Foi uma manhã difícil, principalmente para abandonar a segurança da trilha. A mata era totalmente diferente dos bosques limpos, laterais da trilha. Era fechada por trepadeiras, cipós secos e pequenas árvores finas e resistentes. Não tínhamos um facão para abrir caminho, então avançamos lentamente mata adentro, quebrando galhos e limpando as folhas na nossa frente, criando uma trilha improvisada.
– Isso já passou dos limites, Jonas. Vamos voltar e chamar a polícia.– Disse Anna nervosa.
Troy a abraçou por trás e beijou seu pescoço contra a sua vontade.
– Pra que envolver polícia nisso gata? Cade seu espírito aventureiro?
– Morreu junto com esse inferno de passeio!
Ela empurrou ele e começou a voltar para a trilha original. Susan correu e segurou ela pelo braço.
– Se voltarmos agora e chamarmos a polícia, vamos ser suspeitos. Temos que achar o Alan nós mesmos.
– Ficou louca Susan?!– Ela se soltou bruscamente e a empurrou– Pra começar, ele não teria fugido se você não tivesse feito cú doce! Qual o seu problema ??
– Qual o meu problema? –Protestou Susan furiosa– O que eu não querer nada com ele tem a ver com ele ter surtado?! Eu sou obrigada a ficar com quem eu não quero??
– Você nem olhava pro Jonas a alguns dias, e do nada vocês estão se pegando na barraca a noite!
Tudo ficou em silêncio.
– Como você sabe disso?... – Perguntou Susan perplexa.
– Eu e Troy estávamos passando pela sua barraca a noite, eu não queria ir mijar sozinha. E você deixou a porta aberta.
Então ela olhou pra mim com repulsa.
– E você... Se fez de amigo muito bem. Que belo ator você é Jon. Prêmio do amigo mais falso.
– Eu não tenho nada a ver com a rejeição dele. Eu e a Susan estamos juntos – Peguei na mão dela ao meu lado e apertei– E é isso aí. Alan vai ter que aprender a lidar com isso.
Eu mesmo não podia acreditar que tinha dito aquilo. Por que eu agi assim naquele dia? Eu não sei dizer.
Ela já mostrava a descrença clara ao me encarar, e a até Troy parecia impressionado. Ela pegou a mochila da mão dele.
– Avisaremos ao Tom aonde vocês estão. Vamos Troy.
Ela seguiu de volta. Troy balançou a cabeça negativamente e a seguiu.Continuei a caminhada sozinho com Susan. Ela mal olhava pra mim, seu olhar não saia do chão a sua frente enquanto andava. Não conversamos por um bom tempo depois disso, e quando a conversa voltava, sempre o assunto acabava em Alan.
Já com as pernas doendo de tanto andar, e irritado pelo nevoeiro denso que não cessava, decidi parar novamente. Foi quando reparei...
Havia uma mancha negra nas costas da minha mão. Parecia uma mancha de pele, dessas de nascença, mas eu nunca tive uma dessas, e essa... Essa era enorme, negra e com pequenas veias negras saindo de suas bordas.
Assustado, coloquei uma luva de couro que trouxe na minha mochila em caso de frio. Não queria que Susan visse. As coisas já estavam estranhas demais.
– Vamos parar um pouco. Precisamos descansar, e já está anoitecendo– Disse olhando para o meu relógio, que já passava das 19:00.
Não ouve discussão. Para nos agilizarmos em caso de emergência, montamos apenas uma barraca (a minha no caso) e a dividimos.
Parece repugnante o que vou dizer agora, mas eu estava amando aquilo mais do que qualquer outro sentimento negativo.
Era como se eu fosse um animal. Cru em minha natureza, com a fêmea mais desejada ao meu lado. Pronta para mim.
Eu sei... Eu sei...
Eu era um merda. Um maldito traidor, sem perdão e sem vergonha alguma... Mas eu só posso me redimir hoje contando a verdade, e essa é a verdade... Eu amei ter o belo Alan fora do caminho e a linda Susan dormindo ao meu lado.... Eu estava em uma escada...
Era uma escada fria, de madeira clara e resistente, com tábuas tão novas quanto eu. Eu deslizava por ela, como se eu não fosse nada próximo a um humano. Dessa vez não havia o grito agudo que me deixou louco da outra vez... Não.
Desta vez era tudo silencioso, exceto pelas batidas lentas mas altas do meu próprio coração pulsante.
A cada degrau descido, o frio na minha pele aumentava e a luz que iluminava os degraus diminuía. Eu estava mergulhando na escuridão. E eu sabia que era para lá que eu devia ir... Era meu lugar... Era aonde eu pertencia.
Quando acordei, as imagens estavam frescas e penduradas no cordão da minha mente. Era noite ainda, mas a barraca estava espaçosa de mais. Saí para procurá-la em volta, mas nem com a pouca luz da lanterna eu encontrei algo além de árvores.
Susan havia me deixado.
Susan sumiu.
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Raízes Despertas
TerrorUm grupo de amigos em busca de diversão e tranquilidade em um parque ambiental. Talvez a calmaria desperte interesses incomuns entre o grupo ou desperte coisas mais frodundas quanto as raízes no solo.