A Mansão

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Eu fiquei por horas sentado, encolhido dentro da minha barraca enquanto o dia ganhava espaço.
Eu tinha medo por ela, tinha medo por mim e medo por qualquer coisa que envolvesse Alan.
Era apenas uma simples viagem, e o grupo estava disperso, com um membro desaparecido ou pior.
Você deve estar pensando "por quê esse idiota não voltou pela trilha como fez Anna e Troy? Por que ele não voltou até chegar a cabana do Tom e pedir ajuda?"
Eu pensei em fazer tudo isso, mas algo me impulsionava a não retroceder um passo no caminho que eu já havia percorrido. Meus poucos minutos de euforia racional me fizeram tentar ligações para Anna, Susan, telefone oficial do parque, polícia... Mas não existia sinal. Eu estava nas entranhas daquela floresta, e os únicos sons que ouvia eram os que a mesma desejava me passar.
A névoa nunca se dissipou, continuava lá dia e noite, mesmo sem estar frio, e aumentando minha tensão.
Passei três noites no mesmo lugar, esperando que talvez ela voltasse, mas não voltou. Os lapsos do meu último sonho se repetiam constantemente na minha cabeça, mesmo quando tentava me focar em outra coisa.
Resolvi marcar o local, deixando minha blusa amarrada em uma árvore próxima e continuei abrindo caminho pela floresta, esperando poder encontrar Susan logo, ou que ela encontrasse o caminho de volta.
Andei por horas a fio, conversando comigo mesmo. A solidão nos meus passos começou a trazer a tristeza, e a tristeza trouxe a cobrança, e assim passei a refletir e me condenar por cada ato impensado naquela viagem. Na falta de apoio ao Alan; Na traição de confiança junto a Susan; Na discussão com a Anna... Na busca ridícula por uma lenda urbana de uma área florestal.
Que tipo de idiota eu era? Eu estava sozinho, perdido no meio do mato! Minha água estava acabando, eu não tinha comida comigo, e minha única fonte de luz para a noite logo acabaria.
Nesse limbo de pensamentos eu virei uma noite andando no escuro, sem parar para dormir. Eu estava morrendo de sono, mas o medo de parar e ser pego por algo que eu não quisesse conhecer no meio do nevoeiro era um estimulante para continuar andando.
Ao que meu relógio indicava como 02:32, na madrugada nebulosa, a fraca luz da lanterna me revelou ao longe uma superfície diferente no meio das árvores.
Meu coração disparou, e minha primeira reação foi me esconder atrás da árvore mais próxima após desligar a lanterna. Minha mente insistia que era meu amigo. Com seus olhos vermelhos furiosos, pronto para me pegar.
Não sei quanto tempo fiquei atrás da árvore controlando minha respiração até conseguir olhar novamente. Com muita coragem reunida, consegui ligar a lanterna e avançar, em passos curtos.
Conforme fui me aproximando, puder perceber que se tratavam de paredes brancas, tão próximas às árvores, que as cercavam como um segundo muro de proteção. A casa era realmente alta, três andares, e larga. Algumas partes estavam sujas, desgastadas e principalmente tocadas pelo lodo, já que a mata nesse ponto era tão densa e as árvores tão próximas em suas copas, que poderiam impedir que a maior parte da luz do sol entrasse ali de dia.
Comecei a dar a volta cuidadosamente, pois logo percebi que estava em uma das laterais da mansão. Enquanto andava, revezava a iluminação entre o que havia na minha frente e nas janelas altas da mansão. Obviamente estava abandonada, e não vi nenhum movimento ou luz de lá de dentro.
Mas a presença daquela propriedade me oprimia. Já era estranho uma coisa como aquela estar até muito bem conservada para a situação e o lugar em questão, mas fora a isso, era como se, perto da mansão, algo estivesse me chamando pra baixo. Abaixo da terra, abaixo da casa.
Logo cheguei no que seria a porta de entrada principal. Duas grandes portas de madeira colonial, pintadas de preto, e incrivelmente pouco gastas.

Consegui entrar após muita força, as portas eram pesadas demais e eu já não comia a um tempo.
Logo que encostei a porta, não resisti. Vomitei no meio da escuridão. Muito tempo sem comer tinha me deixado frágil, e agora andar estava ficando difícil também.
Bebi toda a água que ainda tinha no escuro, já que era o que restara. Ascendi a lanterna e me impressionei com o tamanho do salão de entrada.
Mesmo escuro e poeirento, com folhas de plantas a volta, continuava impressionante. Com certeza caberiam 100 pessoas alí caso uma festa fosse feita.
Reparei em duas escadarias que se entrelaçavam mais ao fundo e subiam em espiral para os dois andares superiores.

Ao subir as escadas, me impressionei com a falta de rangidos. Tirando a poeira, tudo estava bem conservado. Até a tensão da escuridão sumiu.
No segundo andar, haviam dois corredores, um a direita e outro a esquerda. Pegando o primeiro, pude observar que todas as portas estavam trancadas. Sem alternativa, voltei para verificar o corredor da esquerda, e todas as portas estavam abertas.
Os quartos eram grandes e com muitas correntes de ar, pelas frestas do assoalho e por algumas janelas entreabertas. No centro de todos eles haviam verdadeiras montanhas de bonecos de pano de diversas aparências. Os da base eram velhos e sujos, mas quanto mais no topo eu iluminava, mais novos e limpos eu via.
– Mas que merda é essa?...

Senti algo passar correndo por mim no corredor. Saí do quarto que estava e olhei rapidamente para o início dele. A iluminação da lanterna só ia até certo ponto, e no seu limite eu podia identificar um vulto torto, fino, olhando para mim.

Foi a última coisa que me lembro nesse ponto. E daí pra frente, tudo ficaria mais claro, da forma mais escura.

Raízes DespertasOnde histórias criam vida. Descubra agora