A Névoa

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Já passava da meia noite quando todos foram se deitar. Não pudemos fazer uma fogueira, por recomendação de segurança do Tom, mas tínhamos uma lamparina a bateria que Alan tinha trazido, e pudemos ficar jogando conversa fora e bebendo envolta dela. Eu podia ouvir os risos sacanas na barraca do Troy e da Anna, os dois estavam totalmente chapados, é quase caíram ao entrar na barraca.
Alan ficou sério o tempo todo e quase não bebeu, não falou muito e foi o primeiro a ir se deitar. Eu sabia que ele estava chateado com a Susan, e eu reparava o como ela realmente se mantinha distante dele. Mas isso realmente não me incomodava, o que era terrível.

Só fui até minha barraca para pegar uma lanterna, e logo caminhei até q barraca da Susan, aberta.
A barraca dela era grande, maior que a minha, e caberia três pessoas tranquilamente. Assim que entrei ela logo fechou a abertura, deixando só uma fresta de ar, para não morrermos com o calor.
Preferimos não ascender nenhuma luz para que ninguém desconfiasse de nada.
– Ninguém te viu entrando né? – Perguntou aos sussurros.
– Não. O casalzinho vai ficar ocupado por um bom tempo agora e o Alan já deve ter dormido.
– Então... Eu estive pensando. Nós podíamos tentar encontrar essa mansão.
Ela parecia acanhada com a sugestão. Pensava que eu a acharia louca, mas ver o entusiasmo contido nela me fazia ainda mais atraído por ela. Ela era corajosa ao mesmo tempo que era racional. Eu gostava desse equilíbrio.
– Tem certeza? Tom disse que provavelmente foi construída no centro da reserva, em área restrita e não mapeada. Isso se existir.
– Jon, para! Vai me dizer que você não pensou nisso por nenhum momento?
– Como assim?
– Eu sei que não é só nessa lenda que você pensa...
Eu fiquei paralisado sem entender exatamente o que ela queria dizer, até que ela se aproximou e meu coração bateu bem mais rápido. Os lábios dela eram tão alucinantes quanto qualquer vodka cara que Troy pudesse comprar. Ela se afastou e sorriu.
– Vamos procurar juntos por essa mansão... E quando chegarmos lá– disse mordendo o lábio inferior de um jeito que me fez corar ainda mais– Eu vou realizar o seu maior desejo...
– E... E.. E q-quando nós vamos começar a procurar?
Ela riu da minha repentina gagueira. Um riso meigo.
– Amanhã de manhã. Acredito que aquela trilha do outro lado do lago leve mais adentro na floresta. De certa forma ainda estaremos em uma trilha, então vai estar tudo bem. Se uma hora a trilha acabar ou desviar do nosso destino... Bom, até lá nós pensamos em outra coisa.
– Tudo bem... Bom, então vou voltar pra minha barraca. Melhor acordarmos cedo amanhã.
No momento em que eu ia abrir a tenda, ela me puxou pelo braço e me deu um último beijo.
– Boa noite.
Respondi rouco.
– Boa noite.
Foi difícil pegar no sono com tudo aquilo na cabeça, mas o último acontecido era um sedativo pra essa loucura toda.

Mal pude perceber quando amanheceu. Olhei meu relógio e já eram 11:00. Abri a barraca apressado, pensando que meus amigos poderiam ter me deixado dormir até mais tarde pra me sacanear no café da manhã ou algo assim... Não era bem isso.
Todas as barracas ainda estavam fechadas, mas reparei isso com muita dificuldade, pois a névoa mais densa que eu já havia presenciado em toda a minha vida estava sobre nós. Eu só sabia que o lago ainda estava ali pelo barulho da água em si, do contrário, poderia jurar que tivesse desaparecido naquele manto branco.
O céu de repente estava nublado. Era impossível, com o sol escaldante e o céu limpo do dia anterior. Mas eu só pensei no nosso atraso. Na minha nova busca com Susan e os outros.
Corri até a barraca dela e a acordei freneticamente. Antes que ela pudesse perguntar, eu abri mais a entrada da sua barraca e ela ficou paralisada.
– Como vamos continuar a trilha agora?
– Não vamos. – Balancei a cabeça olhando ao redor, sem poder ver muita coisa.
– Você desistiu?
– Não, mas não sou burro. Se sairmos e acontecer alguma coisa nesse nevoeiro, vai ser quase impossível pedirmos ajuda, mesmo estando na trilha. Fora que estaremos ainda mais longe da recepção do parque.
– Você quer ir em bora?– Ouvi a decepção na sua voz.
– Não... – Ela voltou a me encarar, percebi que gostou da resposta.– Mas precisamos de uma lanterna mais potente, as nossas não vão encarar bem esse nevoeiro. E também seria bom avisarmos o Tom de que vamos adentrar mais na mata, assim teremos um suporte de fora caso aconteça algo.
– Ele vai tentar nos impedir se souber que estamos indo pra uma área restrita. Lembra que ele disse que essa mansão foi feita na mata mais fechada?
Dei um sorriso de canto pra ela.
– Ele não precisa saber aonde estamos indo, só o caminho que estamos seguindo. Se algo mais comprometedor acontecer, podemos dizer que nos perdemos.
Ela sorriu e passou a mão no meu cabelo.
– Você é um gênio.
Parecia um sonho... Ela agindo assim comigo... Ela que até pouco tempo era apenas uma amiga. Agora tudo estava mudando. Era estranho demais pra desconfiar na época. Mais do que isso... Era bom demais.
Saí da barraca e fui me trocar. Ela se prontificou a acordar os outros. E eu já tinha um plano.

Raízes DespertasOnde histórias criam vida. Descubra agora