A Câmara

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Fui levado até um porão separado do outro, aonde havia um local muito parecido com uma caldeira gigante, circular, com grossas paredes de ferro e uma porta idêntica a de um cofre com três fechaduras distintas.
A porta foi aberta por um deles, e por dentro vislumbrei um quarto circular. Havia lâmpadas que iluminavam tudo, uma enorme cama de casal com lençóis e travesseiros de cores branca e negra. Uma pequena mesa de jantar com apenas duas cadeiras se encontrava do outro lado. Haviam travessas de prata fechadas em cima e jarros de vidro com o que parecia ser vinho. Eu entrei lentamente e observei cada canto daquele lugar, e percebi que era extremamente alto também, como um túnel de elevador muito largo. Além das lâmpadas eu podia ver uma luz mais fraca no teto distante, que deduzi logo serem entradas de ar, já que eu estava praticamente em um pequeno bunker. Ouvi os estalos da fechadura atrás de mim.

A porta havia sido fechada e a mulher estava do lado de dentro comigo, me encarando com um sorriso estreito e olhar gelado.
Ela fez um gesto para que eu sentasse na mesa. Não havia saída e me encontrava sozinho com ela. Achei melhor continuar agindo como alguém que gosta de viver.
Assim que sentei, ela pegou meu prato e abriu as travessas uma por uma, tirando uma porção para mim.
Pude reparar que havia um ensopado de carne com um cheiro maravilhoso, borbulhando na travessa.
Um delicioso purê de batatas com ervilhas, macarrão com alho e queijo prato derretido e vinho farto em 4 jarras no centro da mesa.
Assim que ela me devolveu o prato, pegou seu assento do outro lado e sentou ereta, me observando atentamente.
– Vai esfriar. – Sua voz era suave e calma, mas também havia a mesma frieza do rosto nela.
– Você não vai comer? – Disse com uma falsa calma, reparando que só havia um prato, para mim.
– O jantar é só para você.
– Quem preparou?
– Não é importante saber.
– Quem são vocês...?
– Não é importante saber.
A comida do prato voou intocado para o chão a direita. O fino prato de porcelana se quebrou no chão depois que eu o arremessei e levantei de um salto da cadeira.
– Quem são vocês e o que fizeram com o Troy?!?!
– Vou ter que pegar outro prato – Disse ao levantar calmamente após meu grito. Dei a volta rapidamente na mesa e a agarrei pelos ombros. Fiz ela olhar pra mim e falei bufando a poucos centímetros de seu rosto.
– Ou você responde as minhas perguntas ou eu juro que atravesso aquele garfo no seu coração, sua vadia imunda!!!
Ela deu um sorriso aberto. Parecia feliz e seus olhos se iluminaram ao olhar para os meus. Eu conseguia sentir o meu coração martelando no meu peito de fúria. Nunca imaginei que ficaria assim, mas a vontade de agredir, de esmurrar... De matar. Aquela mulher... Eu queria acabar com ela ali mesmo.
Ela colocou as duas mãos sobre meu rosto e sussurrou emocionada.
– Já está acontecendo... Ele já está em você.
– Do que você está falando?...
Ela deslizou uma das mãos do meu rosto e tirou a minha mão direita do seu ombro. Não mostrei resistência enquanto ela examinava minha mão negra.
– Ele o escolheu.
– O que..?
Não ouve tempo para mais perguntas. Ela me beijou, com um calor que nem mesmo Susan tinha.
Suas mãos deslizaram pelo meu corpo, e ela foi me empurrando lentamente enquanto devorava minha fúria e trazia a tona o meu desejo.
Só quando eu caí deitado na cama e a vi em cima de mim que realmente tomei nota o como ela era exageradamente linda. Seu corpo... Seu rosto... Seus cabelos... Sua boca... As curvas do seu corpo... Eu podia imaginar aquilo por baixo do seu manto e o volume por baixo das minhas calças poderia me trair.
Ela saiu de cima de meu corpo, e de pé na ponta da cama, despiu seu enorme manto.
Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo... Uma mulher tão bela... Nua na minha frente.
Meu desejo explodiu em mim. Eu desejei Susan durante todo o passeio, mas naquele momento ela simplesmente sumiu da minha mente. Só aquela bela loira desconhecida tinha vez enquanto me beijava já deitado, seus seios fartos comprimidos contra meu peito. Ela roçava suas partes em mim e suspirava.
Daí em diante minha mente entra em confusão novamente. Lembro de algumas cenas...
Lembro de beijar todo seu corpo e vê-la gemer. Lembro de me despir enquanto ela mesma me ajudava com isso. Lembro das jarras de vinho que bebemos juntos... E das formas que bebemos esse vinho...
Foi inebriante... Enlouquecedor... Quente.
Que Susan me perdoe, mas acredito que dela eu nunca teria o que aquela desconhecida havia acabado de me dar.
Horas se passaram, e em dado momento, estávamos nus ainda. Ela sentava na cama apoiada na cabeceira enquanto eu estava deitado com a cabeça em seu colo, sendo acariciado por ela.
– Qual é o seu nome?... – Disse olhando para a porta.
– Mônica.
– O meu é Jonas.
– Eu sei.. – Disse me dando um sorriso carinhoso enquanto enrolava uns fios do meu cabelo eu seus dedos delicados.
– Do que se trata tudo isso? Aonde estou?... Quem são vocês?
– Se trata do bem maior. Somos os Filhos e você está no lugar que deve estar.
– E meus amigos?
– Você verá.
Levantei lentamente e me sentei na beirada da cama, de costas pra ela.
– Eu tenho um amigo... Bom, não sei mais se é meu amigo. Eu cometi... Cometi um erro com ele.– Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu era apenas um muleque idiota, desabafando com uma desconhecida que tecnicamente, também havia me sequestrado.
– Nós sabemos o que você fez.
– Sa-sabem?...
– Sim. Mas não se condene. Cada passo foi calculado. Você não fez nada de ruim. Tudo que aconteceu gerou seu caminho até aqui. Alegre-se.
– Eu... Tenho um outro amigo– Olhei para ela suplicante– O Troy! Lembra?
Eu fui para cima de você perguntando dele...
Ela continuou me olhando.
– Mônica... – Me arrastei pela cama até ficar próximo dela e a encarei nos olhos– Eu só quero saber onde estão meus amigos. Estou longe deles a tanto tempo que... Me diga que estão bem. Diga que estão a salvo.
– Troy nunca esteve longe de você. Hoje vocês são um só. A fusão de vocês ocorreu des de que você chegou aqui...
Os pontos se ligaram.
–... e se concluiu...
A carne sempre esteve temperada...
–... esta noite.
Olhamos juntos para a mesa de jantar, com o ensopado de carne borbulhante. Ela com um olhar vazio, eu com o maior nojo e remorso, uma sensação excruciante.
Desmaiei. A conclusão dos fatos era demais pra mim.
Troy se fundiu a mim, e a fusão sempre fora saborosa.

Raízes DespertasOnde histórias criam vida. Descubra agora