, mais confiante e despreocupado.
   A partir daquele dia eu fiquei te observando de longe, tentando achar uma oportunidade para te agradecer, mas até pra isso eu era ruim. "Patético" seria a palavra certa.
   Você entrou para o clube de vôlei. Esse era um esporte que sempre me encantara, mas eu não tinha nenhum talento ou aptidão natural. Com um pouquinho de coragem que eu juntei durante uma semana, eu entrei no clube também. Era um ambiente confortável e agradável em minha opinião.
   Nossa proximidade se deu de forma incrivelmente natural. Você acabou se tornando meu melhor e único amigo.
Me surpreende que com o tempo, você não tenha cansado da minha companhia e simplesmente me deixado de lado.
   No ensino médio você continuou no clube e eu te segui como sempre. Nossos veteranos e os outros calouros eram pessoas incríveis, tinham habilidade e evoluíam rápido. Logo todos tínhamos virado uma estranha e incompatível família.
   Você não parecia confortável com a proximidade dos membros do time. Mas eu sei que esse é apenas o seu jeito de ser, as pessoas te acham frio e insensível. Mas você não é assim, não de verdade.
   Você não era egoísta quando dividia seu lanche comigo, porque eu esquecera o meu em casa. Você não era pretensioso quando aceitava me ajudar nas matérias em que eu tinha dificuldade. Você com certeza não era frio quando me abraçava apertado se algo me fazia chorar. Quando, raramente, me encorajava nos saques.
   Eu não sei bem quando eu me apaixonei por você. Talvez eu já o amasse desde sempre. Mas eu era covarde, se eu dissesse pra você e perdesse sua amizade, eu não teria nada.
   Então eu me calei pelos três anos do nosso ensino médio, nossa amizade permaneceu intacta e também perdeu a chance de se tornar algo mais. Cada momento que vivemos vai ficar bem gravado na minha memória e nas poucas fotos que temos juntos, nos jogos do time, as selfies após os treinos que Hinata e Suga insistiam em tirar.
   Aqui estou eu, colocando essa carta na sua mochila, no último treino do clube, no último dia de nosso último ano. Não me surpreende nem um pouco que eu não tenha coragem pra entregá-la pessoalmente à você.
   Vou sentir falta de tudo. Dos treinos exaustantes, da ansiedade e medo antes de um jogo importante, das risadas por alguma piada feita, da comemoração após uma vitória e das lágrimas que se seguiam de uma derrota.
   Acima de tudo, vou sentir falta de você. De ir pra sua casa jogar vídeo game, de assistir um filme de terror com você mesmo sabendo que não dormiria depois, de dormir na sua casa, de estudarmos juntos, das caminhadas ainda que silenciosas pra escola todo dia de manhã.
   Estou saindo primeiro e indo pra casa na frente. Não contei, mas esse provavelmente foi nosso último dia juntos. Passei em uma faculdade no exterior, e minha família se muda pra lá amanhã, consequentemente eu também.
   Não sou bom em despedidas. Não queria nunca ter que me despedir de você. Depois de tanto tempo juntos, eu vou estar sozinho mais uma vez.
   Apenas achei que deveria dizer que eu amo você. Sempre amei. Queria poder estar ao seu lado agora e sempre. Me desculpe por ser tão covarde.
   Esse é meu último "tchau Tsukki"

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