Atravessei a porta de entrada para me juntar à multidão. As luzes brilhantes de várias cores refletiam ao redor da pista de dança quando batiam no globo pendurado no centro do teto. Rapazes dançavam ao meu redor à medida que me misturava. Alguns jogavam os braços para cima e dançavam com a cabeça leve, outros faziam passos de danças mais tímidos, alguns estavam aos beijos e a música alta e suas batidas estrondosas abafavam qualquer outro ruído. Houve um tempo em que eu provavelmente estaria ali fazendo a mesma coisa: curtindo a noite com os amigos, dançando, bebendo algo ou, se rolasse o clima, aos beijos com outro rapaz. Mas esse tempo para mim se fora. Tinha assuntos mais importantes para tratar naquele momento.
Sabia exatamente onde encontrá-lo, pois ele seduzia suas vítimas no mesmo local praticamente todas as noites. Encostei-me ao balcão do bar e pedi uma bebida de saquê. Ao meu lado esquerdo dois rapazes bebiam algum drinque mais forte, e pude perceber a química rolando entre eles. A troca de sorrisos, os olhares que se encontravam — mas logo se desviavam —, as mãos tocando de leve o braço um do outro enquanto falavam, a língua umedecendo os lábios nervosamente e com desejo após um gole em suas bebidas... No entanto, inclinei-me um pouco para frente e olhei além deles. Mais adiante no balcão, um homem de uns 30 anos, cabelo escuro com um corte moderno, curto e com os fios sensualmente desajeitados, bebia (ou fingia beber) um copo de uísque. Sorri de lado e levantei minha bebida entregue há poucos segundos como que brindando. O homem, por sua vez, levantou seu drinque no mesmo gesto e piscou o olho para mim. Ótimo.
Tomei um gole, desencostei-me do balcão e passei pelos dois rapazes para me aproximar do homem de 30 anos. Encostei ao lado dele, levantando o copo novamente:
— Um brinde — disse baixinho, e nossos copos se encostaram de leve. A música alta da pista de dança tomava conta do bar também, mas eu sabia que mesmo assim tinha sido ouvido.
Ele apenas sorriu e fingiu beber novamente. Pousei meu copo na mesa e aproximei-me dele para poder falar em seu ouvido. Toquei sua orelha gelada como neve com meus lábios quando disse:
— Você está acompanhado? — Senti seu rosto frio roçando no meu quando ele se aproximou de meu ouvido e respondeu que estava sozinho. — Ótimo. Quer dançar?
Ele balançou a cabeça, em sinal negativo, e segurou meu braço direito firmemente com apenas uma mão ao puxar-me para mais perto. Nossos corpos se encostaram e senti sua temperatura gelada. Sua mão livre subiu pelo canto do meu braço esquerdo e pousou em minha nuca, onde agarrou meus cabelos escuros e lisos, puxando-os de leve. Seu rosto aproximou-se do meu e ele tentou me beijar, mas virei o rosto e seus lábios frios tocaram minha bochecha para logo em seguida descerem até o meu pescoço. Seria até sensual se eu não soubesse o que você é, pensei.
— Muito lotado — eu disse.
Seus lábios abriram-se num sorriso maroto, e ele concordou com a cabeça. Segurei sua mão e o conduzi pela saída dos fundos da boate. Mal havíamos saído, e o senti jogando-me contra a parede. Seus braços ficaram um de cada lado meu, prendendo-me. Estávamos em um beco deserto, com apenas umas caçambas de lixo e papéis jogados no chão. Puxei-o pela cintura e nossos corpos se colaram novamente. Começamos a nos beijar e percebi que ele estava bem animado com aquilo. Logo, o beijo tornou-se mais selvagem e ele começou a descer beijando o meu pescoço. Senti que estava para acontecer e levantei o rosto, fingindo querer mais. Meu coração acelerou, o sangue bombeando mais rápido nas veias, e percebi a excitação dele. O beijo virou uma mordida de leve, a qual durou alguns segundos. Sabia o que estava para vir em seguida e me preparei. Fechei os olhos e senti as duas pontadas no pescoço. A dor passou logo, e o segurei pela parte de trás dos cabelos. A princípio, ele usou uma de suas mãos para manter meu rosto erguido e o pescoço livre, mas forcei o puxão em seus cabelos e ele cedeu. Afastei-o de mim e ele me olhou assustado, com a boca suja de sangue e cambaleando um pouco. Aproveitei que o tinha enfraquecido por alguns segundos com o que tomara mais cedo — e agora corria pelo meu sangue — e agi rapidamente. Antes que ele tivesse tempo para reagir, tirei a faca que escondia dentro da manga de minha blusa e enfiei-a no seu peito com força. Ele soltou um gemido rouco e segurou minha mão, tentando fazer com que eu retirasse a faca, no entanto, não teve forças, e a mantive enfiada em seu peito até que ele amoleceu e caiu. Só então a retirei. Após limpá-la na minha camiseta, guardei-a no mesmo lugar de antes. Arrumei meu cabelo com as mãos, desamassei minhas roupas e andei na direção da saída do beco enquanto o corpo do homem se desmanchava em cinzas que o vento frio daquela noite de dezembro levou embora, deixando apenas roupas vazias no chão sujo.
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Graham - O Continente Lemúria
ParanormalPeter Graham é um caçador de vampiros, mas não foi sempre assim. Antes era um rapaz homossexual que enfrentava as dificuldades de uma sociedade dividida entre a aceitação, o respeito e a repugnância. Tinha amigos, amores, preocupações e medos como q...