Conforme avançamos na trilha, eu me surpreendia em como o clima continuava o mesmo. A névoa ainda cobria tudo, opressiva e densa, e o céu ainda era tão cinza quanto o céu britânico.
Eu olhava para os lados e eram poucos os troncos que eu conseguia enxergar através desse véu natural... Ou seria algo não natural? Não fazia sentido aquele clima.
Eu estava acabado. Minha vontade de correr mata adentro atrás dele tomou conta de mim. Eu me sentia culpado... Éramos amigos de infância, eu tomei dele a garota que ele gostava e omiti tudo... Eu me sentia um monstro. Um egoísta desgraçado.
Susan não falava com ninguém, nem mesmo comigo.
Logo eu fiquei um pouco pra trás, e passei a lanterna para ela.
– Vamos revezar.
– Precisamos voltar...
– Nada de voltar, vamos continuar... Ele vai voltar.
Ela não insistiu, mas estava abatida. Parecia preocupada com o bem estar de Alan... Mas também com o nosso se o encontrássemos novamente.
Caminhei ao lado de Troy, ele estava carregando a sua mochila e a de Anna, que acabara de se juntar com Susan e seguiram abraçadas.
– Obrigado por me ajudar.
Ele era um babaca, sorria até em um momento desses.
– Relaxa... Era isso ou o surtado ia te matar.
– Acho que não ia chegar a tanto.
Ele me parou com a mão enquanto as garotas continuavam lentamente.
– Ele ia te matar irmão, aquilo não era carinho de amigo.
– Não era ele.
Ele me encarou e ascendeu outro cigarro.
– Você andou bebendo ?
– To falando sério. Os olhos dele...
– Como assim?
Olhei para a distância que as garotas estavam.
– Os olhos dele estavam vermelhos...
– Tipo noiado?
– Não... Como se fosse sangue mesmo... Brilhantes.
Ele colocou a mão no meu ombro e disse.
– Para de beber escondido – Jogou o cigarro no chão e amassou com o pé– Vamos antes que as duas comecem a surtar.
Segui o resto do caminho, sem dizer mais nada.Já era noite quando chegamos no fim da trilha. Ela se estreitava até ser impossível passar sem se enroscar em galhos e plantas menores.
– Acabou– Disse Anna.
Estávamos suando e exaustos. Com o medo inconsciente de sermos surpreendidos por aquele Alan irreconhecível, apressamos o passo até quase corrermos.
Agora nos encontrávamos no completo escuro, sem direção a não ser o retorno, e com a bateria da lanterna quase no fim.
Montamos acampamento ali, no meio da trilha. Com medo, sem sono e sem saber o que esperar.Estava alto, e eu podia ver toda a floresta, como nas fotos aéreas que vi no site do parque. Mas um barulho ensurdecedor, como um grito agudo de algo indescritível, rugia por toda parte. E eu mergulhei...
Mergulhei veloz através do ar nebuloso até passar por folhas, por galhos, por troncos, por raízes e seguir arrastando pelo solo pegajoso de uma terra que o sol quase nunca aquece.
Eu atravessei a madeira refinada. Eu atravessei a tábua, o assoalho, o escuro... Escuro...Eu vejo você...
Acordei suado. Agora eu já havia visto... A floresta estava na minha cabeça, e o caminho era claro como o sol.
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Raízes Despertas
HorrorUm grupo de amigos em busca de diversão e tranquilidade em um parque ambiental. Talvez a calmaria desperte interesses incomuns entre o grupo ou desperte coisas mais frodundas quanto as raízes no solo.